Estudo demonstra os malefícios dos brinquedos falantes


A comunicação entre pais e filhos começa bem antes de os bebês desenvolverem a linguagem. Ainda na barriga, os pais já conversam com seus filhos e, depois, as conversas tomam a hora do banho, da comida e das brincadeiras. São nesses momentos que as crianças começam a desenvolver a capacidade da linguagem.

Segundo uma pesquisa recentemente publicada na revista JAMA Pediatrics, o desenvolvimento da linguagem das crianças pode ser comprometida por brinquedos que falam, já que provocariam o silêncio entre pais e filhos. Isso porque, durante as brincadeiras, ocorre uma triangulação entre brinquedo, criança e pais, responsável não só pelo desenvolvimento da fala, mas, também, da afetividade.

Se uma mãe, ao indicar um coelhinho, verbaliza o nome do animal, a criança assimila essa informação e tenta reproduzi-la. Entrentato, os brinquedos que emitem luz e sons geram uma sobrecarga de atividade e interesse que rompem esse triângulo de aprendizagem, silenciando pais e filhos.

De acordo com pesquisadora Anna Sosa, especialista em desenvolvimento da linguagem infantil, durante os testes, pais e filhos se comunicavam menos enquanto brincavam com brinquedos eletrônicos em relação aos brinquedos analógicos, como blocos de madeira, bonecos e livros, que provocam mais interação verbal. “Não esperava que os resultados fossem tão claros, já que a coleta de dados ocorreu nos lares dos participantes, com as distrações cotidianas normais”, diz Sosa.

O estudo da pesquisadora foi realizado durante um ano e meio com crianças entre 10 e 16 meses acompanhadas de suas mães (e apenas um pai). O experimento foi realizado na casa dos participantes, para que houvesse uma interação mais realista. Com os brinquedos eletrônicos, as mães usaram 40 palavras por minuto, enquanto ao brincarem com brinquedos analógicos a interação passou para 56 palavras por minuto. Além desse dado quantitativo, qualitativamente a interação entre mães e filhos mostrou-se mais rica e dinâmica quando brincavam com os brinquedos tradicionais.

Sabe-se que os bebês aprendem a falar no relacionamento com adultos, mas não há evidências de que, ao ouvirem máquinas, aprenderão o mesmo. Além disso, a interação com adultos não somente ensina os bebês a falarem mas, também, a desenvolver habilidades sociais.

Especialistas já alertaram sobre eventuais riscos na aquisição vocabular de crianças expostas a celulares e tablets, nos casos em que esses aparelhos substituem as interações sociais, tão essenciais ao desenvolvimento social e da linguagem.

“Acredito que é importante que os pais entendam que estes brinquedos eletrônicos, aplicativos e jogos, inclusive os comercializados como educativos, são um entretenimento para as crianças e não uma ferramenta para seu desenvolvimento”, argumenta Sosa.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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