Não banalize: TPM pode ser transtorno mental (o Transtorno Disfórico Pré-menstrual)


Até quando a TPM, seus efeitos e consequências serão banalizados pela sociedade?

Até quando servirá como motivo de xingamento ou agressão às mulheres?

Até quando, homens, principalmente, atribuirão à mulher que tiver uma postura mais incisiva ou contundente, ou sensível, ou qualquer que seja, a TPM como causa  e de forma tão cruel?

Quase 20 anos de pesquisa confirmaram que existe sim uma forma de transtorno depressivo específico que inicia em algum momento após a ovulação e regride poucos dias após a menstruação, causando impacto significativo no funcionamento da vida da mulher.

Digamos que a TPM, tensão pré-menstrual, envolve mudanças e alterações hormonais comuns ao período de ovulação e que podem afetar, ou não, aspectos físicos e psicológicos da mulher.

Porém, quando essas alterações causam sintomas que interferem na saúde, comportamento e desenvolvimento da vida e nas tarefas comuns, pode ser mais do que TPM, pode ser um transtorno mental.

Transtorno Disfórico Pré-menstrual

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-5), usado para descrever os transtornos mentais e tornar as diagnoses mais práticas e compreensíveis a todos os médicos, o Transtorno Disfórico Pré-menstrual ocorre quando os sintomas iniciam na semana final antes da menstruação, e começam a melhorar poucos dias depois do início da menstruação até tornarem-se mínimos ou ausentes na semana pós-menstrual.

E quais são esses sintomas? 

  1. Instabilidade afetiva (mudança de humor; sentir-se repentinamente triste)
  2. Irritabilidade, raiva, conflitar com pessoas
  3. Humor deprimido
  4. Ansiedade e nervosismo
  5. Interesse diminuído pelas atividades habituais
  6. Dificuldade em se concentrar
  7. Letargia, fadiga fácil ou falta de energia
  8. Alteração acentuada do apetite comer demais ou avidez por alimentos específicos
  9. Hipersonia ou insônia
  10. Sentir-se sobrecarregada ou fora de controle
  11. Sintomas físicos como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço” ou ganho de peso.

Mas atenção!

Para ser considerado Transtorno Disfórico Pré-menstrual, o DSM-5 cita que é necessário ocorrer pelo menos 5 dos sintomas e estar presente na maioria dos ciclos menstruais, ou seja, com frequência e intercorrência.

Conheça seus ciclos menstruais

Os sintomas elencados acima são muito comuns às mulheres e é evidente que a maioria delas sente um ou mais de um deles.

O importante é se conhecer, conhecer o próprio corpo, os sentimentos, ações e omissões e entender em quais momentos e situações eles ocorrem.

É recomendado que as mulheres conheçam seus ciclos menstruais e para isso basta anotar num calendário, de preferência usado só para isso, o dia do início e do fim do ciclo todo mês.

Assim, será possível identificar quantos dias de intervalo entre um ciclo e outro, qual lua a sua menstruação ocorre, acompanhar o período fértil, reconhecer o padrão e regulação do ciclo. Enfim, só benefícios.

Acompanhe essa evolução, entenda o ciclo do seu ovário, o momento da ovulação, como seu corpo reage, a quantidade do fluxo, de dias de menstruação e principalmente, como está seu humor, sentimentos, pensamentos e reações físicas durante esse período.

Anote tudo! Só assim será possível identificar um padrão nos sintomas e se eles, de fato, estão relacionados com o período menstrual.

Quando se preocupar?

Mas quando é mesmo preciso se preocupar?

Segundo o DSM-5,

“os sintomas devem causar sofrimento significativo ou interferir no trabalho, na escola, em atividades sociais habituais ou relações com outras pessoas, como esquiva de atividades sociais, diminuição da produtividade e eficiência no trabalho, na escola ou nas tarefas domésticas”.

Como características essenciais do transtorno pode-se dizer que é a instabilidade do humor, irritabilidade, disforia e sintomas de ansiedade que ocorrem repetidamente, porém, durante a fase pré-menstrual do ciclo, regredindo por volta do início da menstruação ou logo depois.

Por isso a importância de verificar o padrão e principalmente a intensidade.

Devem, obrigatoriamente, ter ocorrido na maioria dos ciclos menstruais durante o último ano e ter um efeito ruim no trabalho ou no funcionamento social.

Em geral, os sintomas atingem seu auge perto do momento de início da menstruação e podem durar até os primeiros dias da menstruação.

Mas para ter certeza que se trata do Transtorno Disfórico Pré-menstrual, é importante verificar que a mulher deve ficar um período totalmente livre de sintomas na fase folicular depois que inicia o período menstrual.

Embora os sinais principais incluam sintomas de humor e ansiedade, sintomas comportamentais, físicos e somáticos também costumam ocorrer.

Entretanto, o contrário, somente sintomas físicos e/ou comportamentais, na ausência de sintomas de humor e/ou ansiosos não é suficiente para um diagnóstico.

Alertas

Menopausa: há relatos de muitas mulheres que tiveram piora nos sintomas quando próximas da menopausa. Após a menopausa, a tendência é os sintomas cessarem.

Hormônio: a reposição hormonal cíclica pode desencadear nova manifestação dos sintomas.

Outros transtornos: mulheres que sofrem com outros transtornos, como depressivo maior, de pânico, personalidade, podem ter alguns sintomas exacerbados, por isso a importância de anotar o padrão de ocorrência, para não confundir um com outro, embora não haja impedimento que ocorram concomitante.

Deve-se ficar atenta também se os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos pelo uso de uma substância ou medicamento, ou de outra condição médica.

Fatores de risco

Ambientais: estresse, história de trauma interpessoal, mudanças sazonais e aspectos socioculturais do comportamento sexual feminino em geral, e o papel do gênero feminino em particular.

Genéticos e fisiológicos: a herdabilidade do Transtorno Disfórico Pré-menstrual é desconhecida. No entanto, para os sintomas pré-menstruais, as estimativas de herdabilidade variam entre 30 e 80%, como média 50% herdável.

Modificadores do curso: mulheres que usam contraceptivos orais podem ter menos queixas pré-menstruais do que as que não os utilizam porque há ausência de ciclo menstrual.

Diferença entre TPM e Transtorno Disfórico Pré-menstrual

A diferença entre TPM e Transtorno Disfórico Pré-menstrual é que, no primeiro caso, não é necessário um mínimo de cinco sintomas, não existe um padrão, nem intensidade incapacitante, ocorrendo de forma menos grave.

A ocorrência de sintomas físicos ou comportamentais no período pré-menstrual, sem os sintomas de instabilidade afetiva e características limitantes, incapacitantes ou de afetação intensa no comportamento, provavelmente satisfaz os critérios para TPM e não para Transtorno Disfórico Pré-menstrual.

De qualquer maneira, não deixe de procurar ajuda profissional se desconfiar sofrer esse transtorno, e viva melhor.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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