Trabalho forçado: menina encontra pedido de ajuda em cartão de Natal


Uma garota de 6 anos chamada Florence Widdicombe que vive em Tooting, no sul de Londres, encontrou um pedido de ajuda de um trabalhador chinês em um dos cartões de Natal que estava escrevendo para dar a seus amigos da escola.

Nesse cartão, que já estava escrito, havia a seguinte mensagem com letras maiúsculas:

“Somos prisioneiros estrangeiros na prisão de Xangai Qingpu, na China. Somos forçados a trabalhar contra a nossa vontade. Por favor, ajude-nos e notifique uma organização de direitos humanos”.

Havia ainda um pedido para que quem encontrasse a mensagem entrasse em contato com Peter Humphrey, um jornalista britânico que foi preso lá, quatro anos atrás.

O pai da menina, Ben Widdicombe, sentiu incredulidade ao ver a mensagem, porém, depois ao refletir mais, resolveu levar a sério e passar o recado escrito no cartão de Natal para Peter Humphrey, como o autor da mensagem pediu.

Ben Widdicombe explicou o que levou o à essa decisão:

“Uma coisa dessas te afeta. Existem injustiças no mundo e existem pessoas em situações difíceis, sabemos disso e lemos sobre isso todos os dias. Mas algo nesse episódio me afetou muito, especialmente por ter acontecido no Natal, o que realmente torna tudo muito comovente”.

O supermercado Tesco que vende esses cartões, suspendeu a comercialização do produto, alegando que:

“Nós nunca permitiríamos trabalho forçado em nossa cadeia”. “Ficamos chocados com essas alegações e imediatamente interrompemos a produção na fábrica onde esses cartões são produzidos e iniciamos uma investigação”.

As vendas dos cartões de Natal nos supermercados da Tesco  arrecadam 300.000 libras por ano que são revertidas para as instituições de caridade British Heart Foundation, Cancer Research UK e Diabetes UK.

O destinatário mencionado na mensagem do cartão de Natal, Peter Humphrey, esteve preso em Qingpu por “acusações falsas que nunca foram ouvidas num tribunal”.

Após a família Widdicombe enviar a ele uma mensagem via Linkedin, Humphrey declarou que se comunicou com ex-detentos do presídio em questão, e recebeu destes a confirmação de que os presos foram forçados a trabalhar.

Peter Humphrey escreveu uma matéria para o jornal britânico Sunday Times contando essa história. Além disso,  à BBC, ele declarou:

“Passei dois anos em cativeiro em Xangai entre 2013 e 2015 e meus nove meses finais foram nesta mesma prisão, neste mesmo bloco de celas de onde esta mensagem veio, então isso foi escrito por alguns dos meus colegas daquele período que ainda estão lá cumprindo sentenças”.

Faz quatro anos que Peter Humphrey  foi liberto da prisão e, baseado em sua vivência ele relatou que o bloco de celas de prisioneiros estrangeiros tem cerca de 250 pessoas, que vivem um “cotidiano muito sombrio”, com 12 prisioneiros por cela e que ele conheceu muitas pessoas que considerava vítimas de prisão injusta ou pelo menos sentenças imprudentes por pequenos delitos.

Não é a primeira vez que prisioneiros na China relatam o que vivem através de mensagens em produtos que foram forçados a produzir, para os mercados ocidentais.

Em 2012, Julie Keith, de Portland, Oregon, encontrou um relato de tortura e perseguição feito por um prisioneiro, que escreveu ter sido forçado a fabricar os objetos de decoração de Halloween que ela havia comprado.

Com essa notícia fica o alerta sobre a importância do consumo consciente, principalmente, no Natal, época que o consumo aumenta e, por consequência, países como China acaba se valendo ainda mais do trabalho praticamente escravo, para baratear seus produtos, produzir e vender mais.

Dê preferência a produtos artesanais, de produtores locais, evite o consumo de massa e, por quê não? Faça você mesmo o teu presente!

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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