Jovens ambientalistas brasileiros colocam governo contra a parede


A juventude é a principal face do ambientalismo no mundo. Lideranças como Greta Thunberg têm sido responsáveis por engajar os jovens em uma causa que diz respeito diretamente ao seu futuro.

No Brasil, jovens ambientalistas também estão protestando sobre a situação climática e o desmonte no meio ambiente, que se tornaram uma espécie de bandeira do governo de Jair Bolsonaro.

Pedalada climática

Nas últimas semanas, esses jovens ganharam notoriedade ao acusar o governo federal de praticar “pedalada climática”, por maquiar a contabilidade das metas de redução de emissões em dezembro passado, no âmbito do Acordo de Paris, segundo informa reportagem de (o) Eco.

Esses jovens, que são provenientes de todas as regiões do país, fazem parte da Rede Engajamundo, criada há uma década a partir da participação de estudantes brasileiros na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio +20, que ocorreu no Brasil em 2012.

A bióloga Thalita Silva e Silva, que hoje tem 23 anos, conta que:

“Chegando lá, eles perceberam que tinha pouca juventude e a juventude que existia era do Norte global. Poucos jovens latino-americanos, principalmente brasileiros. Então, a criação do Engajamundo se deu com essa ideia de inserir os jovens nesses espaços de discussão, para que tenham voz ativa e participem realmente das tomadas de decisão que vão influenciar diretamente nosso futuro, principalmente por sermos nós a geração que vai sofrer os impactos diretos das decisões que são feitas agora”.

Desde então, a Rede tem conquistado cada vez mais espaço nas conferências internacionais sobre o clima, embora também tenha sua face “EngajaBrasil”, já que atua em âmbito nacional.

Até 2019, a rede já havia promovido 161 ações e 205 formações presenciais com milhares de jovens em todo o país sobre os temas biodiversidade, clima, cidades e comunidades sustentáveis, gênero e agenda de desenvolvimento sustentável (ODS). Além disso, também se encontram semanalmente de forma virtual para discutir e planejar ações e campanhas.

Ação Popular contra Salles

Uma das iniciativas do jovem grupo foi impetrar na justiça uma Ação Popular contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

A ação conta com o apoio de oito ex-ministros do Meio Ambiente: Carlos Minc, Edson Duarte, Gustavo Krause, Izabella Teixeira, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Rubens Ricupero e Sarney Filho.

Os jovens reivindicam a anulação da meta apresentada pelo governo brasileiro, em dezembro de 2020, para o Acordo de Paris. Após completar cinco anos, o Acordo de Paris exigiu de seus signatários novos compromissos. O Brasil apresentou uma meta inferior à apresentada em 2015, quando o país havia se comprometido em reduzir suas emissões em 43%, o que significava emitir 1,2 bilhão de toneladas de gases até 2030. Na versão bolsonarista, o nível de emissões saltou de 1,2 bilhão para 1,6 bilhão de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.

Essa manobra foi denominada pelos jovens ambientalistas de  “pedalada climática”, já que rebaixa a meta brasileira de “insuficiente” para “altamente insuficiente”, de acordo com o consórcio internacional Climate Action Tracker.

Mau exemplo

Os jovens argumentam que o Brasil pode tornar-se um exemplo perigoso internacionalmente, motivando outros países a mascararem a contabilidade das emissões para não atingir o objetivo do Acordo de Paris, que é limitar o aquecimento global a 1,5º no século XXI.

A Cúpula do Clima 2021 vai discutir justamente o aquecimento global. Estamos em meio a uma pressão internacional que está exigindo dos Estados Unidos não realizar acordos com o Brasil enquanto o país não demonstrar o seu engajamento em cumprir metas climáticas e ambientais. Por isso, os jovens se anteciparam com a ação na justiça, de acordo com a jovem Thalita Silva e Silva:

“A nossa principal intenção era comunicar o que está acontecendo, principalmente sendo uma semana antes da Cúpula do Clima para a qual o Brasil foi convidado […] Mas a ideia é que realmente a gente consiga judicialmente a anulação dessa NDC, porque o que o Salles cometeu foi um crime”.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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