Esquizofrenia: estudo revela por que pessoas ouvem vozes que não existem


Estudo publicado em 2025 mostra, pela primeira vez, que o cérebro de pacientes com esquizofrenia reage de forma invertida quando “fala consigo mesmo”, explicando um dos sintomas mais angustiantes da doença.

Uma nova pesquisa internacional confirmou uma teoria que há décadas intrigava a psiquiatria: a de que pessoas com esquizofrenia ouvem vozes porque o cérebro delas confunde pensamentos internos com sons externos.

O estudo, publicado em outubro de 2025 na revista científica Schizophrenia Bulletin, revelou que, durante a fala interna — quando pensamos “em silêncio” —, o cérebro de pessoas com esquizofrenia amplifica os sinais sonoros internos, em vez de suprimi-los, como acontece em cérebros saudáveis. Essa inversão faz com que o pensamento pareça vir de fora, transformando-o na experiência de “ouvir vozes”.

O experimento que mostrou o cérebro “ao contrário”

Os pesquisadores, liderados por Thomas Whitford, da Universidade de New South Wales (Austrália), e colegas da Universidade Chinesa de Hong Kong, testaram 142 pessoas divididas em três grupos:

  • voluntários saudáveis,
  • pacientes com esquizofrenia que estavam ouvindo vozes,
  • e pacientes com esquizofrenia que não apresentavam alucinações no momento.

Durante o experimento, os voluntários eram instruídos a imaginar que diziam sílabas simples (“ba” ou “bi”) enquanto ouviam sons iguais ou diferentes por fones de ouvido. Eletrodos mediam as ondas cerebrais para identificar como o cérebro reagia.

O resultado foi marcante:

  • Pessoas saudáveis mostraram uma resposta cerebral reduzida quando o som ouvido combinava com o que estavam imaginando: o padrão esperado, sinal de que o cérebro reconheceu o som como “interno”.
  • Pacientes ouvindo vozes mostraram o oposto: uma resposta aumentada nessas mesmas situações, como se o cérebro reforçasse o som em vez de suavizá-lo.
  • Pacientes sem alucinações no momento exibiram um padrão intermediário, diferente dos dois anteriores.

Quanto mais intensos eram os sintomas de alucinações auditivas, mais forte era essa resposta invertida no cérebro, indicando uma correlação direta entre o fenômeno e a gravidade das vozes ouvidas.

Quando o cérebro confunde pensamento com som

As alucinações auditivas (ouvir vozes sem fonte externa) afetam até 75% das pessoas com esquizofrenia. Essas vozes podem ser críticas, ameaçadoras ou conversacionais, e frequentemente causam grande sofrimento.

O novo estudo reforça uma teoria antiga: essas vozes surgem porque o cérebro perde a capacidade de distinguir entre o que é pensamento interno e o que é som externo. Quando o sistema cerebral que normalmente “silencia” a fala interna falha, o pensamento é percebido como vindo de outra pessoa.

Possíveis aplicações clínicas

Os pesquisadores acreditam que esse achado pode abrir caminho para novas formas de diagnóstico e acompanhamento da esquizofrenia. Em vez de depender apenas de relatos subjetivos dos pacientes, médicos poderiam medir diretamente a atividade cerebral para identificar riscos precoces de psicose ou avaliar se um tratamento está funcionando.

Atualmente, as principais terapias incluem medicamentos antipsicóticos, psicoterapia cognitivo-comportamental e estimulação magnética transcraniana. Uma medida biológica objetiva poderia aprimorar significativamente essas abordagens.

Teoria antiga, comprovação inédita

A hipótese de que as vozes da esquizofrenia surgem de uma falha no controle da fala interna é antiga, defendida por cientistas desde meados do século XX. Mas até agora, faltavam provas diretas de que esse mecanismo realmente se comportava de forma anômala no cérebro humano.

“Este estudo oferece talvez a evidência mais forte até hoje de que as alucinações auditivas estão relacionadas a uma anormalidade nos mecanismos cerebrais que normalmente suprimem a fala interna”, escreveram os autores.

O que isso significa para o tratamento?

As alucinações auditivas atingem cerca de 75% dos pacientes com esquizofrenia e estão entre os sintomas mais perturbadores da doença. Com essa descoberta, os cientistas esperam desenvolver testes objetivos que identifiquem jovens em risco de psicose ou avaliem a eficácia de tratamentos com base em medidas cerebrais, e não apenas em relatos subjetivos.

Atualmente, o tratamento inclui medicação antipsicótica, terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, estimulação magnética transcraniana. A nova pesquisa pode ajudar médicos a entender melhor se e como essas terapias restauram o funcionamento normal do cérebro.

Um passo adiante na compreensão da mente

O estudo não encerra o mistério, mas oferece um avanço significativo: mostra que ouvir vozes não é algo “místico” ou inexplicável. É o resultado de circuitos cerebrais mensuráveis que operam de modo diferente do normal.

Referência:

Whitford, T. J. et al. (2025). Corollary Discharge Dysfunction to Inner Speech and its Relationship to Auditory Verbal Hallucinations in Patients with Schizophrenia Spectrum Disorders. Schizophrenia Bulletin. DOI: 10.1093/schbul/sbaf167.

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Redação greenMe

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