Europa, só compre do Brasil produtos que respeitem a natureza, alertam mais de 600 cientistas


Pra quem acha que ecologia e meio ambiente é coisa de gente chata, bicho-grilo, encrenqueira e alienada, saiba que, ao contrário, hoje em dia, pensar em meio ambiente é pensar também em business, em dinheiro e em comércio, porque uma coisa está atrelada à outra: a proteção ambiental pode gerar renda, muita renda!

Quem nos lembra isso é um carta assinada por 602 cientistas europeus + 2 organizações indígenas brasileiras que juntas representam mais de 300 grupos indígenas. A carta foi publicada na prestigiada revista científica Science.

Os cientistas pedem à União Europeia (2° maior parceiro comercial do Brasil) que condicionem seus movimentos comerciais ao cumprimento de algumas regras ambientais: Make EU trade with Brazil sustainable. Justo! A Europa está pensando e colocando em prática várias normativas para salvaguardar a natureza e a saúde das pessoas. Muitos produtos químicos, bem como defensivos agrícolas que são proibidos lá, são usados aqui. Não há sentido fazer comércio com um país com visões tão diferentes de mercado.

Segundo reportagem de Edson Veiga para a BBC News Brasil, o grupo tem representantes dos 28 países-membros da UE. E o que eles pedem basicamente? Que a Europa apenas consuma produtos brasileiros sustentáveis, e que respeitem os direitos das comunidades locais e indígenas.

Em poucas palavras, a comunidade científica europeia acredita que a questão ambiental é “prioritária e extremamente relevante”. E nós acrescentaríamos que é uma questão globalizada, por força de sua natureza. Se a Europa, A Ásia ou a Austrália estiverem empenhadas em reduzir as emissões de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global, seus esforços serão em vão se a América decidir por seguir desmatando ou queimando combustível fóssil.

A Terra ou é de todos ou é de ninguém, e talvez a única forma de fazer com que aqueles que não acreditam em aquecimento global, nem nas catástrofes que o aumento da temperatura da Terra promete, é fazê-los sentirem nos bolsos:

“Queremos que a União Europeia pare de ‘importar o desmatamento’ e se torne um líder mundial em comércio sustentável”, diz Laura Kehoe, pesquisadora da Universidade de Oxford e principal autora do texto. “Nós protegemos florestas e direitos humanos ‘em casa’, por que temos regras diferentes para nossas importações?”

Vai ter prejuízo…

A UE compra minérios de ferro e cobre do Brasil (ou seja, acaba colaborando com desastres como os de Mariana e Brumadinho, quando esta atividade não considera os danos ambientais que causa). A UE importa carne bovina atrelada ao desmatamento e à emissão de CO2 (acredita-se que cerca de 80% do desmatamento no Brasil seja para dar lugar a campos de pastagem e que o rebanho bovino responda por 17% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil).

Se o bloco decidir parar de comprar do Brasil, porque nosso país não cumpre regras de segurança ambiental nem tem uma política de desmatamento zero ou de respeito aos povos da floresta, o prejuízo não vai ser pouco. A União Europeia é o 2° maior parceiro comercial do Brasil, somente em 2018 as exportações para o bloco europeu representaram 17,56% do total das exportações, algo em torno de US$ 42 bilhões!

Um alerta ao novo governo

Um dos signatários da carta, o cientista brasileiro Tiago Reis, disse à BBC:

“Existe, hoje, um discurso no Brasil que promove a invasão de terras protegidas e o desmatamento. Isso gerou sinais de alerta na comunidade científica internacional.”

A carta não deixa de ser um alerta ao novo governo brasileiro. Meio ambiente não é questão nem de direita nem de esquerda, é global, apartidário e é principalmente também uma questão econômica. Demarcar terras e respeitar os direitos indígenas pode nem ser um ato de amor e respeito a esses povos. Pode ser simplesmente uma questão de inteligência, visão futurista e comercial. E serão os próprios ruralistas os maiores prejudicados com essa falta de visão de realidade.

“A UE foi fundada sobre os princípios do respeito pelos direitos humanos e pela dignidade humana. Hoje, tem a oportunidade de ser um líder global no apoio a esses princípios e a um clima habitável, fazendo da sustentabilidade a pedra angular de suas negociações comerciais com o Brasil”, finaliza a carta publicada na Science.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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