França adota “cafés conserto”: chega de consumismo!


Paris é conhecida no mundo todo por suas charmosas cafeterias. Agora, a capital francesa inovou com um novo tipo de café: os “cafés conserto”.

Os cafés consertos são uma iniciativa para incentivar os habitantes de Paris a consumirem menos e a repararem mais. Nesses locais, os moradores dos arrondissements da capital francesas podem levar seus dispositivos eletrônicos e utensílios domésticos para serem consertados gratuitamente por técnicos voluntários.

O organizador Repair Café Paris, Emmanuel Vallée, reflete que:

“Somos uma sociedade de desperdício e consumo excessivo. Jogamos fora coisas que não necessariamente precisaríamos jogar”.

Dados de 2016, segundo a BBC, revelam que foram produzidas no mundo todo 45 milhões de toneladas de lixo eletrônico. Avalia-se que os smartphones, computadores e eletrodomésticos descartados custem US$ 62,5 bilhões e somente 20% do total desses equipamentos são reciclados.

Mudar a cultura do consumo

O problema não para por aí: a maior parte do lixo eletrônico produzido pelo Ocidente tem como destino aterros tóxicos nas Filipinas, em Gana, na Nigéria e na China, países que devem receber, em 2021, mais de 52 milhões de toneladas de dispositivos. A projeção é que esse peso dobre de volume até 2050, fazendo do lixo eletrônico o principal tipo de rejeito do mundo.

O impacto ambiental disso é gravíssimo, pois provoca o aumento das emissões de gás carbônico, da contaminação das águas e das cadeias de abastecimento alimentar.

A possibilidade de evitar o descarte através do conserto de dispositivos eletrônicos que podem voltar a funcionar perfeitamente é uma forma de mudar a cultura do consumismo que assola todo o planeta.

Aa autoridades francesas estão apostando tanto nas oficinas de reparo que a Assembleia Nacional Francesa deliberou, em 2020, a instituição de um índice de classificação de “reparabilidade” para eletrodomésticos, a fim de aumentar a taxa de conserto de dispositivos eletrônicos em 60% no período de cinco anos.

A partir de janeiro deste ano, a nova regra entrou em vigor exigindo dos fabricantes que classifiquem seus produtos de acordo com os seguintes critérios da nova lei: facilidade de conserto, preço das peças de reposição, disponibilidade de peças de reposição, disponibilidade de documentação para conserto e uma medida final que varia dependendo do tipo de dispositivo.

Os fabricantes, distribuidores e vendedores têm o prazo de um ano para cumprir a medida, que, caso seja violada, ensejará multa de até 15 mil euros.

A partir de 2024, passará a vigorar um índice de “durabilidade”, que leva em conta o nível de qualidade dos produtos, explica a deputada francesa e relatora da legislação, Véronique Riotton:

“Queremos limitar o consumo dos recursos naturais do mundo. Todo mundo está preocupado. O objetivo é melhorar o mercado de consertos, e espero que esse índice deixe o consumidor mais consciente em relação a esta crise ecológica”.

Espera-se, com a nova legislação francesa, que as empresas busquem melhorar a qualidade dos seus produtos, já que eles se tornarão mais duráveis, o que também pode reverberam positivamente na relação com os clientes.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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