Três alunos do Colégio Santo Agostinho, em Contagem, Minas Gerais, estão fazendo história, literalmente. Os estudantes são finalistas da Olímpíada de História do Brasil, promovida pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A competição tem o objetivo de falar do Brasil de um jeito diferente, por meio narrativas e personagens desconhecidos da historiografia oficial.
Sempre incentivados pelo professor Robinson Vinícius de Oliveira Lage, o trio Ana Carolina Grip de Carvalho (17), Ana Luiza Reis Silva (17) e Lucas Almeida Brandão decidiu falar da vida de Mário Braz da Luz.
Seu Mário, benzedor há 53 anos, é integrante da Comunidade dos Arturos, formada por ex-escravos, localizada também em Contagem. Aos 86 anos, ele acorda todos os dias às 6 da manhã, toma café com a esposa, sua companheira há 60 anos, e às 8h já começa a trabalhar.
Todos os dias, as pessoas fazem fila para receber bênçãos, conselhos e receitas caseiras do Seu Mário, que atende a todos em sua cadeira de rodas e só encerra o expediente às 17h30, parando apenas para almoçar. O “escritório” é ao ar livre: debaixo de uma árvore, em dias quentes, ou sob o sol, em dias frios.
O segredo para tamanha disposição aos quase noventa? Prazer e fé.
“Sempre fui devoto de Nossa Senhora e é ela quem me ajuda a ajudar as pessoas. Quem vem aqui também tem fé e crê em Nossa Senhora. Fico feliz com o que faço, que é um dom.”, contou ao Estado de Minas.
O início da trajetória como benzedor foi há 53 anos, quando sua irmã Juventina Paula o chamou num canto e disse que ele deveria aprender o ofício. “Não parei mais”, conta Seu Mário, que por sua vez, preparou seu filho, Raimundo Luz, de 56, para seguir seus passos.
A Comunidade dos Arturos detém o título de patrimônio imaterial do estado de Minas Gerais. Formada por Artur, descendente de escravos e pai de seu Mário, a comunidade é conhecida por suas festas tradicionais, danças e festivais religiosos.
Pesou na escolha dos três estudantes o fato de Seu Mário ser um personagem de Contagem, município onde fica a escola onde estudam.
“Seu Mário tem uma grande importância na Comunidade dos Arturos. Além de benzedor, ele é também rei do congado e um dos organizadores, junto com sua mulher, da Festa de Nossa Senhora do Rosário. É um personagem muito rico”, explicou o professor Robinson.
Que os meninos tenham sorte na empreitada e que a iniciativa sirva para reforçar a importância dos saberes tradicionais do nosso povo. O Brasil tem essa cultura que mistura fé, conhecimento medicinal, uso de plantas e tradições que passam de geração em geração, que encanta e faz de nós o que somos. Este é o Brasil que deu certo.
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Fonte e foto: Estado de Minas
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