Os perigos do turismo no Mar Ártico


Muitas pessoas, quando saem de férias, estão interessadas apenas em fazer comprar e tirar selfies para postar nas redes sociais. Quem faz parte dessa turma perde o melhor de quando se sai para viajar, que é tentar, ainda que à distância, integrar-se à cultura local para conhecer os hábitos e costumes daquele povo que nos recebe.

É com informação que passamos a ver a beleza naquilo que é diferentes de nós e a respeitar a diversidade. Ao invés de criticar a proibição do uso de biquíni nas praias do Marrocos, que tal conhecer a razão dessa regra social? Ao invés de se escandalizar com o topless nas praias francesas, que tal buscar entender que a cultura de lá trata o topless como tratamos o fio dental?

Além de turistas que não dão a menor bola para conhecer o povo que abre as suas portas para recebê-los, há aqueles que fazem turismo predatório. É o que vem acontecendo nos países que integram a região do Mar Ártico, os quais vêm recebendo cada vez mais navios de tamanhos maiores, que não acessavam a região há alguns anos devido ao derretimento das enormes geleiras. O problema é que a visita desses gigantes traz sérios riscos a um ecossistema já bastante frágil.

Por causa do aquecimento global, que provocou o derretimento dos icebergs, a rota que ligava os oceanos Atlântico e Pacífico pelo Ártico está livre nos meses de verão no hemisfério norte. Esse desastre ambiental, infelizmente, foi visto como oportunidade para pessoas que querem ganhar dinheiro a qualquer custo. Uma operadora de turismo realizou uma viagem do Alasca a Nova Iorque, pelo período de um mês, em um cruzeiro pelo valor mínimo de US$ 19.755 (cerca de R$ 63.400 mil) por passagem, para 1,7 mil passageiros e tripulantes. A empresa anunciou que em, 2017, haverá outra excursão. O alerta de executivos do setor de navegação é sobre os efeitos que esse tipo de turismo pode acarretar para o meio ambiente e para as populações locais.

O óleo combustível dos navios é pesado e demora muito tempo para se dissolver em condições frias, logo o seu efeito nocivo para o meio ambiente é muito maior na região do Ártico. Essa é a preocupação de Marco Lambertini, diretor-geral da organização conservacionista WWF (World Wildlife Fund International), que se agrava considerando-se que uma operação de limpeza aí é muito complicada porque o óleo, se ficar preso sob o gelo, pode percorrer centenas de quilômetros, segundo informou à Reuters.

Riscos ambientais e sociais

Em 2017, as Organizações das Nações Unidas passarão a tornar mais duras as exigências quanto ao tráfego marítimo e ao controle da poluição no Ártico com a implementação do Código Polar. Por essa norma, será proibido o uso de óleo combustível pesado no Oceano Antártico.

Para Daniel Skjeldam, presidente-executivo da Hurtigruten, uma operadora de navios de cruzeiro nos oceanos Ártico e Antártico, é preciso que os países do Ártico regulamentem de forma coordenada ações de proteção para a região. Segundo ele, medidas como limitar o tamanho dos navios e impedir o uso de óleo combustível devem ser implementadas. “Potencialmente, um acidente envolvendo um navio de porte muito grande seria um desastre ambiental”, disse ele, ao se referir aos cruzeiros com capacidade para mais de 600 pessoas que circulam pelas águas geladas do Ártico.

Além da questão ambiental, os navios afetam a vida das comunidades árticas. Pequenas ilhas estão sendo transformadas em pontos turísticos. A população reclama de estresse, já que as visitas aumentaram muito, além do impacto negativo sobre a natureza. Segundo o guia sueco Fredric Froeberg: “este lugar não pode se tornar grande demais. De outra forma, haveria exploração excessiva, como em tantas outras partes do planeta. O fantástico aqui é a natureza”.

Seria bom se as pessoas entendessem que turismo não é invasão. Antes de sairmos para as nossas (merecidas) férias, devemos ser responsáveis sobre o que vamos levar para o lugar que irá nos receber.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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