Alagamentos provocados pela chuva deixam SP um caos: prejuízos incalculáveis


Depois de as chuvas de verão arrasarem com Minas Gerais e Espírito Santo, é a vez de São Paulo ficar embaixo d’água.

A semana começou trágica na Grande São Paulo. A chuva que caiu na região fez com que a capital paulista ficasse alagada. Os prejuízos são incalculáveis: ruas intransitáveis, pessoas e veículos ilhados, deslizamentos, transbordamentos dos rios Tietê e Pinheiros e o pior: pessoas perdendo tudo o que têm.

De acordo com a BBC News Brasil, o Corpo de Bombeiros atendeu a mais de 5 mil chamados desde a noite de domingo, sendo 182 desabamentos ou desmoronamentos, 1018 pontos de inundação e 206 árvores caídas na Grande São Paulo.

Assim como ocorre em outras capitais brasileiras, esse cenário caótico se repete a cada ano em São Paulo. Mas por quê? A culpa das enchentes é apenas da chuva? A BBC consultou diversos especialistas para entender o fenômeno.

Falta de planejamento urbano

O professor e urbanista do Instituto das Cidades da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Anderson Kazuo Nakano, destaca que os grandes municípios brasileiros não respeitam “os ciclos hidrológicos da natureza” em seus projetos. Caso assim fosse, a água se infiltraria no solo para encontrar o seu curso normal: córregos, rios, mar – para, então, o ciclo recomeçar.

“Quando a chuva chega no espaço urbano, a água cai sobre no solo impermeável e não consegue se infiltrar. Nossos canais e rios estão canalizados. Essas águas, em grande quantidade e velocidade, escorrem para as sarjetas e galerias, que não conseguem suportá-las”, explica.

São Paulo tem, ainda, um agravante: cresceu de forma rápida e desordenada com ocupações precárias, nas periferias, que foram construídas em áreas de várzea de rios e córregos cujas águas desembocam em rios maiores, como o Tietê.

Outro problema são os chamados piscinões, construídos para represar a água da chuva com o objetivo de evitar as enchentes. Entretanto, Kazuo explica que eles são uma parte do problema, porque viraram depósito de lixo e sujeira, além de não receberem manutenção adequada. Ao invés de conterem a água, fazem com que ela transborde.

As mudanças climáticas também são lembradas pelo especialista, já que a temperatura nas grandes cidades tem aumentado, provocando chuvas mais intensas em períodos mais curtos de tempo nesta época do ano.

Como solução, o urbanista propõe a técnica da microdrenagem, como a recuperação de sarjetas, galerias e bocas de lobo, além de mais arborização e desassoreamento de rios e córregos.

Outra especialista consultada pela reportagem da BBC é a arquiteta urbanista e diretora do Movimento Defenda São Paulo, Lucila Lacreta. Ela destaca que o setor imobiliário tem a sua cota de responsabilidade nessa tragédia, com o aval do Plano Diretor do município, já que ambos desconsideram o solo da cidade.

“A ideia do plano diretor foi colocar grandes construções no eixo de transporte, mas esse eixo fica nas margens de grandes rios, muitos canalizados, como nas (avenidas) Radial Leste e Francisco Morato. Justamente nos terrenos mais frágeis da cidade é onde foi proposta a construção de prédios mais altos e profundos”, analisa.

Consultada por El Pais, a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Raquel Rolnik, define que a situação que se repete a cada verão é provocada pela dependência de São Paulo aos pneus para que a cidade funcione. A capital tem um centro expandido, uma área entre as marginais Pinheiros e Tietê, onde está concentrada a maior parte dos serviços, ou seja, o destino da maioria dos trabalhadores da maior cidade do país e onde habita a população de maior renda.

“Quanto mais longe a pessoa mora dessa região, mais depende de viagens longas de ônibus ou carro para chegar ao seu emprego. Logo, mais tempo anda em lugares com maior probabilidade de ter enchentes”, sentencia Rolnik.

Isso revela que a população que mais é afetada pelas enchentes é aquela que depende da locomoção viária para chegar ao trabalho, a mesma que reside nas periferias da capital paulista. Como solução para esse problema, Rolnik defende uma outra forma de expansão da cidade, além de investimento em trilhos e alternativas à ocupação das várzeas de rios e córregos.

O papel da chuva

Além da falta de planejamento urbano, a chuva este ano caiu acima da média. O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo divulgou que, nos últimos dez dias, choveu 179,9 milímetros, registrando o maior volume de chuva dos últimos 37 anos no mês de fevereiro.

O UOL informou que, hoje, a vida na capital paulista voltou à normalidade após o temporal de ontem. Segundo o CGE, para esta tarde e noite são esperadas chuvas rápidas e isoladas, com baixa previsão de formação de alagamento.

Entretanto, a Defesa Civil mantém o alerta de mau tempo até sábado.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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