Transposição de Águas do Rio São Francisco – nem tanto ao mar, nem tanto à terra


É muito complicada a questão do Rio São Francisco e, politicagens à parte, o que mais me preocupa é o futuro das águas de lá.

Claro que é bom demais que chegue água doce onde antes só tinha seca mas, é preciso ter claro que essa água tem preço, e nem vai chegar em todo lado que precisa. E o preço não é só em reais na conta do fim do mês, o preço também é na entrada do mar rio adentro.

O Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco

O que você sabe sobre o projeto de Transposição de águas do Rio São Francisco lá no distante Nordeste Setentrional? Talvez, como eu, você até tenha acompanhado essa luta que já tem décadas. E também as pequenas cisternas que foram abertas pelo sertão afora, as albufeiras que foram construídas para impedir que povo e gado morresse de sede e os ainda poucos, canais que levam a boa e santa água para os locais mais distantes da calha do rio.

Com certeza você também viu – tá em qualquer mapa digital de hoje em dia – que as melhores terras, mais produtivas e prometedoras, estão na beira dos rios e pertencem, vejam só, à empresas grandes.

Quer dizer, o pequeno produtor, como sempre neste sistema, ficou de escanteio – já era de se esperar – lá prô fim do sertão, e torcendo para que as políticas públicas levassem poços, albufeiras, caixas d’água ou que seja, caminhão pipa, para encher seus baldes e saciar a sede dos bodes no campo.

Lendo esse artigo do Roberto Malvezzi, da Pastoral da Terra fica aquele nó no estômago porque, o certo é que a água está correndo, e faltando, e muito. E a seca atual já dura um tempão e, como sempre, não tem prazo para acabar.

Então, veja só:

  • a água ainda não transpôs o divisor (da bacia hidrográfica),
  • nem chegou aos estados do Nordeste Setentrional
  • mas, já está faltando lá onde o rio desemboca no mar – Sergipe. Lá, São Francisco chegava com força, entrava mar adentro. As terras tinham água doce e boa para as populações das cidades, para os bichos do campo. Hoje a pluma salgada avançou quilômetros terra adentro salgando poços, inviabilizando o uso doméstico e de cultivo.
  • Na barragem de Sertânia já teve vazamento, famílias (60) foram atingidas, deslocadas para outro lugar. Houve destruição de bens, terras de cultivo e casas e a morte de animais de pasto.
  • Enfim, é bom que chegue água boa para quem não tinha mas, não pode faltar para os que antes até tinham.
  • E como será a distribuição dessa água? Será que o pequeno vai ter como concorrer com o grande na hora do “quem paga mais”? Claro que não!
  • E quem são, realmente, os beneficiados – o agronegócio, as indústrias ou os agricultores familiares que, nada, nada, fornecem 70 % do alimento que nós, brasileiros, comemos no dia-a-dia?
  • E, por último, as nascentes do São Francisco, a revitalização da sua calha, os cuidados ambientais nas margens e cabeceiras. E os rios contribuintes. E o regime de chuvas. E aí, você já deu conta de avaliar tudo isso?

Essa matéria aqui, da Folha de São Paulo falou da seca que, segundo eles, já dura cinco anos. E daqueles que não ficam no caminho das águas, para os quais é preciso que sejam feitas adutoras – previstas num primeiro momento mas, deixadas de lado pois, o técnico vira político e se perde no projeto.

Não! Absolutamente, não me interessa quem é o pai da criança – o que me interessa é que seja feito direito, que o dinheiro não escoe pelo ralo, que o povo deixe de morrer à míngua de água e atendimentos, que o cerrado seja protegido pois, sem cerrado não haverá água para ninguém. E que, nesse vai-e-vem de ocupação das terras, a caatinga também está sendo extinta, apesar da sua enorme importância para o Brasil.

RIO SÃO FRANCISCO – A EXTINÇÃO DA CAATINGA (ESTUDO)

E, se não for pedir demais, dê uma lida aqui nessa entrevista com Altair Sales Barbosa pois, para ele a transposição que até nem é uma ideia ruim (para irrigar áreas secas) vai concluir com a morte do rio (eu me pergunto se vale a pena perder o São Francisco).

É dureza a gente ter que manter a cabeça fria quando tem tanta gente morrendo de sede sertão adentro e, ao mesmo tempo, o agronegócio, produtor monocultural de algodão, soja e milho transgênico, é o grande bebedor das águas boas das nascentes. E, de repente, 10 anos depois de um projeto ser batalhado a gente se dá conta de que os pequenos canais e albufeiras prá gente pobre ficaram pelo caminho, que as inaugurações são para grandes canais principais que vão levar água cara até o agronegócio. E continua a seca do Nordeste.

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Redação greenMe

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