Causa indígena: dois casos que revelam o prenúncio de uma guerra


O clima de tensão entre índios e ruralistas, infelizmente, está a ponto de eclodir em violência. Dois fatores recentes nos fazem refletir em toda a jornada dos povos indígenas por direitos civis. Como não têm sido atendidos, a paciência dessas pessoas – que já dura o tempo da República, ao menos – parecia infinita, está terminando. E os resultados disso podem ser terríveis.

A reunião que foi sem ter sido

Para começar, na última quinta-feira, 29 de maio, houve, enfim, o encontro de lideranças indígenas que protestavam, no Dia Nacional de Mobilização Indígena com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Entretanto, o saldo não foi positivo para os movimentos de defesa de direitos indígenas. Nada foi modificado, no horizonte das reivindicações dos povos nativos do Brasil. Caciques comentaram a decisão do ministro, que se relaciona à abertura de mesas de discussão sobre acordos, mas que, na visão desses representantes, na verdade o que acabará ocorrendo são os conchavos políticos, que prejudicarão os índios – como sempre ocorre no país.

Em geral, tais decisões oficiais apenas beneficiam os ruralistas, a quem os caciques denominam de “inimigos”. Com críticas ferrenhas ao governo os índios se dizem surpresos, que, com o PT – de orientação política de esquerda – , possa haver tanta semelhança com outras formas arbitrárias de governo, conforme apontam, decepcionados.

Os índios ainda prosseguiram protestando, após o encontro, acorrentando a bandeira nacional e tingindo-a de urucum, tradicional pigmento natural vermelho, em uma alusão ao sangue já derramado. Com choro de muitos nativos, outros declaravam “guerra” aos ruralistas.

O ministro não deu declarações à imprensa na ocasião, apenas sinalizou, via comunicado oficial, que seu ministério está empenhado em negociar via mediação, uma saída para demarcação de territórios indígenas.

Além da agilidade na demarcação de terras, os índios solicitaram às autoridades punição a assassinos de lideranças indígenas e a libertação de índios que se encontram presos, devido a protestos.

A prisão que foi a gota d’água

Outro caso que mexeu com a vida “e o humor” dos índios foi a prisão do cacique Rosivaldo Ferreira da Silva, líder do povo tupinambá e conhecido como cacique Babau Tupinambá. Mesmo sendo um líder, se apresentou, ainda em abril, às autoridades da Polícia Federal – o que já marca uma visão diferente da lei; uma autoridade branca raras vezes se entregaria, diante de uma denúncia.

A acusação que recai sobre ele é a de assassinar o agricultor Juraci José dos Santos, que ocorreu em fevereiro de 2014, na Bahia. No caso, Juraci era a liderança de um assentamento do MST, que foi instalado bem dentro de uma área de reserva indígena a “Terra Indígena Tupinambá de Olivença”.

Babau Tupinambá foi liberado da prisão, em Brasília, na noite de sexta-feira, 2, três dias depois de ter a liberdade concedida, em caráter liminar, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na visão dos indígenas, a acusação do crime é uma tentativa de criminalizar publicamente sua causa. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA –, presidida pela senadora Katia Abreu, chegou a publicar uma nota argumentando que a acusação é justa e que o índio merece punição, e que os índios têm se valido de “práticas terroristas” para pressionar o Poder Judiciário.

Como se sabe, a área na qual o crime ocorreu é disputada por diversos grupos, com efeito, agroindustriais e até mesmo empresas privadas que visam estabelecer empreendimentos turísticos.

Nas duas situações acima citadas, em comum, a sensação de desesperança dos povos indígenas e a crença em que no país, o direito considera alguns cidadãos de primeira categoria e a outros, resta apenas a obediência. O “problema” é que os índios desistiram de aguardar e declaram que vão revidar, partindo contra os latifundiários e pecuaristas.

É lamentável que estejamos chegando a esse estado de coisas e ficamos na torcida para que dias melhores cheguem, na relação entre os variados grupos de brasileiros e os verdadeiros “donos” de nossa terra.

Fonte foto:fotospublicas.com.br




Redação greenMe

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