Mico-leão-dourado em perigo: exonerados os chefes de UCs que protegem a espécie da extinção


O meio ambiente brasileiro está sendo atacado sorrateiramente pelo governo federal durante a pandemia do novo coronavírus.

Não bastasse a ameaça da Medida Provisória nº 910/2019, conhecida como a MP da Grilagem, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) exonerou todos os chefes de Unidades de Conservação (UCs) federais que atuam em defesa do habitat do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), segundo informou O Eco.

As exonerações dos gestores das reservas biológicas da União e Poço das Antas e da Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São João/Mico-Leão-Dourado representam uma real ameaça à preservação da espécie, visto serem os seus últimos redutos.

De acordo com a Associação Mico-Leão-Dourado, a espécie conta apenas com fragmentos florestais no interior do estado do Rio de Janeiro, que é endêmica da Mata Atlântica de baixada costeira do estado. O secretário-executivo da associação, Luís Paulo Ferraz, vê com muita preocupação as exonerações dos gestores das reservas:

“É super preocupante [as exonerações] porque abrangem praticamente toda a área remanescente de ocorrência do mico-leão-dourado. E dentro de um processo em que não houve discussão com ninguém. A Associação faz parte do Conselho das duas reservas biológicas e ninguém estava sabendo das exonerações”.

A suspeita é de que as exonerações sejam uma antecipação da criação do Núcleo de Gestão Integrada de Rio das Ostras, que colocaria sob a mesma tutela aquelas unidades de conservação (UC), o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e a Reserva Extrativista (Resex) Marinha do Arraial do Cabo.

As 5 UCs passariam a atuar conjuntamente. O problema é que a exoneração recaiu apenas sobre os gestores das UCs que são habitat do mico-leão-dourado, e não sobre o da de Arraial do Cabo, por exemplo. A crítica de Ferraz é que a unidade de Arraial do Cabo tem demandas completamente distintas:

“É um processo que não foi discutido com ninguém, com uma canetada exoneraram os chefes das unidades, sem colocar nada no lugar e sinalizando a criação de um Núcleo de Gestão Integrada com unidades que não tem nenhuma afinidade, nem proximidade física nem afinidade ambiental”.

A bióloga Rita Portela, chefe do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também vê com receio o novo formato de gestão que o ICMBio pretende implementar no estado:

“As duas Rebios e a APA tudo bem, são próximas, acho que não há tantos riscos unificá-las numa única chefia, mas juntar com o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, que é outra categoria de unidade de conservação e precisa de uma pessoa que saiba lidar com uso público e que é um ecossistema completamente diferente, de restinga; e com a Resex Arraial do Cabo, que é marinha e tem interação com pescadores e visa a conservação das práticas de pesca artesanal. São unidades de conservação muito diferentes e é muito difícil uma única pessoa que consiga gerir esses ambientes e ecossistemas tão diferentes e com propósitos tão distintos”.

Além da questão ambiental, a reforma administrativa foi feita de forma abrupta e sem qualquer participação de especialistas envolvidos nos projetos de pesquisa das reservas. Faltou transparência ao processo, segundo o secretário-executivo da Associação Mico-Leão-Dourado.

“É uma insanidade que coloca em risco vários esforços de conservação, de pesquisa, e para o programa de conservação do mico-leão-dourado isso é uma ameaça gravíssima”, critica Ferraz.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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