Lale, o tatuador de Auschwitz que conheceu o amor no campo de concentração


A força do amor é algo surpreendente, é capaz de transcender barreiras inimagináveis e agir até em meio à mais cruel adversidade. Foi o que aconteceu com dois judeus eslovacos: o jovem Lale Sokolov e a garota Gita Fuhrmannova, que se conheceram e se apaixonaram em meio ao campo nazista de extermínio.

Lale e Gita se conheceram em um dos mais terríveis lugares da história da humanidade: o campo de concentração e extermínio de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial e a perseguição nazista aos judeus.

No campo, Lale foi incumbido de tatuar os números de série dos prisioneiros, que eram apreendidos e trazidos pelos nazistas, marcando na pele das vitimas o que se tornaria o símbolo do Holocausto.

Nesse ambiente destrutivo, Lale e Gita vivenciaram um amor proibido, mesmo sabendo que poderiam morrer.

Conheça essa emocionante história e saiba mais sobre o amor desse casal que, mesmo em meio aos horrores do Nazismo, não perderam a capacidade de amar e cujo amor resistiu à maldade humana.

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Como essa história começou

A vida do jovem Lale Sokolov mudou drasticamente em abril de 1942, quando tinha 26 anos, ao ser obrigado à ir para Auschwitz, local onde ficavam os prisioneiros submetidos ao trabalho forçado e onde ocorriam as execuções. Quando os soldados nazistas chegaram na casa dele, ele se ofereceu de ir no lugar dos irmãos, pois era mais jovem e solteiro e agindo assim preservaria os irmãos que eram casados.

Lale não tinha ideia do que acontecia neste campo localizado em território polonês. Quando, Lale chegou no campo, os nazistas trocaram o seu nome pelo número 32407.

Lale, o prisioneiro 32407, que se tornou o tatuador principal de Auschwitz

No campo, ele se tornou o prisioneiro 32407 e foi lhe determinado trabalhar, com outros prisioneiros, na construção para a aumentar o campo. Ele passava horas fazendo telhados. Lale acabou contraindo febre tifoide e foi tratado por um homem que tinha feito a tatuagem de identificação nele

Este homem era um acadêmico francês chamado Pepan. Nessa convivência, o francês decidiu transformar Lale em seu assistente e ensinou como tatuar, lhe recomendando que fizesse isso coma cabeça baixa e a boca fechada. Um dia, Pepan desapareceu, Lale nunca soube o que aconteceu com ele.

Lale por falar várias línguas como eslovaco, alemão, russo, francês, húngaro e um pouco de polonês, foi “promovido” ao cargo de tatuador principal do campo de extermínio.

Nesta função, ele recebeu uma sacola com equipamentos para tatuar e um papel com as palavras em alemão “Politische Abteilung”, que traduzindo significam departamento político. Lale passou a trabalhar para a área política da SS -Schutzstaffel, um dos principais exércitos do governo nazista.

Em seu trabalho, Lale era monitorado por um oficial nazista. Nesta nova função, ele teve algumas “regalias”, como poder comer no prédio da administração, ter mais mais refeições e dormir em um quarto individual e ainda tinha direito à “folga” quando não havia prisioneiros para tatuar. Apesar dos privilégios, ele não se sentia um colaborador dos nazistas, pois não compactuava com a brutalidade do Nazismo.

Mesmo com estas “vantagens”, Lale estava sujeito à ser executado, bastasse um vacilo. Josef Mengele que realizava experimentos científicos com os prisioneiros vivia aterrorizando Lale, dizendo em voz alta: “Um dia, tatuador, vou levar você, um dia!”Lale, por dois anos, tatuou centenas de milhares de prisioneiros com a ajuda de assistentes. Essas tatuagens, saíam com números trêmulos, mas fortes, se tornando a marca do Holocausto Nazista.

Esta prática de tatuar os prisioneiros teve início no outono de 1941 e, a partir da primavera de 1943, todos os prisioneiros dos campos de Auschwitz, Birkenau e Monowitz eram tatuados.

No início, as tatuagens eram feitas com um carimbo de metal, usado para registrar o número na pele dos prisioneiros e a tinta era esfregada nas feridas. Este o método se apresentou ineficiente, então, a SS introduziu o equipamento de agulhas duplas. Foi essa ferramenta que Lale usou como tatuador no campo de concentração.

Como os prisioneiros eram tatuados

Ao chegarem à Auschwitz, os prisioneiros eram selecionados para o trabalho forçado ou execução imediata. As cabeças deles eram raspadas e os pertences, apreendidos. Eles eram despojados de suas roupas e obrigados a usarem trapos e tinham que receber a marca feita pelo tatuador.

As únicas exceções para toda essas aplicações eram os prisioneiros de etnia alemã, que tinham que se submeter a “reeducação” ou os condenados às câmaras de gás.

tatuator auschwitz 2

Gita, a prisioneira 34902

Em julho de 1942, Lale recebeu um pedaço de papel com os números 34902, que deveriam ser tatuados em uma jovem garota. Neste dia, ele ainda não tinha sido “promovido” à função de tatuador principal. O tatuador francês Pepan mandou ele fazer o serviço, se Lale não fizesse seria condenando à morte.

Ele teria que tatuar uma garota e para ele era terrível e cruel segurar e tatuar um braço feminino. Lale, iria tatuar a jovem com o número 34902, ao olhar nos olhos brilhantes dela, se apaixonou imediatamente! No momento da tatuagem, para Lale, ele havia marcado o número dela no coração dele.

Ele ficou sabendo que o nome da garota era Gita e estava no campo para mulheres, o Birkenau. Através da “guarda pessoal” dele, ele conseguiu contrabandear cartas para Gita. As cartas eram formas de marcarem encontros secretos, do lado de fora do bloco onde ela estava. Ele buscou cuidar dela, levando comida, de forma escondida, e fazendo de tudo para que ela mudasse de área de trabalho.

A comida era moeda de troca no campo de concentração

Lale usava a comida extra que recebia para alimentar ex-colegas de blocos, amigas de Gita e famílias de romenos que vieram mais tarde. Ele negociava com moradores da região que trabalhavam perto do campo, joias e dinheiro entregues à ele por prisioneiros.

Era uma forma de obter mais comida e suprimentos, para ajudar os prisioneiros. Lale além dar assistência à sua amada, também, buscou ajudar a maior quantidade possível de prisioneiros.

O Fim da Guerra

tatuator auschwitz 3

Em 1945, com a chegada dos russos e a derrota eminente da Alemanha, os nazistas começaram a despachar prisioneiros para fora do campo de extermínio e Gita foi uma das selecionadas para deixar Auschwitz. Ela foi embora e Lale sabia apenas o nome dela, Gita Fuhrmannova, mas desconhecia de onde ela tinha vindo.

Lale conseguiu deixar o campo e voltar a sua cidade natal, a Tchecoslováquia. Ele pagou a viagem de retorno com as jóias que pegou dos nazistas. A irmã dele, Goldie, sobreviveu à guerra e à perseguição nazista, e a casa de sua família ainda estava onde havia vivido a sua infância.

Naquele momento, faltava encontrar sua amada Gita. Ele partiu rumo à Bratislava, porta de entrada de muitos sobreviventes que tentavam voltar à Tchecoslováquia. Lale esperou na estação de trem, por semanas, para ver se encontrava Gita, mas sem sucesso!

Ele foi orientado a procurar informações dela na Cruz Vermelha. No caminho, para fazer isso, se deparou com uma jovem no meio da rua, olhou para ela e reviu os olhos brilhantes de sua amada Gita.

A vida de Lale e Gita depois da guerra

Após o reencontro, se casaram em outubro 1945. Com a Tchecoslováquia, controlada pelos soviéticos e o confisco de bens pelo Estado Comunista, o casal não estavam em paz e resolveram fugir. Foram parar na Austrália e, neste país, Lale investiu em uma indústria têxtil e Gita começou a desenhar vestidos.

Em 1961, nasceu o primeiro filho deles, chamado de Gary. Os dois viveram o resto da vida em Melbourne, Austrália Gita foi à Europa, algumas vezes, antes de morrer, em 2003. Lale nunca mais voltou à Europa, ele morreu em 2006.

Como a história de Lale e Gita virou livro

Os amigos, mais chegados do casal, sabiam da sofrida e emocionante história que eles viveram em Auschwitz. Os detalhes dessa história só foram revelados, de forma aberta, depois da morte Gita.

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Lale temia ser visto como apoiador dos nazistas. Mesmo o filho Gary, por muito tempo, não sabia dos horrores que os pais haviam vivido. Toda a verdade só veio à tona quando a escritora Heather Morris apareceu na vida de Lale. Gary estava procurando alguém para escrever a história do pai e, por meio de amigos em comum, encontrou Morris.

Na época, em 2003, Lale tinha 87 anos e decidiu compartilhar a sua história. Nos três anos seguintes, a escritora visitava Lale, várias vezes por semana. Esta história foi registrada, pela escritora Heather Morris, no livro O tatuador de Auschwitz, que conta a história de amor entre Lale e Gita, além de trazer informações sobre o Holocausto.

A escritora pensou em fazer um roteiro para filme sobre esta história e pesquisou documentos que atestam os relatos de Lale. Esses documentos ajudaram a descobrir que os pais de Lale foram mortos em Auschwitz, um mês antes dele regressar. Lale morreu, antes de ficar sabendo o que aconteceu com os seus pais.

O depoimento de Lale Sokolov, em vídeo

Por mais de 50 anos, Lale Sokolov manteve em segredo o que viveu nos tempos da Segunda Guerra e o que testemunhou das atrocidades nazistas. Filho de pais judeus, ele nasceu na Eslováquia. Neste vídeo, o próprio Lale Sokolov, conta um pouco de sua história.

Heather Morris fala, em vídeo, sobre o livro O Tatuador de Auschwitz

A escritora Heather Morris, neste vídeo, conta como foi conhecer Lale Sokolov e relata sua convivência com ele ao longo de 3 anos, ouvindo dele, sobre a história de amor que ele viveu com sua amada Gita, em meio à guerra e sua realidade devastadora.

Esta história, foi transformada no livro que revela uma história de sobrevivência, superação e amor.

A Mensagem dessa História

Lale Eisenberg sobreviveu ao Holocausto, para nos revelar o que testemunhou: homens tratados como lixo, a insanidade humana, a abominação das câmaras de gás e os crematórios humanos e foi forçado, por ser judeu, a marcar outros judeus.

A lição que essa história nos deixa é que o amor pode nascer mesmo em meio ao lodo do ódio e da desesperança e, ainda sim, florescer!

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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