Passar os seios a ferro: a prática que preocupa o Reino Unido


“É realmente um abuso. Dói. Isso desumaniza, você não é mais um ser humano”: assim começa o depoimento de Simone ao programa Victoria Derbyshire, da rede de televisão britânica BBC. Ela é uma entre tantas mulheres de origem africana que tiveram os seios queimados no início da puberdade, período em que começam a se desenvolver.

O procedimento brutal é realizado por mães e avós, que têm o objetivo de retardar o desenvolvimento das mamas e impedir que as meninas nessa idade atraiam o olhar dos homens e despertem desejos sexuais.

A prática é frequente em comunidades africanas presentes no Reino Unido e tem sido noticiada em diversos veículos de comunicação. A estimativa é de que mil meninas e mulheres em solo britânico tenham sido afetadas.

Outras mulheres contaram suas histórias para a reportagem, sob a condição do anonimato. Kinaya é o nome fictício de uma delas. Sua família veio da África Ocidental, onde a prática de queimar os seios se originou. Aos 10 anos, foi submetida à experiência dolorosa, defendida como necessária por sua mãe, sob a alegação de que, do contrário, os homens começariam a persegui-la para fazer sexo.

seios a ferro

O que aconteceu com Kinaya não é incomum. Nas comunidades onde essa prática faz parte da tradição, cabe às mães queimar os seios das filhas nessa fase, geralmente pressionando uma pedra ou colher quente na região, apertando com o objetivo de diminuir o volume. Esse processo pode durar meses.

“O tempo não apaga esse tipo de dor”, desabafou Kinaya. “Você não pode sequer gritar. Se o fizer, dizem que você trouxe vergonha para a família, que você não é uma menina forte”.

Kinaya, hoje adulta e mãe, decidiu se afastar da família quando sua filha completou 10 anos e sua mãe propôs queimar seus seios também.

seios a ferro 2

Uma pedra aquecida é o instrumento muitas vezes usado nesta prática

Para lidar com o problema, o órgão inglês responsável pelas políticas de educação, o National Education Union, defende a necessidade de que o tema esteja presente no currículo de todas as escolas e sua abordagem seja obrigatória nas salas de aula do país.

A intenção é que as crianças possam se conscientizar de que tais práticas são abusivas e, caso sejam submetidas a elas, acionem a escola.

Os professores vêm sendo convocados para um período de formação a respeito do tema, para que possam ouvir as meninas e tomar providências cabíveis.

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Gisele Maia

Jornalista e mestre em Ciência da Religião. Tem 18 anos de experiência em produção de conteúdo multimídia. Coordenou diversos projetos de Educação, Meio Ambiente e Divulgação Científica.


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