Duas crianças Yanomami morrem ao serem “sugadas” por draga de garimpo


Duas crianças Yanomamis morreram nesta terça-feira, 12, ao serem “puxadas” na água por uma draga de garimpo e levados pela correnteza. O acidente ocorreu na comunidade de Makuxi Yano, em Alto Alegre (RR).

Os dois meninos, um de 5 e o outro de 7 anos, eram primos e brincavam na beira do rio que banha a comunidade quando foram arrastados, na região de Parima, segundo o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY). O primeiro corpo foi encontrado na quarta-feira (13) e o segundo corpo foi encontrado nessa quinta-feira (14) pelo Corpo de Bombeiros.

Mais uma tragédia cuja responsabilidade é da invasão garimpeira ilegal.

O vice-presidente da Hatukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa, lamenta na nota divulgada:

“A morte de duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros. Até setembro de 2021, a área da floresta destruída pelo garimpo ilegal da TIY superou a marca de 3 mil hectares – um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020.”

TIY – Maior reserva indígena do Brasil

A Terra Indígena Yanomami – TIY tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima, Amazonas e parte da Venezuela. Aproximadamente 27 mil indígenas vivem na região em mais de 360 comunidades.

Na região do Parima, onde está a comunidade Makuxi Yano, foram atingidos 118,96 hectares da floresta degradada, um aumento de 53% desde dezembro de 2020.

A área da Terra Yanomami é alvo do garimpo ilegal de ouro desde a década de 1980. A atividade teve aumento de 1000% entre dezembro de 2020 e setembro de 2021. Além da contaminação dos rios, a busca intensificada pelo minério gera conflitos armados, degradação da floresta e ameaça à saúde dos indígenas.

Durante a pandemia, o número de casos de Covid-19 aumentou devido à presença dos garimpeiros. Em apenas três meses, as infecções avançaram 250%.

Apoio das lideranças contra o garimpo ilegal

Pelo menos quatro comunidades indígenas na região da Terra Yanomami em Roraima foram atacadas por garimpeiros ilegais nos últimos meses: Yakepraopë, Maikohipi, Korekorema e Tipolei.

O clima de ameaças segue os Yanomami desde abril diante de seguidas perseguições e ataques pelos garimpeiros. Os invasores agridem, perseguem, ameaçam e atacam usando diversos tipos de violência.

A Fundação Nacional do Índo (Funai) declara estar à disposição e acompanha o caso por meio da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye’Kwana.

Kopenawa da HAY pede ajuda às lideranças:

“As autoridades brasileiras precisam continuar atuando para proteger a Terra-Floresta e impedir o que garimpo ilegal continue ameaçando nossas vidas. O Fórum de Lideranças da Terra Indígenas Yanomami se reuniu em setembro para trazer a voz da floresta e já dissemos: o aumento da atividade garimpeira ilegal na TIY está refletindo em insegurança, violência, doenças e mortes para os Yanomami e os Ye’kwana.”

Já são 4 crianças Yanomami mortas pelo garimpo ilegal em seis meses. Outras duas crianças morreram afogadas no rio fugindo de disparos de armas na região do Palimiu, também em Roraima, em maio.

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Lara Meneguelli


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