Nobel da Paz 2021: pela liberdade de expressão, pela democracia


O Prêmio Nobel da Paz 2021 acaba de ser concedido a Maria Ressa e Dmitry Andreyevich Muratov “por seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma pré-condição para a democracia e uma paz duradoura”.

Em um mundo em que, contraditoriamente, a liberdade de expressão enfrenta cada vez mais dificuldades para sobreviver, colocando em risco democracias conquistadas a duras penas, o Prêmio Nobel da Paz 2021 a Maria Ressa e Dmitry Andreyevich Muratov vem muito a calhar.

Ambos, corajosos jornalistas que lutam pela liberdade de expressão em seus países, Filipinas e Rússia, representam todos os jornalistas que defendem o ideal da liberdade de expressão.

Como diz o site oficial do prêmio, Maria Ressa usa a liberdade de expressão para denunciar abuso de poder, violência e autoritarismo crescentes em seu país de origem, as Filipinas, e Dmitry Andreyevich Muratov vem arriscando sua vida há anos, para defender a liberdade de expressão na Rússia.

Quem é Maria Ressa

Nascida em 2 de outubro de 1963 em Manila, Filipinas, Maria Ressa é uma jornalista e autora mais conhecida por co-fundar a Rappler, uma mídia digital de jornalismo investigativo, onde ela se mostrou ser uma defensora destemida da liberdade de expressão.

A Rappler ficou mais famosa por denunciar a campanha antidrogas do regime de Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas. A campanha foi considerada assassina pelo número de mortes que provocou.

A recém-laureada e sua empresa também trabalharam para denunciar e demonstrar como a mídia manipula fatos, espalha fake news e manipula discursos.

Quem é Dmitry Andreyevich Muratov

Dmitry Andreyevich Muratov é jornalista e editor-chefe há 24 anos do jornal russo Novaya Gazeta. Nascido em 1961, em Kuybyshev (agora Samara), ex-URSS (agora Rússia), Dmitry sempre defendeu a liberdade de expressão em seu país em condições cada vez mais perigosas e desafiadoras, como exprimiu o Comitê Norueguês do Nobel.

O Novaya Gazeta é considerado o jornal mais independente da Rússia, com sua atitude fundamentalmente crítica em relação ao poder.

“O jornalismo baseado em fatos e a integridade profissional do jornal o tornaram uma importante fonte de informações sobre aspectos censuráveis ​​da sociedade russa raramente mencionados por outros meios de comunicação. Desde o seu início em 1993, a Novaya Gazeta publicou artigos críticos sobre assuntos que vão desde corrupção, violência policial, prisões ilegais, fraude eleitoral e ‘fábricas de trolls’ até o uso de forças militares russas dentro e fora da Rússia”, informa o Comitê.

As condições cada vez mais desafiadoras do jornalismo na Rússia e no mundo

Os oponentes do jornal de Dmitry Muratov assediam, ameaçam, violentam e assassinam, mas o recém-laureado não se dá por vencido:

“Desde o início do jornal, seis de seus jornalistas foram mortos, incluindo Anna Politkovskaja, que escreveu artigos reveladores sobre a guerra na Chechênia. Apesar dos assassinatos e ameaças, o editor-chefe Muratov se recusou a abandonar a política independente do jornal. Ele tem defendido consistentemente o direito dos jornalistas de escreverem o que quiserem sobre o que quiserem, desde que cumpram os padrões profissionais e éticos do jornalismo. O jornalismo gratuito, independente e baseado em fatos serve para proteger contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra.

Direito de expressão = democracia = paz

Como temos visto recentemente, o Facebook, que é o carro-chefe das mídias sociais Messenger, WhatsApp, Instagram, todas, lideradas por Mark Zuckerberg, vem sofrendo denúncias por parte de uma ex-funcionária da empresa. O que ela coloca em questão, fundamentalmente, é o poder que essas mídias digitais têm hoje em dia de manipular fatos, dados e opiniões, com intuito financeiro e ou político.

É impressionante e paradoxal que hoje, com maiores possibilidades de comunicação por causa da internet, a liberdade de expressão esteja em risco. Não apenas a cultura do cancelamento que está em pauta. É o bloqueio de contas, os medos, as ameaças que muitos jornalistas, influencers e pessoas comuns sofrem se se expressam de maneira diversa da qual deveriam, de acordo com governos, empresas e os donos das grandes mídias.

Claro que liberdade de expressão não deve ser confundida com libertinagem de expressão, que é o uso dos meios de comunicação para disseminar ódio, racismo, etc. Liberdade de expressão é poder se posicionar, com crítica, respeito e fundamento, contra opiniões majoritárias, contra o poder instituído e as políticas impostas.

O Comitê Norueguês do Nobel acredita que a liberdade de expressão e a liberdade de informação são importantes para garantir um público bem informado, um pré-requisito essencial para a democracia e, também para evitar guerras e conflitos muitas vezes fomentados pelos interessados (governos e empresas) com a ajuda dos informadores.

Sem dúvidas, para a promoção da paz no mundo é preciso haver liberdade de expressão.

“A entrega do Prêmio Nobel da Paz a Maria Ressa e Dmitry Muratov tem como objetivo destacar a importância de proteger e defender esses direitos fundamentais. Sem liberdade de expressão e de imprensa, será difícil promover com sucesso a fraternidade entre as nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor para ter sucesso em nosso tempo.”

Parabéns aos laureados, parabéns ao Comitê Norueguês. Liberdade de expressão e democracia é uma luta de todos nós por um mundo verdadeiro, pacífico e igualitário.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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