Nunca fomos tão infelizes, revela pesquisa


Que o Brasil está passando por uma maré de infortúnios é evidente. A tal ponto que atingimos o ápice da infelicidade, em 2018.

É o que aponta uma pesquisa da “World happiness report” (relatório mundial de felicidade), feita pela empresa de opinião Gallup. As razões para não estarmos felizes seriam a crise financeira e a falta de confiança nas lideranças políticas nacionais.

O brasileiro está descrente e infeliz. Nem precisava dessa pesquisa para chegar a essa triste constatação. O sentimento geral é esse mesmo. As pessoas estão desmotivadas e com a sensação de que não há luz no fim do túnel.

O foco da pesquisa

A Gallup registrou um recorde, em sua base de dados para todos os países analisados, desde 2006, para a descrença dos brasileiros nos políticos. O relatório analisou 156 países. O foco deste último foi “felicidade e comunidades” e, entre os aspectos considerados, estão a influência dos governos, das mídias sociais e das normais sociais.

Mas os brasileiros não estão tristes sozinhos: há uma onda global de infelicidade. As razões são as mesmas daqui, incluindo o consumo de informação pelas redes sociais.

“As evidências apontam para um vínculo entre o uso crescente das mídias digitais e os índices de felicidade“, aponta o relatório.

Para o cálculo, são considerados índices sociais como renda e desigualdade e um questionário subjetivo com perguntas do tipo “Você tem amigos ou familiares com quem consegue contar em momentos de necessidade?” e “A corrupção está difundida no governo do seu país?”.

Uma equipe de analistas da FGV Rio analisou a base de dados da Gallup para avaliar o estado anímico dos brasileiros. Marcelo Neri, economista e membro da equipe, considera que, no Brasil, há uma forte relação entre felicidade e renda.

“Quando entramos em brutal recessão, em 2015, a desigualdade também aumentou, puxando os índices de felicidade para baixo. Nos últimos anos a renda média tem se recuperado, mas a desigualdade se mantém alta, puxando para baixo o bem-estar. Nenhum país tem relação mais intensa entre felicidade e renda que o Brasil. Os mais ricos são muito mais felizes que os mais pobres. E os que mais demonstraram alteração no estado de espírito (negativa, desta vez) foram os membros da classe média, que também foram responsáveis pelo último período de pico, em 2013”, avaliou Neri para o Jornal O Globo.

O economista identifica que, desde 2010, os dados da Gallup já mostravam que os brasileiros estavam desacreditados dos governantes e das políticas públicas, mas em 2018 foi o pior momento. Ele interpreta que:

“Em 2018, além do desemprego e da desigualdade, o brasileiro estava mais sensível, mais desiludido. Os resultados mostram um povo que não confia no governo, tem mais medo da violência e desaprova as lideranças políticas”.

Sessão de terapia

Essa era de infelicidade tem se refletido nos consultórios psicológicos, como analisou O Globo. Segundo a psicóloga Livia Marques, as pessoas relatam estarem descontentes não só com as suas vidas vidas mas com o contexto social geral.

“O que acontece na comunidade brasileira realmente está afetando as pessoas. Observo a tristeza não apenas no consultório, mas também nas conversas do dia a dia. O ritmo de vida corrido, o medo do julgamento e a sensação de sempre ter que atender às expectativas da sociedade são as queixas que mais ouço sobre o que deixa as pessoas infelizes“, analisa.

Outra psicóloga, Roseana Ribeiro, pontua que a sensação de insegurança também é outro motivo levado pelos pacientes às sessões de terapia:

A sociedade está exausta, os jovens já estão cansados, mesmo sendo novos. Antes, a insatisfação girava em torno da família, do próprio estilo de vida, mas, agora, o medo e a insegurança estão mais presentes nas falas das pessoas”.

Orgulho de ser brasileiro?

O país precisa se reconectar com os seus melhores valores. Ariano Suassuana, um dos maiores entusiastas do Brasil, defendia o Brasil real contra o Brasil oficial, nos termos de Machado de Assis.

“O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”.

O país burlesco está estampando no noticiário pirotécnico, nos tuítes de políticos, no vexame diário nacional e internacional, causando uma estafa na população. É o país real que precisamos recuperar e de que precisamos sentir orgulho. Como faremos isso é o nosso grande desafio como sociedade.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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