Sem esperança, Geração Z acredita mas não faz nada pela mudança climática


A Geração Z é frequentemente elogiada por inaugurar uma onda verde de ativismo ambiental, ao mesmo tempo em que é inerte para provocar mudanças reais sobre a atual situação climática.

Os nascidos entre as décadas de 1990 e 2010 são considerados pertencentes à Geração Z, os quais se caracterizam, também, por serem nativos digitais. Essa geração nasceu junto com a morte das grandes utopias, representada pela queda do muro de Berlim.

Se a geração anterior a essa viveu um “boom” desenvolvimentista, a Geração Z nasce mergulhada no seu declínio, que está relacionado ao novo regime climático, segundo o qual a Terra e todos os seres que a habitam são finitos.

Sinônimos da desesperança

A Geração Z é considerada por alguns como um sinônimo da desesperança.

Seus indivíduos, representados através de um meme conhecido como “doomer”, são associados a uma espécie de pesquisador de tendências da atualidade que acredita no colapso ecológico, mas é incapaz de agir para evitá-lo.

Não que os “doomers” não queiram a mudança, é que lhes falta uma vontade profunda que os motive a promovê-la.

Esse estereótipo que povoa as redes sociais estampou o Instagram do The Guardian, que dedicou uma análise ao niilismo dos “doomers” climáticos para desmistificá-los.

O jornal inglês ouviu alguns jovens para entender o que pensam sobre o futuro. A fala deles mostra uma falta de fé em qualquer tipo de mudança.

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O futuro não lhes apresenta qualquer segurança e estabilidade e, por isso, essa geração parece não se sentir compelida a planejá-lo.

Sem saber como agir, apensar de reconhecerem que existe um problema comum a todos, a mutação climática – para usar a expressão do antropólogo francês Bruno Latour -, os “doomers” estão paralisados por causa do medo e da falsa noção de que é tarde demais para fazer alguma coisa.

Existe uma saída?

Existe sim e em seu mais recente livro, “Onde aterrar: Como se orientar politicamente no Antropoceno”, Latour propõe o óbvio: o único lugar onde aterrar é na Terra e isso significa um esforço de cientistas de diversas áreas, políticos, ambientalistas e formadores das opiniões públicas para criar um afeto político do comum.

Biocídio

As chamadas elites financeiras já sabem da transformação climática há cerca de 50 anos e investiram, desde então, massivamente em desinformação.

Esta segue sendo propalada por alguns políticos (representantes de tais elites) que negam a mudança climática, apesar de todas as evidências do contrário.

Esse gesto suicida desorientou grande parte da população mundial, que se sente incrédula com a real possibilidade de um colapso climático.

Um efeito disso é a pandemia do coronavírus preocupar mais as pessoas do que a sua própria causa, como explica o professor de Mudanças Climáticas, Instrumentos e Políticas da Universidade de Turim, Marco Bagliani:

A epidemia de coronavírus se desenvolve em uma escala de tempo curta e respeita os períodos de atenção típicos, enquanto as mudanças climáticas variam em uma escala de tempo mais longa. Falando em espaços, a epidemia tem seu lugar: cidades, hospitais, um navio em quarentena, enquanto a crise em nosso planeta não se desenvolve necessariamente sob nossos olhos.

Por isso, a única forma de reagir ao negacionismo é com informação e usá-la para a criação de um laço de pertencimento que nos faça aterrar naquilo que temos em comum, nosso terreno de vida.

Recriar o comum

A desesperança da Geração Z nasce justamente dessa ausência de um espaço comum que a promessa da globalização ajudou a criar.

Embora o mundo possa parecer pequeno para os nossos sonhos e desejemos estar em contato com o Outro, todo mundo parte de algum lugar.

Os “doomers” parecem não saber de onde são e nem para onde vão. Essa desorientação afetiva fez com que eles se sentissem desterrados.

É preciso que eles e todos nós aprendamos, juntos, como aterrar recriando um espaço comum de vida.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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