#EuNãoSouDespesa: a hashtag contra a desinformação e o preconceito


“Uma pessoa com HIV, além de ser um problema sério para ela, é uma despesa para todos aqui no Brasil”.

Essa declaração preconceituosa e que reforça um estigma foi dada pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, a jornalistas que o questionaram sobre os recursos financeiros destinados ao programa de combate à violência contra as mulheres do Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos.

A pasta liderada pela ministra Damares Alves lançou a Campanha Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência defendendo a abstinência sexual como método contraceptivo, tendo como bordão “tudo tem seu tempo: adolescência primeiro, gravidez depois”.

Além de misturar alhos com bugalhos e mostrar total incompreensão sobre o problema da gravidez entre jovens e sobre uma questão de saúde pública, que é o tratamento adequado aos portadores de HIV, Bolsonaro fez circular um estigma que há anos vem sendo combatido pela sociedade e pelos profissionais de saúde.

A reação à declaração eivada de preconceito veio em cadeia. Entidades que defendem pessoas com HIV e coletivos classificaram a declaração como “desrespeitosa, superficial e preconceituosa”, como informou a BBC News Brasil.

#EuNãoSouDespesa

Os portadores de HIV começaram a usar a hashtag #EuNãoSouDespesa, em repúdio à fala de Bolsonaro, a partir de uma campanha promovida pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), que contou com o apoio da sociedade civil e “diversos outros cidadãos e cidadãs que defendem o Sistema Único de Saúde (SUS), contra o estigma, o preconceito e a discriminação”.

O ativista e escritor Beto Volpe declarou:

“Eu me senti profundamente ofendido. Não bastasse ele ter dito anteriormente que o Estado não deveria arcar com o tratamento de quem contrai o vírus ‘na bandalheira’, agora ele nos taxa como meras despesas de governo”.

Bolsonaria havia dito, em 2010, em uma entrevista ao programa televisivo CQC, que:

“uma pessoa que vive na vida mundana depois vai querer cobrar do poder público um tratamento que é caro”.

Beto é portador de HIV há mais de 30 anos. Sua crítica parte de uma premissa básica: ele é um cidadão que paga impostos e, portanto, tem o direito a receber um tratamento de saúde público, como tantas outras pessoas doentes.

Combater o estigma

A fala de Bolsonaro mostra má fé ou ignorância em relação ao perfil de pessoas infectadas pelo HIV. O Instituto Consulado da Mulher compartilhou em sua página no Facebook o documentário “Positivas” para combater o estigma sobre esse tema.

As “positivas” em questão são mulheres que receberam o diagnóstico de soropositivas após contraírem o HIV de seus maridos ou parceiros estáveis, ou seja, “mulheres de bem” (na visão de Bolsonaro), heterossexuais, supostamente “protegidas” por seus parceiros no laço de confiança da instituição matrimonial.

https://www.facebook.com/consuladodamulher/videos/1070147316350617/?q=aids%20mulheres%20contra%C3%ADram%20de%20seus%20maridos&epa=SEARCH_BOX

O HIV no Brasil

Além de combater o preconceito, é preciso impedir o avanço do HIV no Brasil. Dados do Ministério da Saúde relativos a 2018 registraram 43,9 mil novos casos de HIV no país. Estima-se que 866 mil pessoas estariam infectadas pelo vírus naquele ano, além de a pasta estimar que outras 135 mil não sabem que vivem com o vírus.

O Ministério da Saúde divulgou, em 2019, que o número de mortes por AIDS, que é a doença que o paciente portador do vírus HIV pode desenvolver, teve queda de 22,8% nos últimos cinco anos.

Isso só foi possível porque o Brasil é um modelo para o mundo no tratamento gratuito disponibilizado pelo SUS para os pacientes portadores de HIV. Os medicamentos são distribuídos gratuitamente a eles, que recebem, ainda, acompanhamento específico.

Graças a essa política pública, o Ministério da Saúde afirmou, em um estudo feito pela pasta em 2019, que as pessoas com o vírus têm mais que o dobro de sobrevida quando recebem o tratamento adequado.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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