Recorde de mortes por Covid-19. Hospitais lotados, médicos “escolhem” quem salvar


Em menos de um mês, o Brasil teve dois ministros da Saúde, o que mostra um claro despreparo para lidar com a epidemia do novo coronavírus. O resultado disso levou o país a registar mais de mil mortes provocadas pela Covid-19.

Segundo especialistas, esse cenário está longe de ter um fim, visto que sequer atingimos a curva de pico. Em 24 horas, 1.179 vidas se foram não apenas por causa de um vírus, mas pela falta de gestão na pasta da saúde do governo federal.

Os dados, relativos a ontem (19), foram divulgados pelo Ministério da Saúde, que está sendo gerido por um militar leigo em saúde pública.

O Brasil já é o terceiro país do mundo com o maior número de infectados por Covid-19, segundo a BBC News Brasil. Em 17 de março, eram 17.971 óbitos, contados desde o primeiro registro, em 17 de março. O total de casos é 271.628 e 100.459 vidas foram recuperadas.

Hospitais lotados, faltam leitos

Com tantos casos registrados em todos os estados brasileiros, os profissionais de saúde já estão vivendo os piores dias de suas profissões. Os hospitais estão lotados e não há leitos nas unidades de tratamento intensivo (UTIs) para atender a todos, o que tem levado médicos a escolherem quem vai para a internação quando surge uma vaga.

A BBC conversou com uma médica (que não teve o nome revelado) que atende em um dos maiores hospitais públicos de Fortaleza. A médica contou à reportagem que:

“Os leitos mais do que dobraram, mas não conseguimos dar conta da demanda. Temos pacientes intubados na enfermaria, na emergência. Já teve paciente que ficou mais de duas horas rodando intubado em ambulância porque não tinha vaga”.

Mas não apenas a rede pública já vive esse drama. Nos hospitais privados, tampouco a situação é diferente. Outra médica consultada pela BBC, que atende na rede privada, desabafou:

“A gente não precisava fazer essa ‘escolha de Sofia’. Mas agora estamos vivendo cada vez mais isso. E é muito difícil também porque não somos treinados para tomar esse tipo de decisão, para priorizar quem tem mais chance de se recuperar porque é mais jovem ou saudável. A gente aprende que tem que salvar vidas.”

A escolha de Sofia: decidir quem salvar

Para apoiar os médicos nessa dura e difícil decisão, as associações médicas brasileiras estão orientando que ela seja tomada com base em critérios científicos e uniformes. A coordenadora da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), Lara Kretzer, explica que essa ação conjunta entre as associações nasceu para que os médicos não façam essas escolhas em segredo, mas com base em critérios éticos justificados pela ordem jurídica do país.

Além disso, ela destaca que os médicos não podem ficar com essa responsabilidade sozinhos, como se o problema tivesse que ser varrido “para debaixo do tapete”. É preciso que a sociedade brasileira entenda a complexidade do problema e as consequências dele.

Por isso, a forma que todos nós temos de ser corresponsáveis pela epidemia da Covid-19 no Brasil é cada um dar a sua contribuição. A população, de sua parte, deve contribuir tomando as medidas de higiene e isolamento social, a fim de evitar a superlotação hospitalar e, em consequência, a “escolha de Sofia”.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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