Veneno na mesa: Brasil é campeão mundial de uso de agrotóxicos


Não é de hoje que sabemos que a economia brasileira é dependente do agronegócio. Ao contrário do que muita gente pode acreditar, isso representa um problema para economia do país, já que monopoliza a produção agrícola, e pior: o agronegócio está envenenando a população brasileira.

Para tornar público o que acontecendo no nosso país, a EBC entrevistou a pesquisadora e professora de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Bombardi, que vem pesquisando o alto índice de agrotóxicos consumido no Brasil e quais são os perigos que isso representa.

O que a pesquisa de Bombardi demonstra é alarmante: o Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxicos, posição que, até a década passada, era dos Estados Unidos (EUA).

Quais são os agrotóxicos mais usados

A quantidade de agrotóxicos usada nos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros representa um alerta para a saúde pública. Um terço dos agrotóxicos usados no Brasil é proibido pela União Europeia e entre os dez agrotóxicos usados na agricultura dois são proibidos pela legislação brasileira. Esse quadro já desenha a dimensão do problema.

Permissividade da lei

No Brasil, a permissividade para o uso de agrotóxicos é muito grande. O agrotóxico mais vendido no Brasil tem como princípio ativo o glifosato, um herbicida que mata plantas. Isso é grave porque, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o glicosato é cancerígeno. O uso desse herbicida na agricultura é extremamente perigoso para a saúde da população brasileira.

Já o 24D, que é o segundo agrotóxico mais vendido no Brasil, pode ser usado, aqui, em uma concentração 300 vezes maior do que a permitida pela União Europeia.

Outro veneno que chega às nossas mesas é a malationa, um inseticida usado na agricultura e também nas campanhas contra a dengue, no famoso fumacê. Embora ele seja permitido na União Europeia, só no feijão, o Brasil usa 400 vezes mais malationa do que no outro lado do Atlântico.

Por que o Brasil permite o uso de venenos?

tomate veneno

Todos esses produtos são muito perigosos. E a explicação para o Brasil permitir o uso de altas concentrações de agrotóxicos é o agronegócio. O país tem se configurado como uma economia agroexportadora. Oito dos dez produtos mais exportados pelo Brasil vêm do agronegócio. O glicosato, por exemplo, é vendido “casado” com sementes transgênicas. Hoje, 98% da soja produzida no Brasil é transgênica.

Isso significa que boa parte da semente é preparada para receber o herbicida. Tecnicamente, uma parte da semente da soja transgênica é alterada geneticamente para receber o herbicida, isto é, essa soja tem um gene de bactéria incorporado na semente que torna a planta tolerante ao herbicida. Quando o herbicida é aplicado, as plantas ao redor morrem e sobrevive, apenas, a soja transgênica.

Ao invés de termos uma capina mecânica, usamos a capina automatizada. Em 2013, havia 18 milhões de hectares plantados com soja. Em 2015, esse número subiu para 33 milhões de hectares. Em um curto período de tempo, apenas a área de plantio de soja teve um salto de mais de 180% (sem falar de outros produtos!).

O interesse econômico por trás desse tipo de cultivo deixa claro de onde vem a permissividade no uso do agrotóxico. Aliás, a América Latina vem sofrendo com a pressão do agronegócio. Países como Argentina e México também enfrentam o mesmo problema. O caminho que o Brasil tem seguido na mundialização da economia é extremamente perigoso para a saúde da população brasileira. Grupos econômicos pressionam o governo para permitir as altas concentrações de agrotóxico nos alimentos produzidos por aqui. Ou seja, o governo está permitindo a venda e o uso de venenos para o plantio de alimentos no país.

Existe algum sinal de mudança?

Infelizmente, segundo Bombardi, os avanços são poucos para mudar esse cenário. A sociedade civil organizada está atenta ao problema e lutando por mudanças na legislação, mas o governo está andando na contramão da história. Em São Paulo, por exemplo, há um projeto de lei que ampliou as merendas orgânicas nas escolas públicas. Os avanços pontuais têm sido implementados muito mais por força da sociedade. Do ponto de vista geral, estamos mesmo em um caminho de retrocesso.

O que fazer?

A população deve buscar informações sobre os alimentos que consome, para assim poder se organizar perante o poder público e pressioná-lo a não permitir que venenos sejam usados e vendidos no país. Prefira os alimentos orgânicos e apoie a agricultura ecológica, realizada em pequenas propriedades, e as formas de compra direta com o produtor. Não apenas os alimentos frescos contêm agrotóxicos; os industrializados, também, estão cheios deles. Esteja atento e certifique-se da origem dos produtos que você compra.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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