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O conceito de framing (ou enquadramento noticioso) refere-se ao modo como fatos, notícias e informações são selecionados, organizados e apresentados para influenciar a percepção do público. Mais do que simplesmente transmitir dados, quem pratica o framing corta, edita, subverte ou converte fragmentos da realidade para criar uma narrativa específica.
Dados mostram as letras fake e fact mudando simbolizando o conceito de framing: manipulação de fatos
O termo “enquadramento” (framing) foi formulado inicialmente pelo antropólogo Gregory Bateson, em 1954, no contexto de estudos sobre esquizofrenia e psicoterapia. Bateson buscava compreender como as interações humanas são ancoradas em quadros de sentido que moldam as interpretações e ações dos envolvidos.
Ele dividiu a comunicação em três níveis:
Em suas observações de lontras e macacos em zoológicos, Bateson percebeu que a brincadeira entre eles era acompanhada de sinais que diferenciavam “luta real” de “luta de brincadeira”. Essa percepção levou à sua primeira definição de enquadramento: uma mensagem metacomunicativa que permite compreender o que está acontecendo em determinada situação.
Posteriormente, o sociólogo Erving Goffman (1974) ampliou essa noção para a análise das interações sociais em geral, mostrando como as pessoas interpretam a realidade a partir de quadros que orientam a pergunta essencial: “O que está acontecendo aqui?”
O enquadramento noticioso tornou-se especialmente relevante nos estudos de Comunicação. Segundo essa perspectiva, a mídia não apenas informa, mas seleciona palavras, ideias, expressões e adjetivos que moldam a percepção de um acontecimento, destacando certos aspectos e ocultando outros.
Assim, recorta-se determinado ângulo de um fato, tornando-o mais visível sob o ponto que se queira ressaltar, e portanto mais “real” para o público que se queira atingir, condicionando atitudes e até influenciando mudanças sociais.
Segundo o jornalista Adelmo Genro Filho, o jornalismo é uma estratégia central da sociedade moderna para conhecer a si mesma. A cobertura midiática funciona como a moldura de uma janela: é por meio dela que o público enxerga uma parte da realidade, mas essa moldura já carrega os jogos de interesse, disputas de poder e visões de mundo que estruturam a notícia.
Nesse sentido, o framing revela também a linha editorial de cada veículo e os interesses que defende.
Algumas estratégias comuns incluem:
O poder do framing se relaciona com a forma como o cérebro humano toma decisões. Estudos da psicologia cognitiva mostram que as pessoas tendem a reagir de forma diferente ao mesmo dado, dependendo de como ele é apresentado (fenômeno conhecido como efeito de enquadramento).
Exemplo prático:
“Este tratamento tem 90% de chance de sucesso” gera mais adesão do que
“Este tratamento tem 10% de chance de falhar”, embora matematicamente sejam equivalentes.
Embora o framing seja inevitável, pois qualquer comunicação carrega um enquadramento, seu uso intencional para distorcer ou manipular levanta dilemas éticos.
O framing tanto pode esclarecer informações, tornando dados complexos mais acessíveis, como manipular percepções, apagando nuances e fabricando opiniões e consensos artificiais.
O framing é, ao mesmo tempo, uma arte e uma técnica de poder. Sua origem remonta aos estudos de Bateson sobre interação e foi expandida por Goffman para o campo das ciências sociais. Hoje, ocupa lugar central nos estudos de Comunicação, sobretudo no jornalismo, onde evidencia como a mídia molda a realidade que chega até nós.
Reconhecer o enquadramento noticioso, perceber quando uma notícia, discurso ou estatística foi cortada, editada, subvertida ou convertida, é o primeiro passo para resistir à manipulação e formar opiniões mais livres.
Para isso, é preciso ter e manter um espírito crítico, questionar-se sempre, o que é uma coisa muito difícil hoje em dia, considerando também o cansaço midiático causado pelo excesso de informação. Assim, fica fácil te manipular.
Fique esperto! Mantenha um espírito livre e curioso para tudo. A base da filosofia (Sócrates) é: “só sei que nada sei”. Continue duvidando.
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Categorias: Sociedade
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