Milícia Rio de Janeiro: o poder paralelo que atua até em pesca ilegal


No início deste ano, a operação “Intocáveis” prendeu integrantes de uma milícia, trazendo à tona o poder paralelo que essas organizações paramilitares vem ganhando nas últimas décadas.

De acordo com o sociólogo José Cláudio Souza Alves, pesquisador há 26 anos das milícias que atuam do Rio de Janeiro, esses grupos estão estruturados dentro do próprio Estado. Em uma entrevista para El Pais, o docente explicou que essa estrutura social se originou a partir de 1967, durante a ditadura militar.

Mas foi na década de 1990 que as milícias entraram na política, ampliando ainda mais o seu poder. Elas atuam matando, cobrando por segurança, vendendo terrenos, água, cigarro, combustível adulterado e serviços clandestinos de internet e telefone. Na política, os milicianos vendem votos dentro das comunidades e controlam as eleições.

Tá dominado

As milícias parecem mesmo afetar os mais variados âmbitos da vida social. E nem mesmo o meio ambiente está a salvo delas. Existe, no litoral do estado do Rio de Janeiro, a milícia marítima, que explora a cobrança de taxas para permitir a pesca de quem não tem o Registro Geral de Atividade Pesqueira ou é flagrado pescando em período proibido, como informa o jornal Extra.

Além desse “negócio”, a milícia marítima que atua na Baía da Ilha Grande e na Costa Verde (região de Angra dos Reis), em março, abril e maio de 2018, cooptou uma frota composta por cerca de 20 barcos irregulares para prestar serviços de pesca – também irregular – de camarão-rosa, de acordo com pescadores e uma fonte envolvida na fiscalização da pesca predatória.

O camarão-rosa é protegido nesses três meses porque é a sua época de reprodução (defeso). O preço médio do quilo do crustáceo é de R$ 100 o quilo. Considerando a quantidade de embarcações a serviço dos milicianos, o lucro deles pode chegar a R$ 1,2 milhão somente nos meses de captura proibida. As embarcações dos milicianos já foram denunciadas ao Ibama, órgão responsável pela fiscalização da pesca predatória.

Segundo a matéria do Extra, um pescador, que pediu para não ser identificado, disse que os barcos da milícia estão cada vez mais frequentes na Costa Verde:

“Nós respeitamos o defeso, mas os barcos da milícia aparecem e pescam à vontade com rede de arrasto. Matam desde camarão-rosa até peixe miúdo. Pescam, mais ou menos, uns 300 quilos de camarão por noite. No defeso, é fácil encontrar eles por aqui. A coisa é perigosa“.

O Ibama afirma que a fiscalização no mar de Angra dos Reis e Ilha Grande foi intensificada e que o número de barcos apreendidos aumentou.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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