Alter do Chão: integrantes de ONG na Amazônia são presos


Quatro voluntários da Brigada de Incêndio de Alter do Chão (PA) foram presos pela Polícia Civil, nesta semana, como ação de uma operação da Polícia Civil paraense, denominada Fogo de Sairé, que apreendeu, ainda, documentos da organização não-governamental Projeto Saúde e Alegria (PSA).

A Brigada de Alter do Chão é um grupo de voluntários formado em 2018 pelo Instituto Aquífero Alter do Chão para atuar no combate a queimadas florestais, em parceria com o Corpo de Bombeiros. Já a ONG PSA foi fundada por médicos que atuam há 30 anos na floresta prestando serviços de saúde para a população local.

A Operação Fogo de Sairé tem como objetivo investigar os incêndios ocorridos este ano em Alter do Chão. A Polícia Civil acusa os quatro voluntários de terem iniciado os focos de incêndio com a justificativa de combatê-los com a finalidade de arrecadar fundos oriundos de entidades internacionais, conforme informou a BBC News Brasil.

A prisão dos brigadistas gerou uma grande revolta de grupos indígenas, movimentos sociais e ativistas pelo meio ambiente, reverberando nas redes sociais. Esses grupos argumentam que as prisões tiveram motivação política e intenção de criminalizar as ONGs que atuam na Amazônia.

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Nossa total solidariedade aos brigadistas voluntários nos incêndios de Alter do Chão – Pará encarcerados injustamente na acusação de provocarem os fogos na reserva ambiental de Alter, que então apagariam para ganhar dinheiro. É incrivelmente triste uma conjuntura que criminalize e persiga trabalhos de ONGs sérias como a Saúde e Alegria, que tentem plantar a desconfiança sobre organizações que trabalham para atender famílias em situação de vulnerabilidade social, com a conservação do meio ambiente e promoção de, como o nome diz, Saúde e Alegria. Não devemos aceitar essa situação em silêncio e precisamos exigir a apuração dos fatos e consequente soltura dos brigadistas. Assine o abaixo-assinado de apoio aos voluntários: http://chng.it/MKhHDSLM e assista trecho do documentário de Mara Mourão que mostra um pouco do trabalho da ONG Saúde e Alegria: https://lnkd.in/ddt86dv #alterdochao #brigadistas #voluntarios #impactosocial #amazonia #meioambiente #ongs #ong #saudeealegria

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A associação indígena Iwipuragã, do povo Borari, emitiu uma nota dizendo que:

“Entendemos que essas acusações fazem parte de uma estratégia para desmoralizar e criminalizar as ONGs e movimentos sociais de forma caluniosa. A Brigada de Alter sempre atuou em defesa do nosso território, conhecemos a seriedade do trabalho e honestidade dos nossos brigadistas”.

O delegado da Polícia Civil José Humberto Melo Júnior, em uma coletiva de imprensa, explicou que as prisões, de caráter preventivo, foram expedidas porque existem provas materiais “robustas” da atuação criminosa dos voluntários nos incêndios. Uma dessas provas seria um vídeo em que aparecem os brigadistas onde “só estão eles” e o fogo.

A arquiteta, morada de Alter do Chão e membro da brigada Bruna Bichara diz que:

“[A prisão] é incabível, e o que dizem ser provas não prova nada, é difamação”. Em nota, a Brigada defende que a prisão de seus integrantes “causou grande perplexidade”, sobretudo porque, desde o início das investigações, os brigadistas colaboraram, prestando depoimento e fornecendo documentos.

O incêndio em Alter do Chão

A floresta de Alter do Chão é um dos principais destinos turísticos da Amazônia. Em setembro, cerca de 650 mil m² da floresta foram queimados em decorrência de um incêndio, que foi contido pelo Corpo de Bombeiros e pelos brigadistas.

A reportagem da BBC News Brasil que investigou a prisão e o trabalho dos brigadistas informa que estes comumente costumam chegar antes dos bombeiros aos locais de incêndio porque moram próximos às regiões afetadas, as quais são de difícil acesso.

Bruna Bichara explicou à BBC que a Brigada só atua com a autorização prévia do Corpo de Bombeiros. No dia 14 de setembro, assim que o primeiro sinal de fumaça foi detectado, o grupo acionou os bombeiros. Ela contou que eles foram em uma viatura da própria polícia até o foco de incêndio. “No dia seguinte, subimos o drone e vimos a enorme linha de fogo que tinha na floresta. Foram três dias intensos de combate ao fogo”.

O que diz a Polícia Civil

A Polícia Civil alega que a ONG PSA criou os incêndios e registrou-os em fotos, que depois foram vendidas para a ONG WWF-Brasil pelo valor de R$ 47 mil. As fotos teriam sido usadas em uma campanha de arrecadação internacional, no valor de U$ 500 mil, que contou com a participação do ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio.

A WWF-Brasil se defendeu dizendo que tal acusação é improcedente, visto que não teria adquirido nenhuma fotografia da Brigada, nem recebido doação do ator estadunidense. A relação da WWF-Brasil com a PSA ocorreu através de um repasse de R$ 70 mil para a ONG para a compra de equipamentos de combate ao fogo para os brigadistas.

De acordo com Eugênio Scannavino, do Projeto Saúde e Alegria, o recurso que havia, da ordem de R$ 140 mil, foi usado para compra de material de combate e treinamento de três brigadas:

“O único dinheiro repassado para a brigada foi o que serviu para formação dos voluntários, que foi feita com o apoio do Corpo de Bombeiros”, esclareceu.

Caetano Scannavino, que é irmão de Eugênio e coordenador do PSA, denominou a operação de “situação kafkaniana”, visto que não há acusações legítimas. Ele acredita que se trata de uma “ação política para tentar desmoralizar as ONGs que atuam na Amazônia”.

Um manifesto de apoio ao Projeto Saúde e Alegria foi assinado por várias entidades, como a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Belém, o Instituto Socioambiental (ISA), diversos sindicatos de trabalhadores rurais ligados à preservação da floresta e coletivos indígenas, redes de pesquisadores e instituições educacionais que atuam na Amazônia.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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