Não ao desperdício: consertar em vez de comprar é a proposta da Suécia


Não é de hoje que o consumo desenfreado de equipamentos, móveis e eletrodomésticos tem causado preocupação nas autoridades governamentais por todo mundo. O motivo para isso é simples: quanto mais se consome, mais se descarta, tão logo, maior o dano ao meio ambiente e à própria vida através da emissão de carbono.

Com este pensamento em mente, o governo da Suécia tem começado a apontar sinais e caminhos para a resolução do consumo e desperdício desenfreado com a adoção de incentivos fiscais que possam levar a população a consertar mais os equipamentos que tenham em casa em vez de adquirir cada vez mais equipamentos para substituir os danificados.

O grande gargalo enfrentado pelos governos de vários países está justamente nos preços dos produtos em comparação ao preço de reparo de um produto quebrado ou com defeito. É muito comum, pelo preço pago, o caso em que um produto novo é adquirido para substituir outro com defeito. Como exemplo, se opta por comprar uma geladeira nova em vez de consertar o motor estragado. O problema disso é o ciclo gerado pela necessidade de constante fabricação de novos produtos, emitindo cada vez mais carbono no meio ambiente.

No entanto, uma medida potencialmente eficaz pode ser encarada como um facho de luz na resolução deste problema. A coligação do Partido Verde da Suécia com o Partido Social-Democrata apresentou ao parlamento uma proposta para a diminuição de impostos para os serviços de reparos de roupas, sapatos e bicicletas de 25% para 12%. Além disso, a proposta contempla a possibilidade de solicitar reembolso no imposto de renda de 50% sobre valor gasto no reparo de fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupa e louça. “Acreditamos que isso diminuirá os custos de forma substancial, e criará um pensamento mais racional de reparo”, alega Per Bolund, membro do Partido Verde.

Com esta medida, a expectativa é que as emissões de carbono diminuam cada vez mais, uma vez que as pessoas optarão por repararem os produtos que já têm em vez de comprar produtos novos que seriam fabricados para atender esta demanda. Além disso, especula-se positivamente que isso incentivaria um mercado de trabalho para pessoas sem educação formal, tais como os imigrantes que enfrentam cada vez mais problemas para conseguir emprego. Estes poderiam se beneficiar amplamente prestando os serviços de reparo, evitando as consequências do desemprego como a criminalidade. O mercado já existente de reparos também seria largamente beneficiado, gerando um reflexo positivo e direto na sociedade, uma vez que este tipo de serviço, em geral, é prestado por indivíduos ou pequenas indústrias que geram um fluxo econômico no seu próprio meio.

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Segundo Bolund, esta proposta também estaria afinada às “tendências mundiais de economia compartilhada e redução de consumo”. Isso é uma clara e efetiva contraposição à tão polêmica cultura da obsolescência programada que guia o mercado há décadas, gerando um incalculável desgaste de recursos naturais, destruindo incontrolavelmente o meio ambiente e gerando cada vez mais lucros para uma indústria desproporcional.

Muito além de contribuir com a sociedade economicamente, esta proposta terá como maior beneficiada a própria vida e também o meio ambiente. As constantes emissões carbono no meio ambiente são responsáveis por males irreversíveis, como a possibilidade de agravar os dilemas do efeito estufa, aumentar a temperatura do planeta rumando para a extinção de diversas formas de vida, alteração dos níveis do oceano, derretimento dos polos, chuvas ácidas e destruição de ecossistemas. Outro grande inconveniente oriundo da emissão de carbono é a poluição, responsável por doenças respiratórias como a asma e outras relacionadas ao coração. Estes agravantes tendem a desequilibrar não somente a vida saudável, mas toda a sociedade ao lotar hospitais, gastar recursos e gerar sofrimentos.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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