Novo coronavírus é mais letal onde há mais poluição, revela estudo


A poluição ambiental acarreta inúmeros males para a saúde e, em relação ao novo coronavírus, a poluição ambiental pode agravar ainda mais a doença que ele causa.

São várias as pesquisas que já comprovaram que o alto nível de poluentes no ar provoca riscos à saúde, como acidente vascular cerebral, doenças cardíacas, câncer de pulmão e doenças respiratórias. E as pessoas mais ameaçadas pela poluição ambiental estão em países pobres, segundo um relatório de 2016 da Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo o qual 98% das cidades de países de renda baixa e média, com mais de cem mil habitantes, não atendem às recomendações da OMS sobre parâmetros de qualidade do ar.

Poluição do ar e Covid-19

Segundo uma pesquisa da Universidade de Harvard, os efeitos do Covid-19 são mais letais em áreas onde há maior poluição do ar por partículas finas, como informa o jornal italiano Corriere della Sera.

A líder da pesquisa, a italiana Francesca Dominici, explicou ao jornal que, a longo prazo, uma diferença de um micrograma de poeira fina já é suficiente para aumentar a taxa de mortalidade do novo coronavírus em 15%. Essa “poeira fina” é composta de micropartículas poluentes e cancerígenas produzidas, por exemplo (mas não apenas), por descargas industriais e de automóveis. Elas são tão pequenas que podem penetrar os alvéolos pulmonares e o sangue.

Não é a primeira vez que esse vínculo entre a poluição do ar e o perigo do Sars-Cov-2 foi relacionado em pesquisas, mas o estudo de Harvard se baseia em bases numéricas sólidas. Trata-se de uma análise de “bioestatística”, uma disciplina que utiliza cálculos estatísticos sobre grandes quantidades de dados para pesquisas médicas e biológicas.

O estudo

Os pesquisadores coletaram dados do nível de partículas em 3.000 municípios americanos (onde 98% da população dos Estados Unidos vive), entre 2000 e 2016, e os compararam com as mortes de Covid-19 registradas até 4 de abril. Depois, eles removeram todos os elementos que poderiam alterar os resultados estatísticos: densidade populacional, status socioeconômico, porcentagem de fumantes, taxa de obesidade, variáveis ​​climáticas, nível de escolaridade – que, como é conhecido, afeta o estado de saúde – disponibilidade de leitos em hospitais.

Após essa etapa, foi encontrada uma associação entre poluição e perigo do novo coronavírus.

“Se uma pessoa vive há décadas em um local onde há altos níveis de material particulado, é mais provável que ela desenvolva sintomas graves”, diz Dominici.

É um resultado que não surpreendeu quem estuda os efeitos das partículas finas para a saúde. Já se sabe que a exposição prolongada a micropartículas causa inflamação pulmonar e problemas cardiovasculares, além de as pessoas com problemas respiratórios e cardiovasculares infectadas pelo Covid-19 terem uma taxa de letalidade mais alta.

Isso pode explicar, em parte, o impacto da epidemia na Itália:

“O Vale do Pó é uma das áreas mais poluídas da Europa e isso também pode ter desempenhado um papel importante no alto número de vítimas registradas na Lombardia”, acrescenta Dominici.

O estudo de Harvard não explica os efeitos fisiológicos e clínicos da poluição na doença. Mas pode ser útil para organizar uma resposta à epidemia.

“Nos diz que as áreas mais poluídas receberão um número maior de pessoas gravemente doentes, assim que a infecção se espalhar”, esclarece a pesquisadora.

A equipe de pesquisadores tornou públicos os dados da estudo, inclusive, para que eles possam ser revistos, informa Dominici:

“Fizemos isso para que todos possam analisar nossos dados e aplicar as nossas análises para outras regiões do mundo: é essencial comparar os resultados e ter as melhores informações possíveis para organizar uma resposta da saúde à epidemia. Continuaremos a atualizar a análise à medida em que o número de casos aumentar: infelizmente haverá muitas outras vítimas nos Estados Unidos”.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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