Pesquisador questiona cientificamente os benefícios difundidos da meditação


É inegável que a meditação traz uma série de benefícios, facilmente percebidos logo após a sua prática. A ciência tem se dedicado cada vez mais a entender a relação entre a meditação e a cognição humana, mas será que tudo o que se tem dito a respeito é realmente verdade do ponto de vista científico?

O professor de psicologia da Coventry University (Reino Unido), Miguel Farias, afirma que há mais dúvidas do que certezas sobre o papel da meditação na melhoria do mundo e do próprio praticante. Segundo o que o especialista disse ao Portal da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), há três comprovações científicas sobre os benefícios da meditação:

“A meditação, particularmente a terapia da meditação ‘mindfulness’ associada a técnicas cognitivas (terapia cognitiva) parece útil para pessoas que tenham depressão recorrente. Ou seja, tiveram pelo menos três episódios. Há também estudos que demonstram que há efeito moderado para pessoas com transtorno de ansiedade ou com dor crônica. Os resultados de estudos para outras situações são muito mais ambíguos e as evidências são mais fracas”.

Com isso, Farias não quer dizer que a meditação seja ineficaz. O que ele pondera é a retórica que a toma como a “solução para os problemas do mundo”. É fácil perceber isso, por exemplo, com a quantidade de aplicativos de meditação para celular.

“É muito importante a ciência se debruçar para podermos entender bem não só os benefícios, mas a quem ela pode beneficiar, em que contextos particulares e com que tipos de problemas psicológicos ela pode ser útil ou não”, argumenta o professor.

A metodologia da investigação se baseou na análise crítica da história da meditação, na consulta a especialistas, na verificação de estudos e na tentativa de replicação dos resultados, em alguns casos.

Mitos sobre a meditação

Através da revisão de uma pesquisa feita com quatro mil participantes, que praticaram meditação por oito semanas, em Washington (EUA), Farias verificou que houve redução no índice de roubos, mas observou o aumento de 50% no número de casos de homicídio. Em outro estudo realizado com prisioneiros que meditavam, foi constatada a redução do estresse, mas não o declínio da agressividade.

“Há poucas evidências de redução de estresse e melhoria contínua de qualidade de vida. E não há evidências suficientes sobre melhora da atenção e de um humor positivo”, defende Farias.

O que esses dados revelam, de acordo com o professor, é que a tese de que a meditação promove pacificidade não pode ser considerada uma solução isolada, visto que a violência é um fenômeno complexo e multifatorial.

Um outro mito sobre a meditação estaria relacionado a tradições filosóficas e religiosas que desenvolvem técnicas para viver o “aqui e agora”. De acordo com o pesquisador, muitas tradições orientais não colocam o “aqui e agora” como um objetivo espiritual; pelo contrário, o que estaria em jogo é a valorização da tradição e dar início a um estado futuro.

Foi no século XIX que o foco no presente começou a ser difundido, ou seja, essa construção discursiva não está ancorada em tradições milenares.

“Mais de 90% dos movimentos, as asanas na yoga, feitos hoje não tem mais do que cem anos”, revela.

A própria meditação tem objetivos muitos diferentes. No taoísmo, ela está relacionada ao objetivo de perpetuar a vida; no hinduísmo, há registros de que a prática ajudaria a tornar-se fisicamente imortal.

Farias adverte que não é contrário à prática da meditação no contexto terapêutico, mas que é papel da ciência elucidar acerca de crenças que são tomadas como tendo caráter científico.

E para se aprofundar sobre os estudos científicos, que estão apenas começando a respeito dos benefícios, e até das contraindicações, da prática da meditação, veja o vídeo da Casa do Saber com a neurocientista Claudia Feitosa-Santana. Muito interessante!

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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