Barato ao bolso, caro ao meio ambiente: jovens recusam a moda descartável provocando crise no setor


Não dá mais para achar que qualquer coisa produzida e, consequentemente, consumida não tenha impacto no meio ambiente.

Uma das indústrias que mais polui no mundo é a indústria da moda. Ela ocupa o segundo lugar no ranking das indústrias mais poluentes.

Os impactos da moda

Para se ter uma ideia, segundo uma matéria da BBC, o poliéster, por exemplo, que é a fibra sintética mais usada na indústria têxtil, gasta 70 milhões de barris de petróleo para ser produzido e demora cerca de 200 anos para se decompor.

A viscose, um outro tecido feito a partir da celulose, provoca a derrubada de 70 milhões de árvores anualmente.

Não é à toa que vários estilistas e gente relacionada ao universo da moda já perceberam que ela é muito mais do que roupa. Um exemplo de ativismo no mundo da moda é o estilista Ronaldo Fraga, que sempre propõe alguma reflexão social em seus desfiles e procura estabelecer para as suas produções um sentido mais perene.

Tem também a Moda Vegana que consiste não apenas em recusar matéria-prima de origem animal, mas também valorizar toda uma produção ética seja com o ser humano que com o meio ambiente, recusando a fast fashion e priorizando o reuso e a reciclagem de roupas.

Jovens conscientes

E nessa onda de informações, os jovens estão ficando mais conscientes. Durante muito tempo, as marcas de fast fashion eram as queridinhas da galera jovem e descolada, sobretudo, nos Estados Unidos, haja vista que elas conjugam design com bom preço. Roupa boa e bonita nunca foi barata, o que explica o êxito comercial de marcas como Zara, H&M, Forever 21, Pull and Beer e similares.

Entretanto, se as fast fashion atraem pelo preço e pela beleza, a qualidade deixa a desejar, então, parando para refletir, o barato sai caro, para o bolso e para o meio ambiente.

A derrocada da marca Forever 21, nos Estados Unidos, diz muito sobre o novo tipo de consumo da geração de jovens atual. Segundo The Wall Street Journal, a Forever 21 entrou com um pedido de recuperação judicial, e o motivo parece ser que os jovens não querem mais investir em um consumo que não seja sustentável, informa o El Pais.

A marca tem 800 lojas no mundo todo, sendo que 500 delas estão nos Estados Unidos. Destas, 350 serão fechadas nos próximos meses e a razão estaria relacionada à mudança na forma de os jovens consumirem, os quais, também, não compram tanto fisicamente (pelo menos nos EUA). Como a Forever 21 não foi astuta suficientemente para entrar no mercado de compras on line, acabou perdendo um espaço importante no ramo do vestuário.

Não somente essa questão logística produziu efeitos negativos para a Forever 21, o que parece mais ter impactado as finanças da loja foi a mudança de mentalidade dos jovens, que estão mais preocupados com as consequências do seu consumo para o mundo. De acordo com analistas, essa parcela está mais inclinada a comprar de marcas associadas à bandeira da sustentabilidade, inclusive, estando adepta a comprar peças de segunda mão ou alugadas.

Além da Forever 21, a H&M anunciou o fechamento de 180 lojas. A matéria do El Pais menciona o artigo “Como as Mudanças nas Tendências do Consumo Podem Afetar os Líderes da Moda Rápida”, publicado pela Forbes, que traz a visão do especialista em varejo Sanford Stein, que prevê:

“Não é nenhum segredo que a moda rápida foi responsável por um nível catastrófico de poluição ambiental. O trio de uso de matérias-primas, poluição da água e emissões de gases de efeito estufa é apenas uma parte da história. O comportamento circular de comprar, usar e jogar fora não tem impacto somente nos aterros sanitários, sendo um importante contribuinte de carbono, mas também pode não ser o pior: a moda rápida desempenhou um papel muito sombrio ao contribuir para o tráfico de trabalho forçado”.

Os millenialls e a Geração Z estão ditando a moda: consumir melhor e de forma mais responsável. Não é apenas uma questão que afeta o bolso do consumidor, mas a indústria da moda rápida, descartável, nunca teve preocupação com o meio ambiente e com os seus trabalhadores.

Essa mudança cultural pôde ser vista nas recentes conferências sobre o clima, na ONU. Os jovens que lá palestraram mostraram que sua geração está na contramão da sociedade de consumo que a precede. Eles se colocaram contra a uma pseudofelicidade que tenta se sustentar na competição no mercado de trabalho para obter uma renda que lhes permita adquirir bens de consumo. O tom dado por esses jovens foi outro: eles aspiram a um mundo que defende as várias formas de vida em nosso planeta.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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