O que é ser gênio? O que os gênios têm em comum?


O que torna uma pessoa genial? Que qualidades ela possui para se distinguir dos demais seres prosaicos? Existiria algo em comum entre pessoas tão diferentes como Mozart, Beethoven, Leonardo da Vinci, Virginia Woolf, Woody Allen, Albert Einstein, Picasso que as colocasse no círculo seleto dos gênios?

O QI de um gênio

Por definição, um gênio é alguém com enorme capacidade mental. Mas poderíamos acrescentar a essa definição um outro traço: uma enorme capacidade sensitiva.

Embora a genialidade seja associada a capacidades intelectivas notórias, ela é acompanhada de um talento criativo suscitado também por uma capacidade sensorial.

Durante anos buscou-se medir a genialidade das pessoas por uma métrica cognitiva, como o Quociente de Inteligência, o famoso QI. De acordo com a classificação mais recente do Stanford-Binet V, de 2003, é considerado gênio quem tem o QI acima de 160, enquanto o superdotado é aquele que tem um score entre 145 e 160.

Mas será mesmo que essa medida vale para definir um gênio? Quantas pessoas que tiveram um desempenho cognitivo questionável em atividades padrão e não estariam dentro dessa pontuação deixaram um legado para a humanidade?

Polímatas

Tem-se usado a palavra polímata como sinônima de gênio para definir uma pessoa com muitos tipos de habilidades que se materializam em um talento superior. Esse brilhantismo excepcional está acima da mediocridade que rege a visão de mundo da maioria dos mortais.

De acordo com o historiador inglês Peter Burke, os polímatas parecem ter entrado em extinção. Em seu mais recente livro, Polímata – Uma história cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag, o intelectual discorre sobre como os polímatas moveram as fronteiras do pensamento. Ele identifica 500 polímatas ocidentais cujos estudos abrangentes estiveram associados a um rápido crescimento do conhecimento nas eras da invenção da impressão, da descoberta do Novo Mundo e da Revolução Científica. Mais recentemente, as especializações do conhecimento levaram a um academicismo e cientificismo mais fechados, ambiente que vem propiciando um declínio populacional desse tipo de intelectual.

Romantismo

A questão do gênio sempre intrigou a humanidade. Afinal, o que faz uma pessoal ser genial e destacar-se das demais? O que ela realiza, faz, suscita de tão especial?

A filosofia, naturalmente, debruçou-se sobre a questão. Foi o romantismo alemão quem deu início às elocubrações sobre o gênio, um tipo de artista singular cuja disposição anímica era capaz de despertar a criatividade rompendo com as amarras dos valores da tradição. Para o filósofo Immanuel Kant, a faculdade da imaginação é própria do gênio.

O século XVIII inaugura o “período do gênio”, cuja marca seria “inspiração, não transpiração”, fórmula que séculos depois seria contestada pelo gênio Pablo Picasso, para quem o artista deveria transpirar, ou seja, trabalhar arduamente.

Apesar da aparente polêmica, o que os gênios parecem ter em comum é a originalidade, ou seja, gênios rompem com a tradição e com o convencional visto que não copiam o passado e nem criam modelos pelos quais podem ser julgados.

Visão moderna

Para o musicólogo estadunidense Craig Wright, o QI e as notas acadêmicas andam supervalorizados. Wright dedicou-se, nas últimas décadas, a estudar as personalidades mais brilhantes da história da humanidade.

Em uma entrevista para a BBC News Mundo, ele definiu o gênio como aquela pessoa capaz de causar impacto sobre as demais e por mais tempo. Influência e perenidade seriam para o musicólogo as medidas definidoras de uma personalidade genial.

O especialista acaba de publicar o livro The Hidden Habits of Genius: Beyond Talent, IQ, and Grit—Unlocking the Secrets of Greatness (“Os Hábitos Ocultos dos Gênios—Além do talento, QI e coragem, revelando os segredos da grandeza”), no qual esmiuça os 14 traços que os gênios têm em comum.

Um desses traços não é o QI, cujos testes padronizados são incapazes de captar a “essência” de um gênio. Muitas dessas pessoas estudadas por Wright, embora inteligentes, estariam longe de serem aprovadas em um teste de QI.

Para Wright, a maioria das pessoas tem um pensamento lateral, o que significa que somos aptos a ver o mundo de acordo com a diversidade de nossas experiências. O resultado disso é a combinação de uma visão de mundo particular que outras pessoas não conseguiriam ver.

De acordo com esse ponto de vista, pais que investem para que filhos desenvolvam uma habilidade específica integralmente estariam desestimulando a sua capacidade lateral de ser exposto a diferentes experiências. O especialista sugere que, se o seu filho gosta de esporte, você deve encorajá-lo a arriscar-se no aprendizado da pintura ou da música.

É a possibilidade de ser exposto às diferenças que existem no mundo que desperta a capacidade criativa das pessoas.

O que os gênios têm em comum?

Em seu livro, Wright sugere que existem 14 hábitos ou traços de personalidade típicos do gênios. Confira:

  1. Ética de trabalho
  2. Resiliência
  3. Originalidade
  4. Imaginação como a de uma criança
  5. Curiosidade insaciável
  6. Paixão
  7. Desajuste criativo
  8. Rebeldia
  9. Pensamento que ultrapassa fronteiras
  10. Ação oposta ou pensar o contrário
  11. Preparação
  12. Obsessão
  13. Descontração
  14. Concentração

Às vezes, a rebeldia ou o desajuste de uma criança são sinais não de que ela seja um gênio, mas de uma astúcia para ver a vida e de uma sensibilidade especial que devem ser motivadas, e não reprimidas.

Muitas vezes são os “desajustados” – sem querer romantizá-los – que têm uma visão à frente das sensibilidades do seu tempo.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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