Em meio à pandemia, Bolsonaro e Trump estão juntos, na contramão do mundo


Jair Bolsonaro causou perplexidade na noite de ontem (24). No pronunciamento em cadeia nacional, ele voltou a chamar a pandemia de coronavírus de “gripezinha”, minimizou o fato de que o vírus vem ceifando a vida dos idosos mundo afora e perguntou por que as crianças não estavam nas escolas.

Na contramão do que tem feito todos os outros países do mundo, em total discordância com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e mais uma vez desautorizando seu próprio Ministério da Saúde, o presidente do Brasil pediu que o país voltasse a normalidade. E, ao agir assim, deixou claro que está disposto a seguir os passos de Donald Trump até as últimas consequências.

Contextualizando

Vale contextualizar a fala de Bolsonaro: o pronunciamento se deu no mesmo dia em que o presidente americano se manifestou de forma muito semelhante. E, também, no mesmo dia em que o número de casos confirmados na maior potência do mundo se multiplicaram, fazendo com que a OMS alertasse para a possibilidade de que os Estados Unidos venham a se tornar o novo foco da pandemia de coronavírus, conforme noticiou a agência de notícias EFE.

A despeito de tudo isso, Donald Trump falou em amenizar as restrições e reabrir o país, defendendo um retorno às atividades e, principalmente, que os jovens voltem ao trabalho.

“Você pode destruir um país se o desligar”,

disse o presidente norte-americano, em uma fala que também se distancia das autoridades médicas dos Estados Unidos, mas ecoa a preocupação dos círculos empresariais e dos investidores de Wall Street, como destacou a reportagem dessa terça-feira (24) do jornal El País.

Além disso, Trump, que se elegeu com o discurso de que reconduziria o país ao crescimento econômico, se vê agora às portas de uma grave recessão que pode minar suas possibilidades de reeleição.

“Perdemos milhares de pessoas todos os anos devido à gripe e nunca fechamos o país. Perdemos muito mais gente em acidentes de automóvel e não o proibimos. Podemos nos distanciar socialmente, podemos deixar de apertar as mãos por um tempo. Morrerá gente. Mas perderemos mais gente se mergulharmos o país em uma recessão ou uma depressão enorme. Milhares de suicídios, instabilidade. Você não pode fechar os Estados Unidos, o país mais bem-sucedido. As pessoas podem voltar ao trabalho e praticar o bom senso”, disse Trump. “O remédio é pior que a doença […] mais gente morrerá se deixarmos que isto continue”, acrescentou.

É importante destacar que, há um mês, os italianos, citados ontem por Bolsonaro como tão diferentes a ponto de não nos servirem de exemplo, também haviam afrouxado as restrições à circulação de pessoas no país devido à pressão dos interesses econômicos. “Itália muda estratégia contra o coronavírus para combater o alarmismo e proteger a economia”, dizia a manchete do El País no dia 28 de fevereiro. Deu no que deu.

Líderes políticos e autoridades brasileiras se manifestaram contra o posicionamento de Bolsonaro logo depois de sua fala em cadeia nacional. Entre eles, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e os secretários de saúde do Nordeste, que se dizem “estarrecidos”.

Ainda não se tem clareza de quais serão as consequências desse gesto de dar às mãos a Donald Trump a qualquer preço e andar na contramão do mundo neste cenário de pandemia. Nos países mais desenvolvidos, o que se viu até agora foi uma presença maior do Estado, não apenas instando os cidadãos a ficarem em casa, mas, paralelamente a isso, atuando como garantidor de direitos trabalhistas, protegendo os mais vulneráveis e reforçando setores públicos estratégicos.

Mesmo nos Estados Unidos, o epicentro do liberalismo no mundo, será votado ainda hoje um pacote de medidas no valor de 2 trilhões de dólares, dos quais 500 bilhões serão destinados às indústrias impactadas pela crise e 100 milhões de ajuda para os hospitais. Antes, Trump já havia anunciado uma renda mínima no valor de mil dólares para auxiliar os trabalhadores.

Que a sociedade brasileira reaja e, assim, evite uma catástrofe.

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Gisele Maia

Jornalista e mestre em Ciência da Religião. Tem 18 anos de experiência em produção de conteúdo multimídia. Coordenou diversos projetos de Educação, Meio Ambiente e Divulgação Científica.


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