Antes e depois da maternidade: 10 verdades desmascaradas depois de virar mãe


A maternidade é um tema cercado de mitos e lugares comuns. As mulheres que embarcam nessa – corajosas, por sinal – sempre se surpreendem com o próprio comportamento depois que se tornam mães. Todo mundo tem pelo menos uma ou duas máximas do que vai fazer (ou deixar de fazer) quando estiver no exercício da função.

Comigo não foi diferente. Eu tinha umas cem máximas sobre como iria me portar. Hoje já posso dizer que eu era uma ingênua. Mal sabia o que a maternidade realmente significava. Nessa viagem sem volta olha só o tanto de coisas que eu disse que ia fazer de um jeito e acabei fazendo de outro…

1. Amamentação

“Vou amamentar, no máximo, só até os quatro meses” – “Ah, não tem necessidade de ficar amamentado direto”, “Meu peito vai cair”, “O bebê vai viciar e não vai querer mais sair”. Quanta bobagem! Nos primeiros dias com a minha filha Valentina eu virei a máquina do mamá. Não era a cada três horas como prega o senso comum (e alguns pediatras bem mal informados), era de três em três minutos. No começo, doía, sangrava, e eu via estrelas nada agradáveis toda vez que a Valentina mamava, mas depois que peguei o jeito, tudo fluiu.

Aquela ideia de interromper a amamentação após quatro meses (ah, porque o bebê já vai comer, eu dizia!), foi sumariamente ignorada pela minha consciência, e, principalmente, pelo meu coração. Depois que me tornei mãe, descobri o que é amamentar de fato. Descobri que o alimento em si é só uma das coisas que envolve o dar de mamar. O nível de conexão mãe-bebê durante a amamentação não é coisa desse mundo. Só quem viveu isso sabe o que estou dizendo. Naquele momento em que o bebê olha com aqueles olhinhos para a mãe, enquanto faz carinho nela, é amor puro na veia.

E vale lembrar: amamentação só faz bem para o bebê. Tanto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda amamentação exclusiva até os seis meses e completar até dois anos ou mais. Hoje sou da Liga das Mulheres de Peito que amam Amamentar seus Filhos (essa Liga não existe, mas devia). Amamento até hoje (a Valentina tem dois anos). E, sim, se ela quiser vai mamar até chegar à faculdade.

2. Dormir com os filhos

“Criança não tem nada que dormir com os pais” – “Sim, por que pais precisam de privacidade, espaço. Como vai ficar a intimidade do casal? E a criança, que vai acostumar com isso e dormir na cama dos pais até os quinze anos”. Eu pensava assim. Eu fiz exatamente o oposto depois que me tornei mãe.

Não que eu não tenha tentando fazê-la acostumar com a ideia do berço. Até tentei, por umas semanas. Mas eu ficava exausta por um motivo muito simples: Valentina acordava umas quinhentas vezes por noite, sempre que isso acontecia eu ia até o berço, pegava-a de lá, dava de mamar, esperava ela adormecer, colocava de novo no berço (com muito cuidado e precisão cirúrgica, caso contrário, ela abria o olho e recomeçava a chorar), e voltava para minha cama. Acontece que quando eu encostava a cabeça no meu travesseiro e fechava, delicadamente, os olhinhos, a minha filha parecia ressurgir com mais força do sono profundo que eu achava que ela estava tendo. Resultado? Recomeçava tudo de novo o ritual mencionado e eu não dormia absolutamente nada. Desde que tomei a decisão de colocá-la na minha cama, meu sono melhorou absurdamente. Não que seja a sétima maravilha do mundo (sono de mãe nunca é), mas já ajuda a não cair no prato de comida de tão cansada.

A cama compartilhada é amplamente defendida por muitos pais por dois motivos: facilita a rotina e estreita o vínculo afetivo. Além disso, é segura. Evidentemente, é necessário adotar certas medidas simples, mas aquela coisa de que a mãe vai amassar o bebê com o peso à noite não procede, por que a mãe sabe, instintivamente, que tem um serzinho ali ao lado. Fora que é uma delícia acordar com seu pequeno te olhando e sorrindo para você.

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3. Crianças e TV

“Não vou deixar assistir TV” – Eu sempre assisti muita TV, mas como sabia o nível de programação televisiva, tinha certeza que não ia deixar minha filha ver esse equipamento “do mal” tão cedo. Acontece que, olha lá o que eu disse, eu sempre assisti muita TV. Como queria que um hábito arraigado em mim deixasse de existir assim, só por causa de uma maternidadezinha?

Preciso explicar. A Valentina não assiste programação televisiva comum. Isso nunca deixei, salvo exceções. Mas ela vê muito desenho. Galinha pintadinha, Luna, Dora, e por aí vai. Desde sempre deixei-a ver musiquinhas infantis e depois dois dois ela passou a ver desenho mesmo. Não que fosse algo que eu quisesse, mas a vida com uma criança é bastante desafiadora, muitas vezes uma rotina atarefada e cheia de obrigações te leva a ligar um desenhinho, “só para varrer a casa”. É assim que nasce um hábito. Tento, sempre que posso, brincar bastante com ela, fazê-la correr, conhecer, criar historinhas. Mas tem momentos em que o desenho salva a minha vida. Tenho certa gratidão por eles. Fazer o quê!?

4. Alimentação

“Filho meu não vai comer porcariada” – Sempre fui bastante preocupada com a minha alimentação. Nunca fui muito fã de guloseimas. Claro que gosto (na verdade, amo) chocolate. Claro que adoro doce (se deixar como o pote de açúcar até), mas sempre preferi optar por alimentos mais naturais, por uma questão de paladar mesmo. Eu sinto muita diferença entre os industrializados e os caseiros (meu paladar e ótimo, devo admitir). Além disso, sempre me preocupei com a questão da saúde. Acredito que o que a gente ingere, fica vivendo com a gente por anos, só esperando para fazer mal.

Com o nascimento da minha filha isso potencializou, mas não consegui chegar na meta de deixá-la chegar aos dois anos para permitir determinadas guloseimas. Como eu como alguma-coisa-nada-saudável, de vez em quando, e minha filha está sempre comigo, fica impossível evitar que ela experimente, por exemplo, um chocolate. Ainda evito determinadas coisas, tanto que ela nem gosta tanto assim dessas porcariadas, mas não foi da forma que eu imaginei, devo admitir.

5. Criação e educação

“Na criação e educação do meu filho, vai ser 50 a 50” – “Ah. Eu sou a mãe, certo? Mas filho é obrigação de dois, pai e mãe. A partir do momento que meu bebê nascer, vou dividir todas as responsabilidades. O pai dela vai ter que trocar fralda, levar ao médico, ninar e tudo mais. Se ele quiser começar a produzir leite também para ajudar, não vou achar ruim. “Eu não vou fazer tudo sozinha”.

Pois é. Mundo ideal aqui fui eu. No longínquo universo A.M (Antes da Maternidade), eu acreditava piamente que criação de filhos é dividida. Porém, mundo real aqui estou, faltou combinar com o pai da pequena.

Muita gente pode me questionar, dizer que eu sou culpada, que fui assumindo tudo e agora ficou tudo para mim. Mas eu não acho que foi isso. O que acontece é que, no começo, o bebê precisa muito, mas muito mais da mãe, principalmente por que o comum é que o bebê queira mamar o tempo todo. Nessa etapa tão difícil, na qual a mãe ainda não se encontrou na sua maternagem, se ela tiver um parceiro, digamos assim, mais folgado, vai acabar assumindo tudo, por que alguém tem que fazer. Acredito que foi isso que aconteceu.

Hoje eu faço absolutamente tudo. O pai dela só arca mesmo com as despesas financeiras, por que aí também já é demais. No mais, o resto – que é tudo – fica comigo. E não vou negar que não ter conseguido dividir as responsabilidades é uma das minhas frustrações da pós maternidade. Mas tudo bem. Tenho plena consciência de que eu estou ganhando todos os dias – em amor, sorrisos e brincadeiras – por cuidar dela com toda minha dedicação.

6. Birras

“Meu filho jamais vai fazer birra” – “Até parece que filho meu vai dar chilique, ficar cheio das vontades, mandando em mim e tocando o terror. Nananinão, eu que vou mandar nessa relação e não vou permitir, em absoluto, ataques de fúria de um pirralho”.

Corta para minha filha chorando copiosamente por não querer tomar banho, ou por querer colocar o ursinho de ponta cabeça sem sucesso, ou por que eu não deixei ela tomar mais uma unidade do iogurte que comprei.

Pois é. Birras e crianças têm tudo a ver. Faz parte do desenvolvimento delas esses ataques de fúria por alguma frustração. Só que eu não sabia disso antes. Não sabia nada, na verdade. Não sabia que, a partir de um ano e meio, bebês começam a lidar com as situações adversas chorando e esperneando muito. Que existem crianças que fazem mais, e outras menos, mas todas fazem. Que só com o tempo a criança vai perceber que desse jeito não vai conseguir mesmo as coisas, que é normal ela não conseguir e por aí vai.

Agradeço por nunca ter sido vítima (sim, é essa a palavra) de um ataque de birra da Valentina em público. Ela tem poucos ataques de fúria, na verdade, mas, de vez em quando, acontece. Isso não quer dizer que sou péssima mãe, só quer dizer que ela está crescendo. A forma como lido com as emoções dela (e com as minhas) é que são determinantes para um futuro comportamento dela. Hoje sei de tudo isso.

7. Rigor e autoritarismo

“Não vou ser boazinha” – “Ah, filho meu vai respeitar regime militar dentro de casa. Vou ser rigorosa. Afinal, criança precisa de limites, e eles só são estabelecidos com muita sisudez e autoritarismo. Essa coisa de deixar a criança mandar em casa não vai acontecer comigo”.

Depois que me tornei mãe, descobri que sou um amorzinho. Então, na verdade, esse discurso de regime militar não se sustentou nem um dia, depois do nascimento da Valentina. Só mesmo quando ela nasceu pude ver como sou realmente como mãe. Prego, acima de tudo, e instintivamente, a criação com apego. A empatia, o diálogo, as risadas por minuto, o carinho, a atenção. Nenhuma dessas coisas combina com a sisudez militarista que eu queria estipular. A Valentina foi responsável, na verdade, por me fazer descobrir um lado meu que eu conhecia bem pouco, o meu melhor lado (sim, é clichê, mas cabe). Sou boazinha e amorosa, porém sem ser permissiva. Minha filha ouve muitos nãos, e, vez ou outra, tenho que falar mais firme mesmo. Já perdi a paciência também. Mas nunca deixei-me contaminar pela ideia de que limites são estipulados pelo medo.

8. Quem manda na programação

“Programação infantil vai ser só para eles, eu vou assistir outras coisas” – “Eu nem gosto de desenho, cantigas infantis, essas coisas. Minha filha vai ver, claro, ela vai ser criança por muito tempo, mas eu vou fazer outras coisas na hora. Além disso, ela não vai mandar na programação televisiva/musical de casa”. Imagina. Até parece.

Atualmente: “Borboletinha, tá na cozinha, fazendo chocolate para a madrinha. Poti, poti, perna de pau, olho de vidro e nariz de pica-pau”. Essa sou eu, não a Valentina, cantando a plenos pulmões para os vizinhos ouvirem. E olha que a minha filha nem precisa estar por perto, nem nada. Peguei gosto por essas musiquinhas. Agora músicas que não falem de borboletinhas, e cirandinhas e baratinhas não entram na minha playlist.

9. Palpites

“Palpites são bem-vindos” – “Ah, as pessoas só querem ajudar. Ainda mais aquelas parentes mães que só querem dar conselhos para nosso bem. Eu vou aceitar, precisamos ter humildade nessas horas. Toda ajuda é bem-vinda”.

Pois vou dizer como as coisas estão hoje. Se você chegar me dando palpite eu vou te olhar como quem diz “Muda o rumo dessa prosa, que não estou gostando nada”. Vou lançar aquele olhar 43 ao contrário e sua vida nunca mais será a mesma.

Exageros à parte, eu passei a detestar palpites. Desde que me descobri como mãe e entrei na dança da maternagem, não aceito, em absoluto, palpites de ninguém, nem mesmo da família. Não que eu saiba tudo e não precise de ajuda. Gente querendo ajudar é sempre bem-vinda, acontece que palpite não é ajuda, é achismo, e eu odeio isso.

Descobri só agora que não se fala para uma mãe como ela deve cuidar do próprio filho. Ela sabe. Ela sabe. Ela sabe. Palpites são inimigos mortais das mães. Nenhuma gosta. Não as que eu conheço.

10. Expor problemas

“Não vou me expor, ninguém tem nada a ver com minha maternagem” – “Eu vou ser aquela mãe que fica na minha, não vou militar causa alguma, não vou dizer como é minha rotina, nem entrar em discussões sobre o tema”.

Corta para esse texto que está bem aqui na sua frente. Se isso não é exposição, eu não sei mais o que é. Desde que me tornei mãe, descobri um universo de compartilhamento e troca de experiências muito ricas na internet. Por isso também fiz um blog, o Mamãe me Cria. Nele divago sobre a maternidade, falo da minha rotina, de como é cuidar da minha pequena. Claro que não a exponho, dando detalhes pessoais, endereço, nome de escola, nem nada. Também não costumo publicar fotos dela, nem mesmo no blog. No entanto, todo mundo que acessa o Mamãe me Cria sabe como penso e como crio a Valentina. Muito prazer, isso é exposição.

Essa lista, certamente, é bem maior (sim, conseguiria fazer um texto bem maior que esse, já que para os meus parâmetros esse até que ficou pequeno), mas acredito que consegui passar o quão é diferente o antes e depois da maternidade. Você não saberá como é ser mãe até virar uma. Ter filhos muda a gente, nos transforma, de verdade, e é uma das experiências mais ricas que eu já vivi. Tenho certeza que praticamente todas as mães diriam o mesmo. Por isso, digo que ser desmentida pelo tempo pode ser algo muito bom. Como bem dizia Machado de Assis, vida diferente não quer dizer vida pior, é outra coisa.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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