Pesquisadores brasileiros visitam o Canadá para conhecer metodologia de análise de rios


Desde a tragédia ocorrida em Mariana (MG), provocada pelo rompimento da barragem de Fundão há quase seis meses, muitas perguntas sobre o impacto social e ao meio ambiente continuam, ainda, sem resposta.

O acidente na barragem, controlada pela mineradora Samarco, causou a morte de 19 vítimas, destruiu ecossistemas e colocou em risco a Bacia do Rio Doce. Muitos estudos vêm sendo feitos nesses meses decorridos, mas ainda não é sabido o real impacto do acontecimento para a e dos .

A existência de altos níveis de metais pesados no , embora tenha sido verificada por vários estudos, não atestou se a contaminação está mesmo associada ao rompimento da barragem. A pesca foi proibida no rio, a pedido do Ministério Público Federal, como medida de precaução, porque não há informações comprovadas sobre a condição dos peixes para o consumo humano.

Devido a essas dúvidas, um grupo de pesquisadores brasileiros viajou ao Canadá para se reunir com funcionários da Agência Ambiental Canadense e pesquisadores da Universidade de Alberta, em Edmonton, para conhecer a sua metodologia de análise dos rios. Os resultados da viagem, contados pela Agência Brasil, levam em conta na análise dois fatores: a observação dos indicadores biológicos, e não somente físicos e químicos, e a necessidade de uma pesquisa regular, não restrita apenas para o momento pós-desastre.

No estado de Alberta, o grupo brasileiro visitou o rio Athabasca, poluído pelo rompimento de uma barragem de uma mina de carvão, em 2013, que levou 680 metros cúbicos de rejeitos atingirem o seu leito e percorrerem mil quilômetros. Em Vancouver, os pesquisadores souberam de outro episódio trágico envolvendo uma mina de ouro e cobre, em 2014.

Ao conhecerem essas duas experiências, os pesquisadores brasileiros voltaram para o Brasil para colocar em prática o monitoramentoo mensal de peixes e sedimentos depositados no fundo do rio.

“No Brasil, estamos acostumados a avaliar somente o contaminante. Pegamos amostras das água e dos peixes e dizemos se ali há contaminação acima do permitido pela legislação. Mas isso é suficiente. Precisamos de indicadores biológicos ou indicadores de efeito, isto é, analisar o comportamento dos contaminantes, do ambiente e dos seres que nele habitam. Porque um contaminante pode estar acima dos limites legais e não estar causando efeito nenhum. E o contrário também pode ocorrer, de um contaminante dentro dos padrões estabelecidos estar causando algum impacto”, disse Fernando Aquinoga, toxicologista e ecologista.

Os pesquisadores canadenses estudaram minuciosamente os peixes e os sedimentos após o episódio ocorrido no rio Athabasca, comenta a biológa Tatiana Furley. “O sedimento no fundo do rio é o depósito final do contaminante. Sua análise é muito importante, pois ele interfere no comportamento do rio. Os crustáceos comem esse sedimento e depois servem de alimentos aos peixes. Além disso, uma enchente pode, no futuro, movimentar os sedimentos e espalhar novamente o contaminante,” explica.

A metodologia canadense de análise dos peixes não se restringe apenas à análise química. Cada detalhe é importante para a análise, que não deve ficar somente na coleta de amostras de espécies. “É preciso observar os números da população, se os animais estão saudáveis, se alimentando, se reproduzindo. Peixes refletem a qualidade da água do rio e uma análise precisa nos diz muita coisa. Devemos observar o fígado, os ovos, as gônadas, o metabolismo. É fundamental analisar se o estresse do ambiente está prejudicando o metabolismo. E fazer também uma comparação das populações de uma parte do rio que sofreu impacto e de outra que não foi afetada”, acrescenta Fernando Aquinoga.

O grupo brasileiro espera contribuir para um novo protocolo a ser observado para pesquisas futuras da qualidade das águas das bacias. Para isso, será preciso realizar novas parcerias e envolver mais pesquisadores.

Um projeto-piloto, adaptado da experiência canadense para a realidade brasileira, está sendo preparado para ser usado em três rios capixabas: Benevente, Jucu e Santa Maria da Vitória.

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Fonte: Leo Rodrigues, Agência Brasil

Fonte foto: shutterstock




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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