Apego evitativo: o que é, por que se desenvolve e como reconhecer


A teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby e expandida por Mary Ainsworth, sugere que os vínculos formados na infância com cuidadores influenciam os padrões de relacionamento na vida adulta. Dentro desta perspectiva, o estilo de apego evitativo refere‑se a uma modalidade insegura em que o indivíduo tende a evitar intimidade emocional, valoriza a autonomia e pode minimizar ou negar necessidades de proximidade.

Características típicas incluem:

  • dificuldade em confiar nos outros ou depender emocionalmente deles;
  • preferência por distância ou separação quando surgem demandas de intimidade;
  • repressão ou desativação de emoções ligadas à vulnerabilidade;
  • tendência a manter uma imagem de autossuficiência, evitando demonstrar fraqueza.

Evidências empíricas indicam que o apego evitativo está associado a pior qualidade em relacionamentos íntimos, comparado ao apego seguro. Por exemplo, uma meta‑análise sobre adultos encontrou que a dimensão de evitamento tem impacto negativo sobre aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais dos relacionamentos íntimos. Além disso, esse estilo de apego mostra associações com dificuldades de regulação emocional e com saúde física‑psicológica em contextos de estresse.

Por que o apego evitativo se desenvolve

Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento do apego evitativo:

  • Experiências de cuidador emocionalmente indisponível ou consistente em não responder às necessidades de proximidade (pais ou cuidadores frios emotivamente);
  • Vivências contínuas de abandono ou rejeição (pequenas feridas emocionais que viram grandes traumas);
  • Ambientes familiares que valorizam autonomia extrema.

Ademais, há evidência de que o estilo de apego evitativo pode ser transmitido entre gerações. Por exemplo, em famílias com pais com transtorno do humor, os filhos apresentaram maiores escores de apego evitativo.

Como reconhecer o apego evitativo

Quando consideramos relacionamentos amorosos ou de amizade, alguns sinais que podem sugerir apego evitativo são:

  • Relutância em se comprometer ou em declarar sentimentos;
  • Quando confrontado com maior intimidade ou vulnerabilidade, tende a se afastar ou minimizar a situação;
  • Prefere manter controle ou independência, “não depender de ninguém”;
  • Pode surgir “ghosting” emocional ou físico quando a relação exige emocionalmente;
  • Expressões superficiais de afeto, ausência de acompanhamentos nos problemas emocionais do outro;
  • Alta sensibilidade à “invasão” emocional ou demandas de proximidade intensa, o que pode gerar resistência;
  • Dificuldade em expressar emoções e também em compreender as emoções alheias (falta de empatia e alexitimia)

Estudos de neurociência e rastreamento ocular também identificaram que indivíduos com apego evitativo mostram padrões de atenção diferentes a estímulos de conforto/interação emocional: por exemplo, priorizam estratégias de “desativação” frente a estímulos de apego.

Diferenças entre apego evitativo e outras condições psíquicas

Embora o apego evitativo compartilhe algumas manifestações externas com outros padrões, como dificuldade de intimidade e manutenção de distância emocional, ele é distinto do transtorno de personalidade narcisista e da psicopatia.

O transtorno de personalidade narcisista (TPN) envolve um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia. Indivíduos com TPN podem explorar os outros para reforçar a própria autoimagem e reagir intensamente a críticas.

A psicopatia, ou sociopatia, caracteriza-se por desprezo pelas normas sociais, impulsividade, manipulação e ausência de remorso, sendo mais grave em termos de comportamento antiético ou criminoso.

O apego evitativo, por outro lado, está centrado na evitação da vulnerabilidade e da intimidade, sem necessariamente envolver exploração ou violação de normas sociais. Apesar de algumas semelhanças superficiais, a motivação interna e o impacto relacional são diferentes.

Não é fácil reconhecer as diferenças. Para um leigo, uma pessoa com apego evitativo pode parecer fria, manipuladora ou até psicopata, mas cada caso é singular e deve ser analisado em seu contexto específico.

Reconhecendo padrões e possibilidades de mudança

No contexto prático, sinais de apego evitativo incluem relutância em se comprometer, fuga diante de vulnerabilidade e manutenção consistente de barreiras emocionais. No TPN e na psicopatia, padrões de manipulação, busca de validação e exploração interpessoal são mais evidentes e persistentes.

A mudança depende principalmente da disposição do indivíduo em reconhecer que esses padrões afetam suas relações. Pessoas com apego evitativo muitas vezes não percebem um problema, pois manter distância pode parecer funcional.

Intervenções incluem psicoterapia focada em vínculo e regulação emocional, com ênfase em aumentar a tolerância à vulnerabilidade e a capacidade de criar conexões seguras. Entretanto, é comum que os evitativos não busquem ajuda espontaneamente.

Na prática, geralmente são os parceiros, familiares ou amigos que sofrem com o relacionamento que procuram orientação, porque conviver com alguém evitativo pode gerar a sensação de estar lidando com uma pessoa fria, inanimada, desapegada, insensível e indiferente.

Observação importante

Este artigo tem caráter informativo e educativo e não substitui avaliação profissional. O conteúdo não serve para diagnóstico, tratamento ou orientação clínica individual. Se houver dúvidas sobre saúde mental, recomenda-se procurar um psicólogo ou psiquiatra qualificado.

Lembre-se: você não pode mudar o outro. No máximo, pode mudar a si mesmo.

Se estiver sofrendo em um relacionamento com uma pessoa evitativa, pergunte-se por que se mantém em uma relação pouco ou nada satisfatória para você.

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Referências

Li, T. & Chan, D. K‑S. (2012). How anxious and avoidant attachment affect romantic relationship quality differently: A meta-analytic review.

Zhang, X. et al. (2022). The relationship between adult attachment and mental health.

Mohay, J. (2025). The relationship between adult attachment styles and trait narcissism.

Bretaña, I. et al. (2022). Avoidant Attachment, Withdrawal–Aggression Conflict Resolution, and Relationship Satisfaction.

Ahmadi, V. et al. (2013). The Relationships Between Attachment Styles and Narcissism Among Students.




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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