Carnaval 2017: samba-enredo polêmico desagrada a turma do agronegócio


As escolas de samba, geralmente, escolhem o seu samba-enredo para contar uma história através da música, da performance e da visualidade. Extremamente popular no carnaval brasileiro, as escolas de samba costumam homenagear artistas nacionais, a tratar de temas de interesse popular e a fazer críticas sociais em seus desfiles.

Este ano, parece que quem não está gostando nada de um samba-enredo é a “turma” do agronegócio. É que a escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense escolheu homenagear o Xingu indígena, trazendo informações sobre os grandes problemas enfrentados pelos povos da região.

A coordenadora do Instituto Socioambiental, Adriana Ramos, que participou do programa Natureza Viva, da EBC, relatou que foi surpreendida com a reação de algumas organizações representativas do setor do agronegócio, que estão reclamando do enredo da Imperatriz Leopoldinense.

Para Adriana, “essa é uma polêmica desnecessária porque o carnaval taí e as escolas de samba sempre dando espaço para mostrar diferentes visões de mundo, diferentes histórias e esta é só mais uma história que vai para a avenida, como a do agronegócio foi, no ano passado, com a Unidos da Tijuca”.

Críticas ao setor

Para os povos indígenas do Xingu é importante ter a sua história contada na Avenida pela Imperatriz Leopoldinense, que fará, sim, críticas ao agronegócio. Algumas de suas alas vão se chamar “fazendeiros e seus agrotóxicos”, “pragas e doenças” e “a chegada dos invasores”, como forma de abordar e refletir essa parte da história do Brasil, segundo o site Agron.

Vai desfilar na Marquês de Sapucaí uma crítica ao agronegócio, à forma como os alimentos estão sendo produzidos no país e ao desmatamento. Claro que as lideranças do agronegócio não estão gostando nada disso, mas é curioso que elas se interponham de forma tão reacionária publicamente, no intuito de impedir que tais temas, de interesse para os todos os brasileiros, sejam mostrados no Sambódromo para todo o país e para o mundo. Afinal, se o agronegócio fosse tão bom, essas lideranças não estariam receosas, não é mesmo?

Confira, a seguir, a letra do samba-enredo da polêmica, “Xingu, o Clamor da Floresta”, da escola de samba Imperatriz Leopoldinense:

“Brilhou… a coroa na luz do luar!

Nos troncos a eternidade… a reza e a magia do pajé!

Na aldeia com flautas e maracás

Kuarup é festa, louvor em rituais

Na floresta… harmonia, a vida a brotar

Sinfonia de cores e cantos no ar

O paraíso fez aqui o seu lugar

Jardim sagrado o caraíba descobriu

Sangra o coração do meu brasil

O belo monstro rouba as terras dos seus filhos

Devora as matas e seca os rios

Tanta riqueza que a cobiça destruiu

Sou o filho esquecido do mundo

Minha cor é vermelha de dor

O meu canto é bravo e forte

Mas é hino de paz e amor

Sou guerreiro imortal derradeiro

Deste chão o senhor verdadeiro

Semente eu sou a primeira

Da pura alma brasileira

Jamais se curvar, lutar e aprender

Escuta menino, raoni ensinou

Liberdade é o nosso destino

Memória sagrada, razão de viver

Andar onde ninguém andou

Chegar aonde ninguém chegou

Lembrar a coragem e o amor dos irmãos

E outros heróis guardiões

Aventuras de fé e paixão

O sonho de integrar uma nação

Kararaô… kararaô… o índio luta pela sua terra

Da imperatriz vem o seu grito de guerra!

Salve o verde do Xingu… a esperança

A semente do amanhã… herança

O clamor da natureza

A nossa voz vai ecoar… preservar!”

Especialmente indicado para você:

AGROTÓXICOS, UMA QUESTÃO DE ESCOLHA

KÁTIA ABREU DEFENDE DESMATAMENTO

KÁTIA ABREU É NOTÍCIA NO THE GUARDIAN




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...