Dia do Livro e da Poesia: com a leitura podemos sair de nós mesmos ao conhecer outros mundos


No fim deste mês, comemoram-se duas datas importantes: o Dia Nacional do Livro e Dia Nacional da Poesia.

A poesia é essencial para a vida e o livro é onde, contemporaneamente, ela mais se materializa, embora tenha nascido na oralidade. O livro é um suporte que nos leva a desenvolver a nossa capacidade de ser outro(s).

Dia Nacional do Livro

O livro é um capítulo à parte na história da Humanidade, ou melhor, o capítulo à parte. Não à toa, o primeiro livro do qual se tem registro é a Bíblia, detentor do conhecimento sobre o mundo.

De fato, o livro é símbolo de sabedoria e, como tal, a própria Bíblia foi (e é) usada como o livro que guarda “a verdade” sobre a vida. Como não havia outros livros para que tal verdade fosse confrontada, o livro sagrado reinou absoluto por anos. Até que o alemão Johann Gutenberg, no século XV, inventa a máquina de impressão tipográfica, capaz de reproduzir textos escritos, inaugurando a imprensa e, com ela, a difusão do conhecimento.

Com a impressão, a escrita torna-se supervalorizada e o livro, um arquivo literário. Surge com ele a figura do autor, cujo nome está impresso na capa, como o detentor do conhecimento que ali será transmitido quando aberto.

O Dia Nacional do Livro, no Brasil, é comemorado em 29 de outubro para homenagear a fundação da Biblioteca Nacional do Livro, em 1810, pela Coroa Portuguesa. Na época, D. João VI trouxe para o Brasil milhares de peças da Real Biblioteca Portuguesa, dando origem à Biblioteca Nacional do Brasil.

A edição de livros no Brasil foi muito tardia. Ela começou em 1808, quando a Coroa Portuguesa veio para a sua principal colônia e fundou a Imprensa Régia. O primeiro livro a ser editado na terra brasilis foi “Marília de Dirceu”, do poeta Tomás Antônio Gonzaga.

Dia Nacional da Poesia

O Dia Nacional da Poesia é comemorado oficialmente, no Brasil, em 31 de outubro, para homenagear um dos principais poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade, que nasceu nessa data. Mas esta homenageia todos os poetas e, principalmente, a poesia, que pode ser encontrada na prosa e nas coisas mais prosaicas.

A concepção de poesia foi mudando com o passar do tempo. Para Aristóteles, a poesia é um gênero trabalhado para a composição de mitos (história ou fábulas) fazendo uso do ritmo, da linguagem (canto) e da harmonia (metro). Da Grécia antiga, chegaram até nós os poemas épicos de Homero a “Ilíada” e a “Odisseia”.

Em relação à poesia moderna, o crítico e também poeta Octavio Paz diz em sua obra “O Arco e a Lira”:

”A história da poesia moderna retrata um contínuo desgarramento do poeta, dividido entre a moderna concepção do mundo e a presença às vezes intolerável da inspiração. Os primeiros a padecerem deste conflito foram os românticos alemães. Mesmo assim, foram os únicos que enfrentaram com plenitude e lucidez o problema e os únicos – até o movimento surrealista – que não se limitam a sofrê-lo mas tentaram transcendê-lo”.

Um dos maiores críticos contemporâneos, que veio a falecer esta semana, Harold Bloom, disse, em uma entrevista publicada no site Fausto Mag, que:

Uma das funções da leitura é nos preparar para uma transformação. Lemos para nos encontrar, de um modo mais intenso e críptico do que poderíamos fazê-lo não fosse a leitura.”

Através da leitura podemos sair de nós mesmos ao conhecer outros mundos, outras pessoas, outras vidas.

Então, para celebrar o Dia Nacional do Livro e o Dia Nacional da Poesia, fica a dica de Bloom:

“Quem não tem contato com os grandes clássicos perde tudo.”

A seguir, um poema (que continua atual) de um clássico da nossa literatura nacional, Drummond, homenageado do Dia Nacional da Poesia:

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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