Candida auris: tudo que você precisa saber sobre o superfungo


Desde que a Anvisa fez o alerta de que um paciente no estado da Bahia está sendo investigado com suspeita da presença do fungo Candida auris, super-resistente e fatal, como primeiro caso encontrado no Brasil, as pessoas ficaram preocupadas e também curiosas.
Afinal, o que se sabe sobre esse fungo?

O que é Candida auris?

Candida é uma família de fungos (leveduras) que vivem na pele e dentro do corpo humano.
Existem vários tipos de Candida, e o fungo super resistente, conhecido como Candida auris é muito menos comum do que outros tipos de Candida, como Candida albicans, que pode causar infecções fúngicas como aftas ou candidíase, por exemplo.
Já a Candida auris é uma espécie fúngica recém-reconhecida e emergente e, desde que foi descoberta, tem causado infecções invasivas em todo o mundo e tem sido implicada em surtos hospitalares de difícil controle. 
A comunidade médica descreve o fungo como uma “infecção fúngica às vezes mortal e frequentemente resistente”.

Ameaça global

Por ser um tipo raro de fungo que, se em contato com a corrente sanguínea pode causar doença severa e grave, tornou-se uma ameaça emergente de saúde porque, por ser ultra resistente aos medicamentos antifúngicos comuns, apresentou alto grau de mortalidade.
Portanto, 3 são os fatores que levaram o fungo a ser considerado uma ameaça global:

  • multirresistente, a vários medicamentos antifúngicos comumente usados ​​para tratar infecções por Candida;
  • difícil identificação com métodos de laboratório padrão e
  • pode ser identificado incorretamente em laboratórios sem tecnologia específica;

Os fatores acima levaram a surtos em ambientes de saúde e hospitalares, o que facilita a disseminação porque também resistente a produtos de limpeza, além de sobreviver por tempo, ainda indeterminado, em ambientes úmidos e secos.

Surgimento

Nenhum especialista até agora conseguiu apontar a origem ou surgimento do fungo Candida auris.
O que se sabe é que ele foi descrito pela primeira vez em 1996 e identificado em 2009, em um paciente japonês que tratava uma patologia no conduto auditivo externo, sendo que, após identificação em vários outros países, o fungo ficou associado como causador de candidemia, otite média crônica ou otite média e infecções do trato urinário.
Desde então, o superfungo teria colonizado e infectado pacientes em quase todos os continentes (exceto Austrália e Antártica), mostrando o desafio de tratar e monitorar o Candida auris, principalmente no manejo de surtos hospitalares, onde também o seu surgimento foi associado.
Depois da realização do sequenciamento genético completo do C. auris, alguns estudos apontam que seu surgimento ocorreu quase que simultaneamente em quatro ou mais regiões geográficas, em vez de se espalhar a partir de uma única fonte, como pensado anteriormente, com a descoberta do paciente japonês, supostamente o primeiro infectado.
Ainda que o sequenciamento do genoma possa ter demonstrado que a variedade e mutações sugerem origens geográficas diversas, não foi possível apontar onde ele surgiu nem de que forma.
É um mistério para os cientistas que têm associado os surtos às evidências de casos hospitalares. Mas, algumas hipóteses vêm sendo ventiladas para explicar o surgimento repentino desse fungo:

  • simplesmente não foi reconhecido antes, tese pouco aceita porque há centenas de revisões e isolamento de genomas de Candida, em 4 continentes e o Candida auris não havia sido identificado antes de 2009;
  • aumento da seleção natural de antifúngicos em humanos e / ou animais e / ou no ambiente pode ter causado o surgimento de uma nova Candida multirresistente, como aconteceu com a superbactéria, que tornou-se resistente aos antibióticos comuns.
  • aumento do uso de antifúngicos na agricultura e no ambiente clínico pode ter levado a uma resistência emergente através da disponibilidade de antifúngicos com perfil de toxicidade melhorado, o que pode ter contribuído para a expansão das prescrições de antifúngicos para uso profilático e empírico. No entanto, estudos apontam que somente a pressão por seleção natural pelo uso de antifúgico, não se sustenta, porque as espécies não- albicans de Candida têm aumentado desde a introdução do fluconazol, sem demonstrar resistência.
  • Mudanças nos nichos ecológicos do fungo C. auris podem ter causado mudanças nas características intrínsecas como atributos de virulência, termotolerância e tolerância ao sal e agregação em aglomerados difíceis de dispersar, podem ter permitido o surgimento desta espécie recém-reconhecida causando infecções humanas e persistência em ambientes hospitalares.

Propagação e transmissão

A propagação do Candida auris não é compreendida inteiramente e estudos apontam, inclusive, a possibilidade de pessoas assintomáticas transmitirem o fungo, através de mãos, roupas ou equipamentos.
Os surtos até agora foram relacionados a ambientes hospitalares, e pacientes que fazem uso de equipamentos de longo uso, como cateteres, por exemplo, principalmente, pela forte resistência da levedura, não somente a medicamentos, mas também a diversos tipos de detergentes e desinfetantes.
Além da resistência aos produtos de limpeza, também foi relatada a sua resistência ao tempo, podendo sobreviver por até várias semanas ou meses sobre superfícies contaminantes.

Fatores de risco

Alguns fatores de risco podem incluir:

  • Cirurgia recente
  • Diabetes mellitus;
  • Antibiótico do largo-espectro ou uso antifúngico;
  • Uso recente de linhas intravenosas e de câmaras de ar;
  • Uso recente das câmaras de ar da respiração ou de alimentação e,
  • Histórico de ficar nos lares de idosos.

Sintomas

Alguns sintomas podem estar associados à infecção do fungo Candida auris:

  • Pus em um local esbaforido;
  • Temperatura aumentada;
  • Sentimento geralmente indisposto após a inserção de uma linha intravenosa (do gotejamento) ou de um cateter urinário;

Diagnóstico

O diagnóstico é feito por culturas do sangue ou de outros líquidos de tecido por análises laboratoriais.

Limitando a propagação

Algumas etapas importantes para limitar a propagação da infecção pelo superfungo. incluem níveis elevados de manutenção de higiene, de práticas de lavagem e do uso de géis à base de álcool das mãos antes e depois de entrar em contato com pacientes e/ou o equipamento e os outros itens em torno de sua base.
Todo o pessoal da saúde deve vestir luvas protetoras e aventais ao ocupar de pacientes ou de portadores contaminados bem como os visitantes que ajudam a cuidar dos pacientes, devendo igualmente vestir luvas, ou aventais protetores para reduzir o risco de transmitir esta infecção aos pacientes.
Já o tratamento, vai depender das respostas aos antifúngicos de dosagens altas aplicadas caso a caso.
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Juliane Isler

Juliane Isler, advogada, especialista em Gestão Ambiental, palestrante e atuante na Defesa dos Direitos da Mulher.


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