Síndrome de Burnout: quando o cansaço profissional vira doença


O trabalho é uma parte essencial e significativa da vida das pessoas. E muitas, na busca por uma boa posição profissional e, principalmente, para cumprir as demandas de sua atividade de atuação, acabam por supervalorizar o emprego de uma forma perigosa.

É quando entram em cena o estresse, a exaustão, a ansiedade, a depressão e a queda na autoestima por não conseguir cumprir as metas, entre outros sintomas. Esse quadro – tão comum com as exigências da vida moderna – pode configurar uma doença: a Síndrome de Burnout. Você já ouviu falar dela? Saiba o que é exatamente esse distúrbio, como identificar e prevenir o problema.

Reconhecida pela OMS como doença ocupacional

No dia 1° de janeiro desse ano (2022), a Síndrome de Burnout foi reconhecida pela OMS – Organização Mundial de Saúde – como doença ocupacional, tendo sido incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) com o código QD85.

Isso significa que a partir de então, estão previstos os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados às demais doenças relacionadas ao trabalho. Assim, o trabalhador com essa síndrome passa a ter direitos trabalhistas como

  • licença médica remunerada
  • benefício previdenciário pago pelo INSS
  • indenização por danos morais e materiais
  • e até aposentadoria por invalidez.

Para receber tais benefícios será necessário comprovar o nexo causal entre o esgotamento no trabalho com a síndrome, o que nem sempre é simples.

A busca pela palavra Burnout cresceu 400% no Google em 2021, isso mostra o quanto a pandemia piorou a situação laboral, com a crise financeira, possibilidade de desemprego, aumento das exigência por uma melhor produtividade.

Mas vamos entender o que é essa síndrome, quais são os sintomas para saber se você tem esse problema.

O que é a Síndrome de Burnout?

A OMS descreve o Burnout como

“uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito” e que se caracteriza por três elementos: “sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a seu trabalho e eficácia profissional reduzida”.

A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico causado por um esgotamento profissional. Esse termo foi criado pelo psicólogo Herbert Freudenberger, em 1974, que diagnosticou em si próprio esse transtorno. A Síndrome está diretamente ligada ao ambiente profissional, e inicialmente esteve principalmente relacionada às áreas de saúde, assistência social, bombeiros, policiais e educadores (as assim chamadas helping professions).

Profissões muito competitivas ou de responsabilidade são mais suscetíveis ao desenvolvimento do distúrbio. Estima-se que no Brasil 30% de 100 milhões de trabalhadores tenham a Síndrome de Burnout, de acordo com levantamento da Internacional Stress Management Association (ISMA).

A sobrecarga de trabalho, a falta de reconhecimento o excesso de exigências podem ser fatores desencadeadores.

O nome Burn Out é um termo de origem inglesa que significa literalmente “queimado”, “exausto” ou “estourado”.

O que NÃO configura Síndrome de Burnout

A síndrome se refere apenas ao contexto do trabalho, portanto não se aplica a outras áreas da vida.

Não configura Burnout os casos de pessoas que 

  • sofrem de estresse crônico não necessariamente ligado apenas ao trabalho, mas também por situações familiares ou de relacionamento
  • de transtornos de ansiedade específicos e fobias
  • depressão e ou ansiedade crônicas.

Por isso é importante (e difícil) comprovar o nexo causal do Burnout com o trabalho, excluindo a vida particular quando para a maioria de nós o trabalho é a vida!

Causas e Fatores de Risco

O que causa a Síndrome de Burnout?

As causas e os fatores de risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout vão além das características individuais como gênero, idade, estado civil, etc. Pois também têm a ver com o ambiente de trabalho em que o sujeito está inserido.

Mas existem fatores sociodemográficos e pessoais que podem favorecer o desenvolvimento da síndrome.

Por exemplo:

Idade

Por um lado, a idade avançada é um dos principais fatores de risco para o Burnout, pois pessoas mais velhas temem o desemprego e a dificuldade de se recolocarem no mercado de trabalho. Mas por outro, os jovens também são muito propensos à síndrome, dado que são muito pressionados e frustrados pela cobrança e pela competitividade que o mundo do trabalho exige.

Estado civil e gênero

Solteiros parecem ser mais vulneráveis ​​a desenvolver esgotamento psicofísico pois não têm com quem dividir as frustrações; e as mulheres seriam mais sujeitas a desenvolver essa síndrome. Mas tudo depende do modo pelo qual cada um vê a própria vida.

Características de personalidade

É claro que quanto maior a expectativa na vida, maior a decepção quando as coisas não vão bem. Assim, pessoas com metas muito altas no trabalho, que se empenham demais sem dedicarem tempo para outras coisas, acabam por criar a armadilha perfeita para o esgotamento profissional.

Mas não é só a personalidade de cada um que está em jogo.

Fatores socioambientais e laborais

Um ambiente de trabalho desfavorável, competitivo e desumano favorece o mal-estar dos trabalhadores que, ao serem cobrados por produtividade, acabam por provocar o contrário. Aí entra-se em um circulo vicioso.

  • Carga de trabalho excessiva
  • Falta de recursos necessários para realizar o trabalho
  • Falta de autonomia para realizar o trabalho
  • Pressão e excesso de supervisão por parte dos superiores
  • Valores contrastantes e injustiças
  • Relações de competição, falta de cooperação, interações difíceis com colegas ou clientes
  • Políticas de saúde e de segurança inadequadas ou deficientes
  • Baixos salários
  • Tarefas e objetivos pouco claros ou irreais
  • Desorganização e tarefas que mudam com frequência
  • Horários inflexíveis
  • Falta de reconhecimento nos resultados
  • Mobbing e assédios psicológicos.

A lista é longa e não para aqui. Mas só para exemplificar o quanto um ambiente hostil pode causar o esgotamento profissional até nos trabalhadores mais mentalmente saudáveis e positivos.

Deu até cansaço escrever a lista porque muita gente se reconhecerá nela, infelizmente. É muito triste perceber o quanto estamos nos desgatando em trabalhos ruins apenas pela nossa sobrevivência.

Sintomas da Síndrome de Burnout

A Síndrome de Burnout se caracteriza por um rápido declínio dos recursos psicofísicos e pela baixa no desempenho profissional. Trata-se de um processo gradual que se desenvolve ao longo do tempo, os sinais de alerta chegam aos poucos, até que se instale o quadro.

As manifestações podem ser numerosas e variadas, mas 3 características estão sempre presentes, de acordo com a OMS:

  1. Sensação de exaustão, desânimo e esgotamento de energia
  2. Desapego mental do trabalho , ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho
  3. Eficácia profissional reduzida

Sintomas físicos, emocionais e comportamentais

As seguintes manifestações físicas, emocionais e comportamentais podem ocorrer, e são sinais de alerta para ficar atento:

  • Cansaço físico
  • Cansaço mental
  • Insônia
  • Taquicardia
  • Dores de cabeça
  • Dores nos maxilares (bruxismo, se morder sem perceber)
  • Náuseas
  • Falta ou excesso de apetite
  • Dores e problemas digestivos
  • Sensação de asfixia, falta de ar
  • Tremores
  • Sudorese nas mãos
  • Dores nas costas, no corpo, tensão muscular
  • Tonturas
  • Hipertensão ou hipotensão
  • Distúrbios sexuais ou reprodutivos
  • Estresse, agressividade, instabilidades de humor, irritabilidade e nervosismo
  • Falta de concentração
  • Baixa autoestima
  • Isolamento
  • Sensação de inutilidade
  • Falta de iniciativa
  • Dificuldade em completar tarefas
  • Desapego emocional pelos colegas
  • Redução do interesse pelo trabalho
  • Desmotivação, resistência em ir ao trabalho
  • Absentismo
  • Despersonalização
  • Sensação de frustração
  • Sentimentos de culpa, fracasso, raiva e ressentimento
  • Agitação
  • Sentimento de Infelicidade
  • Choro frequente
  • Dificuldades em tomar decisões
  • Falta de criatividade
  • Preocupação constante, ansiedade

Síndrome de Burnout em estado avançado

Quando em estado avançado, a síndrome pode resultar em quadros de depressão profunda, úlceras, cardiopatias, insônia, pressão alta, dores pelo corpo, enxaqueca, abuso de álcool e outras drogas e até suicídio.

Diagnóstico. Como saber se o seu caso é de Burnout?

Muitas vezes o diagnóstico da Síndrome de Burnout é complicado, e pode acontecer da própria pessoa não reconhecer que está passando por um distúrbio. No entanto, ao observar os sinais que identificam a doença, é importante, primeiramente, procurar ajuda médica, pois somente um profissional será capaz de fazer o diagnóstico correto e tratar de modo adequado o problema.

O diagnóstico pode ser feito por médicos, psicólogos e outros profissionais que devem primeiramente excluir todas as condições relacionadas a transtornos de humor, ansiedade, estresse e fobias prévias, que não sejam relacionadas ao trabalho.

Se você se sente cronicamente exausto, triste, frustrado com seu trabalho, se continua cometendo pequenos erros, tem falta  de concentração, se sente preso em um ciclo de improdutividade, consulte um médico.

Se tiver problemas físicos, ataques de pânico, insônia e outros sintomas quando você pensa no trabalho, procure ajuda médica.

Mesmo que não seja Burnout, vale a pena fazer um check-up. Se for Burnout, o médico poderá pedir uma licença do trabalho para você pois, como vimos, agora Burnout é doença ocupacional.

Teste de Burnout

Existem vários testes online que vão dar uma ideia se você tem ou está propenso a ter a Síndrome de Burnout. Os testes não substituem o diagnóstico médico mas podem te ajudar a perceber a necessidade de procurar ajuda.

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Como tratar

Entre as formas de tratamento estão a psicoterapia e, em alguns casos, a medicação com antidepressivos.

Atividades físicas e de relaxamento também são essenciais para que a pessoa volte a sentir-se bem novamente.

Além disso, é essencial ressignificar o trabalho, dando espaço para outras áreas da vida, e, principalmente, aos momentos de lazer.

Como prevenir

Para evitar que a Síndrome de Burnout se instale é importante tomar algumas medidas, no dia a dia, como:

Ter momentos de lazer

Insira na rotina momentos para fazer coisas que gosta, tenha hobbys e não abra mão desse espaço do dia, pois isso é essencial para evitar o esgotamento físico e emocional;

Descansar

Atividades relaxantes e uma boa noite de sono também são essenciais para recuperar as energias;

Conversar

Ter pessoas com as quais possa contar pode ajudar bastante. Aprenda a dividir não somente as coisas boas, mas as dificuldades, as aflições e angústias;

Fazer coisas diferentes

Almoce em um lugar novo, ande por caminhos diferentes, faça pequenas mudanças na rotina para “refrescar” a mente;

Praticar atividades físicas

Exercícios são importantes pois liberam substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar, além do ganho para a saúde que tais atividades proporcionam.

Trabalhar é necessário e importante. Trabalhar também pode ser bom e prazeroso mas tudo tem limites e nada em excesso faz bem. Cuide-se!

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Cintia Ferreira

Paulistana formada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro, tem o blog Mamãe me Cria e escreve para greenMe desde 2017.


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