O mito do amor materno que impede as mães de serem humanas


No Dia das Mães homenagens, presentes, elogios e, talvez, pouca empatia. Muitas mães gostariam de ter ganhado como presente um dia para não serem mães.

Não que elas quisessem apagar a maternidade de suas vidas, mas muitas delas gostariam de ter um dia para elas pensarem em suas vidas, sem se preocuparem, pelo menos por umas horas, de cuidarem de suas crias.

Ao mesmo tempo, e do outro lado, as mulheres que não foram mães gostariam de, uma vez por todas, não serem mais vistas como mulheres fracassadas ou coitadas “sozinhas neste Dia das Mães”.

O mito do amor materno é o mito de que as mães amam sempre, e nunca se cansam de cuidar de seus pupilos. Esse mito é um peso para muitas mães que se vêm obrigadas a desempenhar um papel de super-heroína, sempre alegres, sempre cuidadosas, sempre amorosas, compreensivas etc. Esse mito não ajuda as mães a serem melhores, porque apenas exige delas a perfeição.

O mito do amor materno também tem a ver com aquela coisa que chamam de instinto materno, que existe, claro, mas que não é o mesmo, nem igual, nem na mesma intensidade para todas. É o mito de que à mulher, a uma certa idade, acende o alarme da procriação e que, se esse alarme não for desligado com a gravidez, a mulher será sempre uma mal amada, fracassada, menos mulher.

Tudo isso faz com que as mulheres tenham menos direitos a serem humanas. Sim, porque amar é humano, mas odiar também o é. Ser alegre, ser triste, estar às vezes pra cima às vezes pra baixo, faz parte da vida de todos, inclusive das mães.

É a claro que a dedicação total aos filhos é um dever (e é por isso que muitas mulheres optam por não serem mães) mas também é claro que essa dedicação é pesada e implica uma força emocional que deveria ser suportada pelo pai e pelos familiares: os avós que de vez em quando estão com os netos, os tios que de vez em quando dão um alívio…

Mas muitas mães estão sozinhas e muitas vezes a empatia falta ao próprio pai da criança porque, na sociedade patriarcal, certos deveres são tidos como tão femininos, que são quase como que exclusivos delas. São ainda poucos os pais que acham que o dever de cuidar, zelar e atender aos filhos, é de pelo menos 50% cada.

Pelo menos hoje, um alívio: podemos falar sobre isso e aliás devemos falar, porque mitos somente se desmancham através primeiramente do discurso, e depois através da ação.

Se ontem no Dia das Mães foi você quem foi ao supermercado, cozinhou, lavou a louça e depois de um dia de “festa” colocou a criança para dormir e caiu no sono sem poder pensar em si mesma, você não está sozinha. Falar é preciso. Compartilhe!

Para se aprofundar no tema, veja o vídeo com a psicanalista e professora da FAAP e da USP, Maria Lúcia Homem:

https://www.youtube.com/watch?v=qAlsO1hHCWE

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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