Anitta é orgulho nacional?! Tirem as crianças da sala 


Esse foi um mês de conquistas para a música brasileira. Pela primeira vez na história, um artista brasileiro chegou ao número 1 na lista de músicas mais ouvidas no mundo, de acordo com o Spotify. Esse feito foi conquistado pela cantora Anitta, com o hit “Envolver”.

No momento, o clipe dessa música já é o 4° mais visto no mundo pelo YouTube, e o mais procurado no Brasil.

A dancinha na qual a moça rebola no chão viralizou, e está sendo copiada por TikTokers no mundo inteiro.

A letra da música também deve estar na cabeça do povo como “um cachorrinho para enganar, colado na parede… mas não vou te envolver”…

Anitta orgulho nacional?! Só que não…

Muitas pessoas vibraram com a notícia. Certamente a artista tem muitos méritos ao conseguir emplacar em um mercado tão concorrido.

No entanto, a chegada de uma música como “Envolver” no topo levanta uma questão muito importante: muitas meninas enxergam cantoras, como Anitta e Luiza Sonza, como exemplos de empoderamento feminino. Porém, essa confusão entre liberdade sexual, empoderamento e feminismo não faz bem às mulheres e só fortalece ainda mais quem já lucra muito com isso: os homens e o sistema capitalista.

Não é de hoje que cantoras pop utilizam o próprio corpo para vender a ideia de liberdade sexual e empoderamento. A Madonna, uma das precursoras, já fazia isso nos anos 80. Porém, como o mercado pede sempre por mais, atualmente o que a Madonna fazia já é considerado “recatado” demais, então a indústria passou a apelar para coreografias, performances e figurinos ainda mais sexualizados.

Vale dizer que isso não é uma crítica às cantoras, nem à forma como elas enxergam o empoderamento, mas ao sistema que só dá sucesso para mulheres quando elas vendem a própria sexualidade, pois a exposição de seus corpos continua servindo aos homens.

O feminismo que os homens querem

Esse tipo de feminismo não iguala os salários, não diminui a dupla ou tripla carga de trabalho das mulheres, não as impede de ser violentadas, menosprezadas ou preteridas, ao contrário, objetifica ainda mais seus corpos.

Esse tipo de feminismo não inclui as mulheres na política, em altos cargos, e nem tira da maternidade todo peso de criação dos filhos, ao contrário, vê a mulher como  serviçal dos desejos masculinos.

A exposição dos corpos pode refletir uma cultura de liberdade sexual, que é vantajosa para as mulheres, evidentemente, mas que continua a serviço dos homens.

É o tipo de feminismo que os homens querem, porque o corpo feminino continua sendo a mercadoria que eles consumem com facilidade, corpo que sempre foi reivindicado por eles e continua sendo deles.

A crítica, vale ressaltar, não é às cantoras, que fazem parte de um sistema que lucra, pois, sexo sempre vendeu muito. O grande problema é o uso de tais artistas como símbolos de empoderamento feminino.

Tirem as crianças da sala

A hiperssexualização de corpos femininos em cima de músicas de gosto duvidoso não deveria nunca ser confundido com empoderamento feminino. E não deveria nunca servir de isnpiração para crianças que podem ver na Anitta um exemplo a seguir: dona do próprio corpo, inteligente, que fez carreira sozinha, batalhadora, que vem de baixo, etc, etc, com todos os predicados à artista e à sua carreira.

Não se pode achar que hiperssexualizar crianças, sem que elas tenham o devido conhecimento para isso, vá gerar bons frutos. Precisamos ensinar às meninas que não há problema se existem fãs de artistas como Anitta, mas que não é feminismo o que elas fazem.

Existem exemplos muito melhores para ensinar nossas meninas sobre elas mesmas.

Existem exemplos muito melhores para ensinar à sociedade o que é sensualidade, que é muito diferente do que faz a Anitta, embora muitos possam discordar.

A sexualização explicita que se vê no “Envolver” é exatamente o contrário do feminismo. O sucesso só poderia ser compreensível se o público que aplaude fosse contrário ao empoderamento da mulher, ou seja, fosse um público 100% machista.

Tirem as crianças da sala se não quiserem reclamar amanhã dos meninos que cresceram e viraram homens que não assumem paternidade, que estupram e matam mulheres. Estamos literalmente  envolvendo mais uma geração masculina  na crença de que mulheres são objetos do desejo deles, nada mais nada menos: com dinheiro ou sem dinheiro… apenas objetos.

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Cintia Ferreira

Paulistana formada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro, tem o blog Mamãe me Cria e escreve para greenMe desde 2017.


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