Morte de animais e destruição de vegetação nativa: os impactos da energia eólica


Um dos maiores desafios contemporâneos é produzir energia em larga escala sem impactar o meio ambiente. Em um país continental como o Brasil, no qual a matriz energética dominante é a hidráulica, como resolver essa equação?

O Brasil, além de ter um enorme potencial para a produção de energia hidrelétrica, poderia ampliar o investimento em energia eólica. Essa crítica comum precisa vir, também, acompanhada de uma avaliação de seus riscos. Afinal, será que a energia eólica é tão inofensiva assim?

Energia renovável também impacta

As usinas hidrelétricas como fonte de energia elétrica inundam áreas para a formação de reservatórios trazendo prejuízos à fauna e à flora e às populações locais. Defende-se que essa matriz seria a única capaz de dar conta de suprir as necessidades energéticas do país, além de promover desenvolvimento às regiões onde se instalam. Entretanto, os custos ambientais e sociais dessa fonte de energia são altos e, muitas vezes, desastrosos. 

Uma alternativa limpa e renovável seria, então, o investimento em energia eólica, gerada pela força dos ventos. Apesar dessas qualidades, uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) constata que ela é responsável pela morte de animais e destruição da vegetação nativa, como informa a BBC News Brasil.

Os pesquisadores da UFPE há oito anos vêm estudando os impactos da energia eólica na Caatinga nordestina. Os moinhos de vento que geram a energia medem cerca de 80 metros e suas hélices, 30 metros. Eles são responsáveis por 86% da produção de energia eólica do Brasil.

O objetivo da pesquisa vem sendo avaliar o conflito de interesses entre o setor privado, financiador da energia eólica no Nordeste, e o setor público para a conservação da Caatinga. De acordo com o pesquisador Felipe Melo, do Departamento de Botânica da UFPE:

“A sobreposição de áreas de interesse desses dois setores pode ser fonte de atrito, quando elas se chocam. Daí, geralmente o lado mais fraco, que sempre é o ambiental, perde”.

A pesquisa identificou que há uma quantidade significativa de usinas eólicas em áreas de interesse para a conservação ambiental.

Melo argumenta que a energia eólica não é tão inofensiva como se supõe. Embora usar a força dos ventos para gerar energia seja uma estratégia importante para o Brasil em termos de sustentabilidade, é preciso considerar, também, que isso apresenta alguns riscos à natureza.

“Apesar de renovável, ela não é inofensiva à natureza. Há impactos sobre a fauna, principalmente morcegos e aves, que controlam pragas. Eles se chocam contra as pás das hélices e morrem”, explica Melo.

Outro problema da tecnologia é a construção de linhas de transmissão e estradas, que impactam negativamente sobre a vegetação nativa. Melo alerta que áreas de Caatinga no Nordeste, como o Boqueirão da Onça (BA) e a Ponta Tubarão (RN), são exemplos de lugares onde a exploração da energia eólica trouxe problemas. Em Pernambuco, a legislação estadual chegou a ser alterada restringindo o nível de proteção ambiental.

O pesquisador também endereça a sua crítica ao setor privado brasileiro, que, tradicionalmente, não contribui para a agenda ambiental. 

“Imagine se em vez de gerar conflitos de interesse, o estabelecimento dessas usinas fosse um aliado na criação e implementação de áreas naturais protegidas. Precisamos pensar que esses locais de interesse para a conservação também geram energia para todo o Brasil, e, portanto, prestam um duplo serviço e precisam de maior proteção e gestão responsável. Esse é o futuro que gostaria de ver entre Caatinga e empresas, mas precisamos mudar o paradigma vigente, no qual a proteção a esse bioma tem sido atacada para facilitar a entrada das geradoras de eletricidade a partir dos ventos”, vislumbra Melo.

Outro lado

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, reconhece os impactos que o setor produz, mas destaca que é um dos que menos provoca danos ao meio ambiente.

“Em um parque de geração, apenas de 3% a 5% da área são efetivamente ocupados pelas torres. Além disso, ela não prejudica outras atividades econômicas, como a criação de gado ou plantações, que podem coexistir com as turbinas. Ou seja, ela é a única forma de produção eletricidade que pode ser complementar a outras atividades“, explica.

Gannoum defende que o investidor da área não tem interesse em construir um parque eólico em áreas de proteção porque sabe que o potencial de geração de energia é grande, não sendo, portanto, necessário, atuar em locais preservados.

Qual energia é menos impactante?

A geração de energias renováveis, ou limpas, como alguns preferem chamar, é uma tecnologia fundamental para que não se intensifique o processo do aquecimento global. Mas é preciso que elas sejam realmente levadas a sério, com estudos que identifiquem suas potencialidades e riscos, ainda que pequenos.

Existe uma ideia de que as energias solar, eólica ou hidrelétrica sejam totalmente inofensivas. Isso não é verdade. Todas elas causam impactos ambientais e tais impactos só podem ser medidos para cada caso em particular.

Quando se diz energia renovável, se fala sobre a geração de energia onde seu tempo de uso seja menor que o seu tempo de produção (ou seja, uma produção que se renova). Os combustíveis fósseis não são renováveis porque o seu tempo de produção é muito maior que o seu tempo de uso. Os combustíveis fósseis tampouco são um tipo de energia limpa porque a sua combustão provoca gases de efeito estufa que alimentam o aquecimento global. Já os termos energia limpa, energia verde ou energia alternativa são conceitos mais complexos que consideram não apenas a renovabilidade da geração energética, como também o impacto que a implantação de seus sistemas de geração de energia possam ter sobre o meio ambiente, antes, durante e depois de seus funcionamentos.

Para entender melhor estes conceitos, leia este artigo:

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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