DMT, a terapia psicodélica: benefícios e riscos


O termo DMT costuma aparecer em conversas sobre psicodélicos, mas quando o foco é a chamada “terapia com veneno de sapo” a substância mais relevante é o 5-MeO-DMT, um parente químico da DMT que tem ganho atenção por provocar experiências intensas, rápidas e, para muita gente, transformadoras. Este texto descreve o que é 5-MeO-DMT, como tem sido usado em contextos terapêuticos e espirituais, que tipo de evidência existe hoje e quais são os riscos médicos, psicológicos e regulatórios que precisam ser levados em conta. As afirmações centrais abaixo estão apoiadas em estudos e revisões científicas recentes.

Imagem mostra uma escada para a mente. Psicodélicos

Imagem mostra uma escada para a mente. Psicodélicos

O que é 5-MeO-DMT e de onde vem

5-MeO-DMT é uma triptamina psicoativa encontrada em algumas plantas e na secreção cutânea do sapo do deserto de Sonora, Incilius (antes Bufo) alvarius. A experiência provocada pelo 5-MeO-DMT costuma ser muito breve em duração quando vaporizado ou inalado, mas extremamente intensa: relatos descrevem perda da sensação de si (self), dissolução de fronteiras entre sujeito e mundo, e episódios de insight ou “revelação” que algumas pessoas descrevem como espirituais.

A literatura clínica recente tem estudado formulações padronizadas (p. ex. vaporizações controladas ou apresentações sublinguais) para uso em ambientes supervisionados. (Revisão de segurança, Frontiers in Psychiatry, 2024)

Por que as pessoas procuram esse tipo de terapia?

Pessoas procuram 5-MeO-DMT por motivos variados. Algumas buscam alívio rápido de sintomas de depressão ou ansiedade quando tratamentos convencionais falham. Outras procuram um tipo de trabalho espiritual ou místico que permita reavaliar traumas e padrões de vida.

Estudos observacionais e relatos clínicos mostram associações entre experiências intensas com 5-MeO-DMT e reduções auto-referidas de depressão, ansiedade e sintomas de TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático).

Há relatos de melhora já no dia seguinte após uma sessão em casos selecionados. Um estudo de caso longitudinal documentou melhora clínica marcante em uma paciente com TEPT refratário após uma única dose inalada estimada em 10–15 mg. (Caso de TEPT, Frontiers in Psychiatry, 2023)

Como a substância tem sido estudada em contextos terapêuticos

A pesquisa sobre 5-MeO-DMT está progredindo rápido, mas ainda em fases iniciais comparada a outras psicoterapias assistidas por psicodélicos. Há ensaios de fase I/II com formulações vaporizadas que investigam segurança e sinais precoces de eficácia em depressão resistente. Revisões recentes concluem que, até o momento, os ensaios clínicos publicados mostram um perfil de segurança de curto prazo aceitável em ambientes controlados, sem eventos adversos sérios reportados nesses estudos, e destacam a necessidade de ensaios randomizados maiores com seguimento prolongado.

Paralelamente, há protocolos registrados de ensaios que testam formulações sublinguais de microdoses para sintomas depressivos e ansiosos. (Estudo de fase 1/2 GH001, Frontiers in Psychiatry, 2023; Revisão de segurança, Frontiers in Psychiatry, 2024.

O que a ciência realmente confirma hoje

Os achados robustos ainda são limitados. Há evidência emergente de que 5-MeO-DMT pode induzir experiências místicas intensas que, quando acompanhadas de preparação e integração, se correlacionam com melhoras clínicas iniciais. Ensaios controlados de grande porte e estudos com seguimento para avaliar efeitos de longo prazo, segurança em populações vulneráveis e interações medicamentosas são necessários.

Uma randomização e dupla ocultação bem conduzida publicada em 2025 acrescenta importantes dados sobre tolerabilidade e resposta aguda em voluntários, apontando para fundamentos clínicos promissores, mas reforça a necessidade de replicação e acompanhamento prolongado. (Randomized double-blind study, 2025)

Riscos médicos e psicológicos a considerar

Os efeitos físicos agudos podem incluir náusea, tontura e alterações autonômicas transitórias. Mais importante são os riscos psicológicos: experiências intensas podem desencadear ansiedade aguda, ataques de pânico ou agravar vulnerabilidades psiquiátricas preexistentes.

Pessoas com histórico de psicose ou fragilidade psiquiátrica têm risco aumentado e geralmente são excluídas de estudos clínicos. Interações farmacológicas também são relevantes; combinar 5-MeO-DMT com inibidores de MAO ou com medicamentos que afetam a serotonina pode amplificar efeitos e elevar riscos.

A lacuna mais crítica na literatura é a escassez de dados sobre uso repetido e efeitos crônicos, por isso a vigilância clínica e o seguimento são essenciais em qualquer protocolo terapêutico. (Revisão de segurança, Frontiers in Psychiatry, 2024)

Como a “terapia” realmente funciona na prática clínica?

Nos estudos e nas clínicas responsáveis, a substância nunca funciona isoladamente. A intervenção inclui preparação, administração em ambiente controlado com acompanhamento por profissionais treinados e sessões de integração posteriores. A preparação ajuda a reduzir ansiedade e a clarificar intenções; a sessão propriamente dita é monitorada; e a integração traduz insight em mudanças comportamentais e psicológicas sustentadas.

Em protocolos de pesquisa, esses elementos são padronizados; em retiros comerciais e não regulamentados, a qualidade e segurança variam muito, o que aumenta o risco para participantes.

O panorama regulatório e ético

5-MeO-DMT é controlado ou regulado em muitas jurisdições, o que limita seu uso fora de estudos aprovados. Mas isso gera um mercado paralelo de retiros e sessões não regulamentadas, com riscos legais e clínicos. A pesquisa industrial e acadêmica busca obter evidência suficiente para suportar usos terapêuticos regulamentados, mas estruturas de aprovação exigem ensaios maiores, padrões éticos rígidos e evidência de segurança a médio e longo prazo.

Para quem é mais apropriado considerar essa terapia e quando evitar

Protocolos clínicos atuais costumam selecionar participantes sem histórico de psicose, sem condições cardiovasculares descompensadas e com suporte psiquiátrico claro para integração. Pessoas em uso de antidepressivos que alteram o eixo serotoninérgico requerem avaliação cuidadosa. Fora de contextos de pesquisa controlada, o uso é estritamente desaconselhado por especialistas.

Breve mapa para quem pesquisa o tema por conta própria

Procure por estudos revisados por pares publicados em revistas científicas, prefira resultados de ensaios controlados e verifique se o protocolo incluiu acompanhamento e integração. Evite fontes que promovam “receitas” de extração de secreções animais ou métodos não regulamentados. Há registros públicos de ensaios clínicos que permitem verificar desenho do estudo e critérios de segurança. (Veja aqui um exemplo de registro de estudo).

Leitura rápida para quem quiser ler apenas os pontos centrais

5-MeO-DMT promete efeitos terapêuticos rápidos e profundos quando administrado em contexto clínico estruturado, mas as evidências emergentes são limitadas. Riscos físicos e psicológicos existem e não são desprezíveis. A segurança a curto prazo em ambientes controlados já foi documentada; mas falta compreender totalmente efeitos a longo prazo e cenários de uso repetido. A regulação ainda está em construção e absolutamente não se recomenda o uso fora de protocolos aprovados.

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Redação greenMe

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