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Com o avanço das tecnologias digitais, das redes sociais e das plataformas de streaming como YouTube, Instagram, TikTok e Twitch, surgiram novas formas de se conectar — ou pelo menos, de sentir que estamos conectados. Nesse cenário, um fenômeno psicológico ganhou força: as relações parassociais.
Mulher olhando e sorrindo para o celular: relações parassociais
Embora não sejam novas — o termo foi cunhado na década de 1956 para descrever o vínculo entre telespectadores e apresentadores de TV —, essas relações se intensificaram drasticamente com a interatividade digital. Mas o que são exatamente essas relações, e como elas afetam nossa saúde mental?
As relações parassociais são vínculos emocionais unilaterais que uma pessoa desenvolve com uma figura da mídia (como celebridades, influenciadores, streamers ou idols de K-pop), mesmo que essa figura não saiba da sua existência.
A pessoa sente que conhece o outro, que existe intimidade ou até reciprocidade, embora essa proximidade seja construída por meio de interações mediadas — vídeos, lives, postagens — e não por contato real.
Essas relações podem ser:
As relações parassociais são comuns em:
Com o avanço da inteligência artificial, assistentes virtuais como a ChatGPT também começaram a ocupar um espaço curioso no campo das relações parassociais. Embora não tenham consciência nem emoções, eles são projetados para oferecer respostas empáticas, escuta ativa e até conselhos.
Usuários que conversam regularmente com esses sistemas — seja por curiosidade, solidão ou busca por apoio emocional — podem desenvolver uma sensação de vínculo, como se estivessem sendo compreendidos por uma “pessoa”. Isso se intensifica com interfaces mais humanizadas e linguagem afetuosa.
Aplicativos como Replika, por exemplo, são explicitamente voltados para a criação de “relacionamentos” com IAs, promovendo companheirismo e suporte emocional. Embora essas interações possam trazer conforto e até reduzir sintomas de ansiedade, elas também levantam questões éticas sobre dependência emocional, privacidade e os limites entre o real e o simulado.
Mesmo a ChatGPT, ao ser usada para desabafos ou conselhos, participa dessa dinâmica, oferecendo uma sensação de diálogo, acolhimento e continuidade — ainda que de forma não humana mas que parece muito humanizada.
Nem toda relação parassocial é negativa. Elas podem oferecer benefícios importantes, especialmente para pessoas em situações de isolamento ou vulnerabilidade emocional:
Seguir alguém que compartilha valores, interesses ou experiências semelhantes pode criar um senso de comunidade e reduzir a solidão.
Celebridades ou influenciadores carismáticos podem servir como figuras de apoio emocional, especialmente para adolescentes, pessoas LGBTQIA+ ou indivíduos que se sentem incompreendidos em seus ambientes sociais.
Ver alguém enfrentando dificuldades ou promovendo o autocuidado pode inspirar mudanças de comportamento saudáveis, como buscar terapia, exercitar-se ou melhorar hábitos de vida.
Apesar dos possíveis benefícios, relações parassociais também apresentam riscos importantes, especialmente quando se tornam intensas ou obsessivas:
O público vê apenas o que é mostrado. Quando a figura pública comete erros, quebra expectativas ou se afasta, o fã pode sentir traição, perda ou desilusão.
Substituir relações reais por vínculos unilaterais pode aumentar o isolamento, dificultar o desenvolvimento de habilidades sociais e reforçar padrões de evasão emocional.
Em casos extremos, a pessoa pode desenvolver dependência emocional, ansiedade ligada à ausência de conteúdo, ou até comportamentos de stalking e assédio.
Comparações constantes com influenciadores (que vivem vidas “perfeitas”) podem levar a sentimentos de inadequação, inveja ou depressão — especialmente entre adolescentes.
A psicologia entende essas relações como parte do vínculo humano com narrativas e identificação simbólica. Elas envolvem:
As plataformas digitais muitas vezes incentivam relações parassociais, pois elas:
Isso levanta questões éticas: até que ponto influenciadores devem explorar a vulnerabilidade emocional do público?
As relações parassociais são um fenômeno natural e comum na era digital. Elas refletem a necessidade humana de conexão, identificação e pertencimento — necessidades legítimas e fundamentais. No entanto, como qualquer relação, elas devem ser cuidadas com consciência, autoconhecimento e equilíbrio.
Reconhecer os limites dessas conexões e cultivar relacionamentos reais e significativos são passos importantes para manter a saúde mental em um mundo cada vez mais mediado por telas e likes.
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Categorias: Sociedade
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