O estranho mundo onde amamos os animais mas os comemos


Por que amamos tantos os animais domésticos, como cães, gatos, ovelhas, galinhas, vacas, mas “escolhemos” alguns para serem comidos?

A psicóloga Melanie Joy, especialista em comportamento humano, vem tentando explicar o porquê disso. Do ponto de vista psicológico, como as pessoas podem comer certos animais ignorando a crueldade com que são mortos?

Carnismo

A psicóloga, que hoje é vegetariana, usou em sua tese de doutorado o conceito de “carnismo” para descrever “a ideologia que faz com que, todos os dias, nos comportemos de uma maneira que é totalmente contrária ao que gostaríamos, sem nem mesmo percebermos que temos opções, participando do sofrimento de animais”, disse ela em entrevista à BBC News Brasil.

Como se sabe, é vegetariano aquele que não come carne animal e é vegano aquele que não come nem a carne nem quaisquer outros produtos de origem animal. Isso inclui ovos, mel, laticínios e, também, abster-se de usar produtos, como roupas e cosméticos, de origem animal

immagine

Fonte imagem: AS CONTRADIÇÕES DA RAÇA HUMANA NAS ILUSTRAÇÕES DE PAWEL KUCZYNSKI

Ser ou não ser vegano?

As principais razões para o aumento tanto do vegetarianismo quanto do veganismo em todo o mundo são a crueldade por que passam os animais para virarem comida e o impacto da pecuária para o meio ambiente, além de questões salutares.

Mas nem tudo são flores, ou melhor, plantas nessa discussão. Há controvérsias sobre a validade dessas razões, como a proteína animal ser necessária para certas funcionalidades orgânicas, visto que a sua substituição adequada nem sempre é fácil de ser seguida à risca.

Além disso, diz-se que plantas também sentem dor:

Embora haja muita polêmica sobre o veganismo, Joy defende que as pessoas devem ser o mais vegano que consigam ser, o que significa consumir o máximo que puderem de alimentos de origem vegetal.

Embora em certos lugares do mundo deixar de comer carne tenha implicações econômicas e geográficas (além das culturais, claro), em vários outros é até mais fácil ser vegano.

“Nos EUA e em Berlim, por exemplo, é muito fácil comer comida vegana. Sugiro que as pessoas sejam o mais veganas que puderem. Não quer dizer comer alface para sempre”, diz ela.

Sobre o impacto ambiental da produção de carne, outros alimentos também têm desequilibrado o meio ambiente, como a quinoa, cuja produção aumentou tanto nos Andes que levou, nos últimos anos, os agricultores a plantarem e replantarem sem respeitar o período de descanso do solo. Algo que vem acontecendo, também, na Amazônia com o plantio da soja, oriundo do desmatamento.

Do ponto de vista da contribuição individual para o meio ambiente, um estudo recente da Universidade de Oxford (Inglaterra) afirma que a diminuição do consumo de carne e laticínios ajuda bastante. Segundo a pesquisa, carne e laticínios representam 18% das calorias que consumimos e 37% da proteína, mas usam 83% da terra voltada para a agricultura e produzem 60% das emissões de gases de efeito estufa.

Como funciona psicologicamente o “carnismo”

Para Joy, o carnismo atua na nossa mente distorcendo nossa percepção e nossos sentimentos, como um mecanismo de defesa que nos desconecta da empatia com os bichos. Isso faz com que ajamos contra os nossos próprios valores morais.

Um desses mecanismos de defesa psicológica é o distanciamento:

“Não sentimos o nojo, a tristeza que sentiríamos se víssemos o animal ser morto. Um exemplo desse mecanismo é a desindividualização: vemos bichos criados para serem comidos como se fossem todos iguais e não tivessem qualquer individualidade ou personalidade. ‘Um porco é um porco e os porcos são todos iguais’, pensamos. Isso não é verdade. É tão inverdade quanto dizer que cães são todos iguais. Mas se não reconhecermos que eles têm preferências, objetificá-los, vendo-os como coisas, isso tudo torna mais fácil nos distanciarmos do sofrimento deles. É uma ideologia invisível. Você vê o mundo por essa lente”.

Outro perigo do carnismo é fazer passar como não natural o modo de vida vegano através dos estereótipos criados pela mídia, pelas leis, pela nutrição.

O que fazer?

Estude, leia, avalie e siga a sua intuição e o seu desejo. Conecte-se com os seus valores para ponderar se a alimentação vegetariana ou vegana pode ser adotada na sua vida abruptamente, ou se você prefere fazer substituições conscientes no seu ritmo.

Sem querer forçar a barra, para “salvar o planeta”, você pode tentar ser menos consumista, deixar de comprar ao máximo posssível produtos embalados em plástico e coisas de plásticos em geral, reduzir o consumo de água, desperdiçar zero alimento, andar menos de carro, etc. Agora, se formos falar em paradoxos, fica a pergunta, por que cachorro, gato, cavalo ou coelho são mais fofinhos e menos apetitosos que vaca, porco, javali? Na Itália se come cavalo, na Índia a vaca é um animal sagrado, na China se come de tudo… Pense nisso 🙂

Talvez te interesse ler também:

QUER VIRAR VEGETARIANO? VEJA UM PASSO A PASSO QUE PODE FACILITAR TUA DECISÃO




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...