Bacias de abastecimento público contaminadas: as consequências do uso intensivo de agrotóxico na agricultura


É muito preocupante a liberação de agrotóxicos que vem ocorrendo desenfreadamente no Brasil. É preciso que a sociedade brasileira se informe do que está acontecendo, a fim de que faça garantir o seu direito à segurança alimentar.

O Instituto Humanas Unisinos fez uma entrevista com a geógrafa Denise Barbosa da Veiga para ajudar a entender as reais consequências do uso intensivo de agrotóxicos nas culturas agrícolas. Ela é autora de uma pesquisa intitulada “O impacto do uso do solo na contaminação por agrotóxicos das águas superficiais de abastecimento público“.

A investigação foi realizada em duas bacias para o abastecimento público de municípios paulistas onde se cultivam cana-de-açúcar, verduras e legumes. O monitoramento feito por Denise detectou “a presença de até seis agrotóxicos diferentes em ambos os mananciais ao longo do ano monitorado, as amostras foram coletadas em água bruta (anterior ao tratamento para consumo humano), e todas as ocorrências estiveram abaixo dos padrões estipulados pela Portaria de Potabilidade da Água quando da água tratada”.

Um dos problemas apontados pelo monitoramento é a falta de matas ciliares ao redor das bacias, o que facilita o escoamento de agrotóxicos para os rios e aumenta o risco de contaminação da água. Veiga explica que o papel das matas ciliares é funcionarem como uma espécie de filtro que retém poluentes, logo elas são fundamentais para a proteção dos mananciais.

A análise da presença de agrotóxicos em mananciais é analisada tendo como parâmetro os índices estipulados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), com base na garantia de proteção da vida aquática. Os riscos para a saúde humana e para biodiversidade dependem das “propriedades toxicológicas de cada substância, das formas de exposição e do prolongamento dessa exposição”, explica a geógrafa.

A pesquisadora defende que áreas como as que foram monitoradas em sua pesquisa deveriam ser consideradas prioritárias em ações de educação ambiental e de fiscalização agrícola, bem como de monitoramento da água. Isso porque o uso de agrotóxicos com a redução ou ausência de matas ciliares pode ser extremamente danoso para a saúde humana e para a contaminação ambiental, dependendo do volume aplicado, a forma de aplicação e as condições climáticas nos dias de aplicação dos agrotóxicos.

A medida mais segura para evitar a contaminação das águas pelos agrotóxicos é reduzir – sendo o melhor mesmo eliminar – o seu uso em bacias que servem de mananciais para o abastecimento público.

Isso parece óbvio mas, infelizmente, não ocorre na prática. Não havendo a eliminação, ao menos deveria haver fiscalização dos órgãos de agricultura e meio ambiente nas localidades próximas aos mananciais para que possam agir de forma preventiva.

LEIA AQUI a entrevista completa com a geógrafa Denise Barbosa da Veiga

A água brasileira está envenenada

Nós já havíamos noticiado a preocupação de vários especialistas sobre a contaminação das águas brasileiras por agrotóxicos, a partir de uma reportagem da Agência Pública e Repórter Brasil, junto com a organização suíça Public Eye, que descobriu que a água brasileira está envenenada.

Em 80% dos testes realizados foram encontrados agrotóxicos classificados como “prováveis cancerígenos” por agências dos EUA e da Europa, sendo que 27 deles estão proibidos na União Europeia devidos aos riscos que provocam à saúde humana e ao meio ambiente.

Esse problema também vem sendo negligenciado pelos órgãos de fiscalização, já que dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes na sua água entre 2014 e 2017.

O meio ambiente e a população estão sendo expostos aos riscos dos agrotóxicos, que cada vez mais estão sendo liberados para uso e comércio pelo atual governo federal. Precisamos nos informar para exigirmos uma política de proteção ambiental e de segurança alimentar, pois estamos sendo envenenados de todas as formas possíveis, pelo solo, pela água, pelo ar.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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