Ensete: a super banana capaz de erradicar a fome na Etiópia


Nossa querida banana, fruta super versátil e saborosa, tem uma “parente falsa” capaz de erradicar a fome na Etiópia, vocês acreditam?!

Pois é, existe uma espécie de bananeira na Abissínia, Império Etíope, que não dá os frutos da banana, assim como a nossa. Porém, a planta é bem parecida e o segredo está em seu pseudocaule, de onde a massa é extraída e transformada em pão para alimentar a população.

Além disso, as folhas da bananeira-da-abissínia (como também é conhecida essa planta), servem para a construção de cabanas chamadas tukul e podem abrigar também alguns animais domésticos para ajudar na conservação do calor no interior das casas.

Essa matéria foi publicada originalmente na revista Época e nos chamou a atenção devido à possibilidade de conseguir tanto alimento como moradia de uma planta tão comum e versátil como a bananeira de folhas largas, verdes e brilhantes.

A árvore contra a fome

A ensete (Ensete ventricosum), nome científico e como também é chamada na Etiópia, possui propriedades medicinais e serve como base para a alimentação da maioria da população do país. Não é a toa que ela também foi chamada de “árvore contra a fome”, pois todos que tinham uma em seu quintal, não passavam fome.

Essa planta foi descoberta em 1640 pelo padre português Jerônimo Lobo, quando ele viajava pela Abissínia, na Etiópia. As primeiras plantações de ensete foram avistadas na comunidade Dorze, na Região das Nações e Nacionalidades dos Povos do Sul (RNNPS) da Etiópia, que abriga mais de 50 etnias no Vale do Rio Omo, perto das fronteiras do Quênia e do Sudão do Sul.

Na etnia Dorze, as casa são feitas a partir de bambu e folhas de bananeira, chegando a atingir 10 metros de altura e com durabilidade de até meio século. Vistas de longe, as cabanas de ensete juntas parecem elefantes, devido à cor e à forma ondulada.

Apesar de toda essa funcionalidade, a grande importância da ensete na Etiópia é a segurança alimentar e nutricional, pois todos nós sabemos que este é um país que sofre demais com a fome e a pobreza.

Etiópia, um país saqueado

Contrariando essa informação, pesquisadores afirmam que a Etiópia é um país rico em biodiversidade nas culturas de cevada, milheto, sorgo, gergelim, moringa, linhaça e de espécies nativas como a tef e a ensete, além de uma vegetação exuberante que cobre as montanhas.

De toda essa vegetação, restou apenas 4% por causa dos governos autoritários que exploravam e obrigavam os agricultores a entregarem parte de suas produções para pagarem taxas abusivas ao governo da época. Foram essas medidas que forçaram o país a viver em situação de pobreza extrema.

Até certo tempo, a ensete antes era encontrada em todo o território da Etiópia, mas atualmente ela existe apenas na Região das Nações e Nacionalidades dos Povos do Sul e em alguns lugares como as montanhas de Simien e no sul da Eritreia. Outras variedades de ensete também podem ser encontradas na Ásia e em alguns países da África e Madagascar, mas é na Etiópia que ela é encontrada em maior escala.

Para superar a fome que atingiu o país em 1983 e 1984, a comunidade se dedicou a cultivar ainda mais essa planta que, além de tudo, é bastante resistente aos períodos de estiagem, pois sua vasta folhagem ajuda a proteger o solo de enxurradas, evitando a perda de nutrientes e erosão.

Kocho, o pão de ensete

Na Região das Nações e Nacionalidades dos Povos do Sul, o cenário rural é formado pelas cabanas circulares feitas com bambu e folha de bananeira (tukuls) e estas são rodeadas por plantações de ensete. Nessa região, um dos alimentos mais consumidos é o kocho, uma espécie de pão feito com a polpa do pseudocaule da ensete.

O preparo do kocho é feito com a extração da massa, a qual fica enterrada por um período de 12 a 15 dias para passar por um processo de fermentação. Após esse período, a massa é hidratada, amassada feito pão e assada dentro da própria folha de ensete.

Nessa região, os agricultores se dedicam exclusivamente para o cultivo de alimentos básicos para consumo próprio. Quando uma família está sem a planta, recorre a outra para pedir um pouco e produzir seu próprio alimento.

De acordo com a pesquisa, uma plantação com 50 pés de ensete, numa área de 300 metros quadrados é capaz de alimentar uma família de cinco a seis pessoas, pois um pé de ensete rende cerca de 40 quilos de kocho.

Outra vantagem na produção de ensete é que as plantações podem ser adubadas com compostos orgânicos feitos com excrementos de animais domésticos, o que contribui para a fertilidade do solo e capacidade de absorção de água, melhorando também a qualidade deste.

É muito inspirador e gratificante conhecer soluções como esta que utiliza de recurso simples e próprio para resolver um problema tão grave quanto a fome e, de quebra, busca uma solução sustentável para moradia. Claro que tudo isso é possível devido à interação da comunidade, onde um ajuda o outro suprindo a falta de ensete quando o próximo está sem ela.

Pena que essa ajuda mútua não ocorra em todo o mundo, mas um dia chegaremos nesse patamar. Afinal, são as situações de necessidade que nos fazem aprender e a buscar alternativas criativas de sobrevivência e solidariedade!

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Eliane A Oliveira

Formada em Administração de Empresas e apaixonada pela arte de escrever, criou o blog Metamorfose Ambulante e escreve para greenMe desde 2018.


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