Brasil concentra o maior número de animais desconhecidos do mundo


O Brasil abriga a maior quantidade de animais desconhecidos do mundo e é na Mata Atlântica onde deve-se encontrar o maior número de espécies vertebradas terrestres não conhecidas, isto é, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.

Um estudo publicado em março deste ano na revista Nature é uma das descobertas mais relevantes na área do meio ambiente. O Brasil possui 10,4 % das espécies desconhecidas do mundo, à frente da Colômbia, que tem 5,2 %, da Indonésia, com 5 %, e de Madagascar, com 4,6 %.

A pesquisa foi realizada pelo professor Mário Ribeiro de Moura da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com a Universidade de Yale, nos EUA.

O ranking de classificação

As classificações para o ranking foram criadas a partir de uma série de características das regiões onde foram descobertas 32 mil das 35 mil espécies de vertebrados terrestres já catalogados. As outras três mil foram excluídas da análise por ainda serem pouco estudadas.

Entre as 11 características analisadas estão:

  • fatores climáticos das regiões em que as espécies habitam, como precipitação e temperatura;
  •  fatores geográficos, como altitude e densidade populacional.

Os cientistas analisaram também elementos ligados às espécies em si:

  • o tamanho do animal;
  • a abrangência de sua distribuição geográfica.

Moura explica:

“Para um cientista andando no meio da selva, características como tamanho e cor do animal aumentam ou diminuem a chance de descoberta, assim como fatores geográficos“.

A busca pelo desconhecido

De acordo com a pesquisa, o bioma brasileiro onde mais devem ocorrer descobertas é a Mata Atlântica. Mas ainda há muito o que descobrir na região da Amazônia brasileira e na região amazônica dos países vizinhos.

Segundo os pesquisadores, a prioridade dos estudos passará a ser em regiões onde há mais possibilidade de existirem espécies desconhecidas.

Ainda para Moura:

“São espécies com valor ecológico, que podem atuar como polinizadores ou realizar algum controle biológico, e com valor econômico, por poderem ser utilizadas na produção de comida, e até mesmo serem vetores de doenças e pragas”.

Entraves que podem prejudicar as descobertas

Não é novidade, o desmatamento é um obstáculo que impossibilita que novas descobertas científicas sejam feitas. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam que, entre agosto de 2019 e julho de 2020, só na Amazônia 11.088 km² de floresta foram derrubados. É a maior área desmatada da última década.

O professor Carlos Roberto da Fonseca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que estudou a Amazônia durante seu doutorado na Universidade de Oxford, afirma que a catalogação de espécies pode ajudar a frear o desmatamento, ao orientar políticas de conservação como a criação de reservas ambientais. Ele diz:

“Se não sabemos que existe, não conseguimos preservar. Normalmente, as pessoas acham que todas as espécies são conhecidas, mas isso está longe de ser verdade. Todo dia, toda semana, a gente vê a descrição de novas espécies. Isso mostra o quanto a gente deveria estar investindo em museus e instituições de zoologia e botânica que tratam da biodiversidade brasileira“.

É muito comum fazermos trabalho de campo com pouquíssimos recursos. Os cientistas extraem amostras de DNA, mas muitas vezes precisam mandá-las para profissionais estrangeiros, que têm mais acesso a reagentes e equipamentos necessários para fazer o sequenciamento”.

Muitos estudos promissores de profissionais brasileiros qualificados não são financiados por instituições brasileiras. O apoio, na maioria das vezes, vem de instituições e universidades do exterior.

Além do desmatamento, a falta de investimento é considerada outro grande entrave para que sejam realizadas novas descobertas em pesquisas científicas e infraestrutura universitária.

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Lara Meneguelli


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