Mundo pós-pandemia: “A semana de moda acabou”, declara a Gucci


A indústria da moda é uma das que mais polui o meio ambiente e lucra com a lógica do consumismo que vinha organizando as nossas vidas. Quais são os impactos que o novo coronavírus traz para ela e quais são as suas propostas para um mundo onde o consumo sem limites já não pode mais ser um horizonte?

Isoladamente, muitas marcas e pessoas já vinha adotando um guarda-roupa funcional e duradouro, fazendo valer o lema “menos é mais”. Mas ações isoladas, embora possam influenciar tendências de consumo, ainda não eram capazes de interferir na lógica de mercado da moda, como a pandemia fez.

No final de março, o Conselho Administrativo da Federação de Alta Costura e Moda da França (FHCM) cancelou a Semana de Moda Masculina de Paris e a Semana da Alta-Costura. Na Itália, a Câmara Nacional da Moda Italiana também adiou a Semana de Moda Masculina e, no Brasil, a São Paulo Fashion Week cancelou seus desfiles.

Novos hábitos de consumo

A professora do Bacharelado em Moda do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Débora Pinguello Morgado, avalia que as grandes marcas estão adaptando as suas coleções para um número de peças mais reduzido, seja porque as fábricas não podem aglomerar os funcionários para produzi-las, seja porque os consumidores estão comprando menos em decorrência de dificuldades econômicas ou pela revisão dos seus hábitos de consumo.

As redes fast fashion, que são dominadas pela China, também estão tendo dificuldades para produzir e distribuir os seus produtos.

Isso tem feito a indústria da moda pensar em sua sobrevivência no mundo pós-pandemia. Uma alternativa para se manter e consolidar nesse cenário são as vendas online. Marcas como Giorgio Armani e À La Garçonne usaram modelos virtuais para expor suas criações.

Já para a Gucci, a semana de moda acabou. O diretor criativo da empresa italiana, Alessandro Michele, anunciou a redução de cinco para dois desfiles anuais da marca, informa o The Guardian.

As roupas devem ter vida longa

Para Michele, o calendário da semana de moda tornou-se obsoleto com as coleções primavera/verão, outono/inverno. A Gucci optou por coleções sem estações para lidar com a sustentabilidade ambiental e financeira da empresa.

“Acho que essas são palavras obsoletas e mal alimentadas … as roupas devem ter uma vida mais longa do que a que essas palavras lhes atribuem”.

Michele chegou a admitir que a moda “chegou longe demais”, avaliando a responsabilidade do setor :

“Nossas ações imprudentes queimaram a casa em que vivemos. Nós nos concebíamos separados da natureza, nos sentimos astutos e onipotentes. Usurpamos a natureza, a dominamos e a ferimos. Incitamos Prometeu e enterramos Pan”.

O anúncio da marca italiana tem grande impacto em um setor no qual o silêncio estava reinando. As marcas poderosas têm proteção financeira para lidar com a crise por mais algum tempo. O sinal da Gucci seria uma possibilidade de alavancar uma mudança de mentalidade no mundo da moda.

Desde que assumiu a direção da Gucci, Michele tem impresso à marca um maior envolvimento entre moda e cultura. Ele já havia posicionado a Gucci em relação a uma “estética da masculinidade tóxica” subvertendo os códigos de gênero na moda masculina.

Agora, a Gucci mostra que um setor que causou tantos estragos ao meio ambiente não pode mais se omitir ou agir desconectado dos impactos que produz no mundo.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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