Zika em números – uma análise com rigor científico


Continuam aumentando os casos de microcefalia e outras alterações neurológicas no Brasil. Ou será que agora as notificações são mais acuradas? Ou será que os parâmetros de diagnóstico podem induzir a erros por sua amplitude exagerada? A comunidade científica discute e afirma que ainda não é correto dizer que o surto de microcefalia ocorrente no Brasil seja causado pelo zika vírus. Pode ser ou pode até não ser. É preciso comprovar e, para isso, faz falta maior rigor científico nas análises, apontam os especialistas.

Segundo o último boletim (1º de março) do Ministério da Saúde já são 641 os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso que sugerem a existência de uma infecção congênita – a Síndrome Congênita do Zika. O boletim informa também que outras 1.046 notificações de microcefalia não se confirmaram até o momento mas que, ainda são 4.222 os casos suspeitos em investigação. Os “não confirmados”, casos descartados para a investigação de Síndrome Congênita do Zika, ou apresentaram parâmetros normais ou foi possível confirmar que a microcefalia ou alterações do sistema nervoso não eram decorrentes de causas infeccionais.

No entanto, para todos os casos investigados o Ministério da Saúde assume que houve contágio pelo vírus Zika em alguma fase da gravidez, mesmo quando não é possível confirmar-se este fato, dada a falta de sintomas ou as negativas dos exames clínicos realizados com as grávidas em acompanhamento.

Mas, o que significam, realmente, os números brasileiros?

A média anual de notificações de microcefalia no Brasil era de 0,5 casos para cada 10 mil nascidos vivos e saltou, desde o início das investigações ligadas à epidemia de zika, para 6,4 (entre outubro de 2015 e janeiro de 2016) somente para os casos de microcefalia por causa infecciosa, que são os investigados. A título de comparação, a média dos Estados Unidos, para microcefalia, vai de 2 a 12 casos para cada 10 mil nascimentos. Com certeza os números assustam, e mais ainda, seu aumento tão violento. Mas, é preciso reconhecer que as causas objetivas para tal aumento ainda não foram comprovadas.

Esta discussão hoje divide os cientistas do mundo todo.

Na revista científica Nature foi publicado por pesquisadores do grupo de estudos latino-americano ECLAMC (Estudo Colaborativo de Malformações Congênitas) um sério questionamento sobre o surto de microcefalia no Brasil. Os pesquisadores Ieda Maria Orioli, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e Jorge Lopez-Camelo, afirmam que “o aumento de casos da doença poderia ser atribuído ao fato de, após o aparecimento dos primeiros relatos, ter crescido a atenção a problemas de nascença, como a microcefalia, e também por diagnósticos errados. Assim, mesmo se o zika estiver causando microcefalia, esse número é simplesmente alto demais para ser crível“, segundo a Nature.

Outro pesquisador, Thomas Jaenisch, que é especialista em medicina tropical da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, questiona o que ele chamou de “uma posição extrema” assumida pelos pesquisadores brasileiros, bem como pelo Ministério da Saúde, o que pode criar incertezas nos debates que estão acontecendo no Brasil, entre a mídia e o público, neste momento.

Outra questão importante, segundo o ECLAMC, é “a probabilidade de haver uma alta taxa de erros de diagnósticos em casos reportados dada a amplitude do critério usado para diagnosticar microcefalia”.

Já para o professor Alexandre Chiavegatto, da Epidemiologia da USP, a análise correta, com rigor científico, dos dados disponíveis, ainda não permite provar a relação causal entre o zika vírus e as alterações neurológicas, dentre as quais está a microcefalia. Segundo este professor: “É possível que sim [que o zika vírus seja a causa da microcefalia] e (…) se eu tivesse de apostar, ainda colocaria minhas fichas na existência dessa relação (de causa), mas ciência não é aposta e temos de admitir que estão surgindo evidências que mostram que precisamos de mais pesquisas.” Um outro dado interessante é que Sergipe tem o maior número de casos registrados de microcefalia do país (192), mas nenhum caso foi confirmado de infecção por zika vírus. Leia aqui a íntegra desta informação.

Leia também: CABO VERDE COM ZIKA DECRESCENTE E NENHUM CASO DE MICROCEFALIA

A investigação do MS e onde ocorrem os casos

O boletim do Ministério da Saúde refere dados que foram registrados até o passado 27 de fevereiro. A investigação sobre a ocorrência da Síndrome Congênita de Zika, como agora se denomina a variedade de sintomas neurológicos e físicos que, presume-se, estejam relacionados com a infecção das grávidas por zika vírus, vem ocorrendo desde 22 de outubro de 2015 e já foram registrados 5.909 casos suspeitos em 1.143 municípios de 15 estados brasileiros. Estatisticamente, a região Nordeste concentra a maioria das ocorrências (81%) e, é no estado de Pernambuco onde foram notificados maior número de casos (1.672), seguido de Bahia (817), Paraíba (810), Rio Grande do Norte (383), Ceará (352), Rio de Janeiro (261), Alagoas (222), Sergipe (192) e Maranhão (192).

No total são 15 os estados afetados onde ocorreram dos 641 casos confirmados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Pará, Rondônia, Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Até o momento não há nenhuma notificação para os estados do Amapá e Amazonas.

O Ministério da Saúde esclarece que a microcefalia e outras alterações neurológicas podem ter como causa diversos agentes infecciosos além do Zika, como Sífilis, Toxoplasmose, Outros Agentes Infecciosos, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes Viral.

Prevenir é fundamental!

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Redação greenMe

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