Praga de caramujo – uma receita prática para controlar os caramujos em seu jardim


Jardim, horta, tem bicho, sempre. Caramujos, lesmas, e similares vêm em busca de alimento bom e umidade, e comem as folhas, fazem estragos. E muitos são, inclusive, vetores de parasitoses que podem afetar o ser humano, ou mesmo de vírus e bactérias. Aqui quero falar do caramujo-gigante-africano, de origem africana, o Achatina fulica, que infesta jardins e hortas do Brasil todo. E também, desconfundir esse com o caramujo brasileiro (Megalobulimus sp) que também é grandalhão mas não deve ser exterminado.

O Achatina fulica no Brasil – por quê?

O “caramujão” africano chegou ao Brasil no final da década de 1980 sem convite formal, em uma feira agropecuária do Paraná, para ser cultivado e oferecido ao nosso mercado como comestível – escargot – só que não emplacou. Então, foi descartado pelos seus compradores – sim, foi jogado pela janela no matinho do vizinho e agora é encontrado em 25 estados brasileiros e mais o Distrito Federal. Parece que só não entrou no Rio Grande do Sul, vá-se lá saber Deus porquê! Então, claro, esse é mais um dos grandes estragos ecológicos que o ser humano faz, sabendo ou não de suas consequências, em nome do lucro em um mercado que não visa o bem-estar e o equilíbrio.

Bem, o caramujo-gigante-africano não tem predadores naturais fora de suas terras de origem, a África. E mais, ele é vetor doenças potencialmente maléficas ao ser humano como é a meningite eosinofílica, que é causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis que infesta o caramujo-gigante-africano e outros caramujos, caracois, lesmas ou caranguejos.

Aliás, o caramujo-gigante-africano na verdade deveria ser chamado de caracol-gigante-africano. Como explica o Wikipedia, o nome caramujo se dá aos moluscos de água doce e o Achatina fulica é um molusco terrestre pulmonado.

Caramujo (ou caracol que seja) infectado pode causar doença e você pode ser contaminado se o ingerir como alimento ou através da sua baba que fica nas plantas quando ele passa. Por isso é preciso usar luvas para catar caramujo.

Como diferenciar o caramujo-gigante-africano do caramujo brasileiro?

Como diz a Fiocruz, o caramujo nativo brasileiro também conhecido como caramujo-da-boca-rosada ou aruá-do-mato, o Megalobulimus sp, só se parece com seu “irmão” africano pelo tamanho avantajado.

Mas, o nosso, nativo, tem a boca avermelhada, não cortante pois sua concha é mais grossa e romba, ele tem o formato mais bojudo, com menos riscos e só bota dois ovos a cada ciclo reprodutivo.

Já o africano bota 400 ovos amareladinhos (e os danados, para além disso, são hermafroditas, macho e fêmea num bicho só!) a cada ciclo reprodutivo e sua concha parece gilete, corta mesmo para além de ter mais giros e ser mais alongada.

Veja na foto abaixo. Note a diferença entre as duas espécies de caramujos, mostradas pela especialista Silvana Thiengo em entrevista à Fiocruz (entrevista completa leia aqui). O caramujo à esquerda, de bordas grossas, avermelhadas e figura mais rombuda é o nativo, brasileiro. No lado direito, o caramujo africano.

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Mas, e quando os caramujos abundam no jardim, o que fazer?

O jeito é catar caramujo todas as manhãs, especialmente no tempo chuvoso que é quando eles aparecem de seus esconderijos. Catar com luvas, como já dissemos acima, e descartar os bichos, depois de mortos e quebradas suas conchas, no lixo ou enterrados em buraco fundo, longe de cursos d’água. Ah, mas jogue cal nos restos antes para evitar a propagação de contaminantes biológicos que porventura os caramujos transportem. E esmague bem as conchas, e os ovos, infinidades de bolinhas amarelas que aparecem quando a gente quebra o caramujo.

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Na foto, caramujo africano cheio de ovos

Para juntar caramujo com mais facilidade, faça iscas

É, caramujo gosta de cerveja, leite, berinjela, chuchu, vaso de barro de ponta cabeça – tudo isso pode funcionar como isca, atrativo de caramujos o que facilitará a coleta manual.

Então, estopa molhada em cerveja ou leite, potes pequenos com cerveja ou leite, pedaços grandes de berinjela ou chuchu espalhados pelo jardim, vasos de barro de cabeça para baixo onde os caramujos e lesmas gostam de se esconderem. Experimente essas dicas e continue recolhendo os caramujos da sua horta. Mas, lembre-se, isso é para sempre ou, pelo menos, durante a época mais úmida.

Outra dica interessante é usar palha de arroz, serragem ou algum material secante e áspero para cobrir a superfície dos seus vasos. Caramujos e lesmas não andam bem sobre este tipo de material, ficam imobilizados, desidratam. Você protegerá assim suas plantas e poderá recolher os invasores na manhã seguinte.

Aruá-do-mato não é praga, fique atento!

Para proteger sua horta e sua saúde, com as informações dadas, é preciso contudo ficar atento para não confundir as espécies na hora de fazer a limpeza do jardim, e acabar matando bicho “inocente” como o nosso molusco nativo, o aruá-do-mato (Megalobulimus oblongus), do qual já falamos sobre a sua semelhança com a praga Achatina fulica.

Esta é a concha do aruá-do-mato:

arua do mato

Fonte e foto: Wikipedia

Este caracol terrestre endêmico do Brasil e da América do Sul costuma ter entre 7 e 11 cm de concha.

O aruá-do-mato é considerado um animal em risco de extinção, classificado como “vulnerável”, por causa de 3 principais motivos:

1. a devastação da Mata Atlântica

2. por causa da sua competição com o Achatina fulica, a praga da qual falamos neste post

3. e também porque são vendidos como animais de estimação ou então por causa de sua concha muito apreciada por colecionadores.

Portanto, atenção! Essas dicas servem para todo tipo de caramujo ou lesma que sejam pragas capazes de fazer estragos em nossas plantinhas domésticas, especialmente nas mais tenras e gostosas. Mas, se suas folhas de couve estiverem esburacadas pelos bichos, elas ainda poderão ser comidas depois de bem lavadas e bem cozidas.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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